EDGAR IDALINO – UMA VOZ QUE FOI SILENCIADA

O meu primeiro voto foi nas eleições de 1982. Ainda havia resquícios da ditadura militar, mas Condado já tinha candidato a prefeito pelo PMDB. Contrariando meu pai, que era grande amigo dos candidatos do PFL, eu votei no candidato a prefeito do PMDB. Naquele tempo o PMDB era um partido sério.

Eu era amigo de Edgar Idalino e tinha muita admiração pelo seu jeito espontâneo de ser. Fotógrafo profissional e repentista amador, Edgar era um cidadão muito comunicativo e corajoso, pois tinha disposição de ser muito crítico na defesa da seriedade na política e nos direitos dos pequenos assalariados.

Eu gostava dele como político e acreditava nos seus ideais de justiça, mas não votei nele para vereador. O procurei durante a campanha e lhe disse: “Não vou votar em você porque tenho certeza da sua vitória. E como eu sei que precisamos fortalecer a bancada do PMDB, vou votar em outro grande amigo meu. Votei no meu amigo Manoel Galdino.

Ele não guardou rancor. Agradeceu minha sinceridade e desejou que eu estivesse certo, ao dizer que ele seria eleito. E ele foi eleito. Fiquei feliz e o enviei um cartão parabenizando-o pela sua vitória.

Eu estudava agronomia na Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, e em 1983, estava fazendo um estágio na Cooperativa Agrícola Mista de Jupi, cidade do Agreste de Pernambuco, quando de repente, um colega me deu a notícia: “mataram um vereador na tua cidade, eu vi no jornal”. Eu procurei de imediato um jornal e recebi a bomba: Edgar Idalino foi assassinado sete dias após a sua posse no cargo de vereador. Foi um choque. Fiquei perplexo e sem ação. Naquele momento, eu não conseguia raciocinar. Era como se eu estivesse ouvindo sua voz me dizendo: “não poderei mais exercer o cargo que o povo de Condado me concedeu”.

Como eu disse no jornal “A ENXADA”, do qual fui fundador e Diretor, três anos depois de sua morte: “O crime foi comum, apesar de arbitrário, como todo crime o é. Mas a vítima não era comum. Não foi morto um marginal e sim um trabalhador, que começava a dedicar sua vida em defesa das classes menos favorecidas, exercendo o cargo de vereador na nossa Câmara Municipal. Foi morto não apenas um pai de família, mas uma criatura que lutava contra as injustiças e à exploração sofrida pelos condadenses. Tombou sem vida, não apenas um ser humano, mas um cidadão que era muito útil à nossa sociedade com seus trabalhos fotográficos. Foi assassinado um homem do povo que tinha um espírito festivo, a qualquer hora e lugar e que, acima de tudo, era um amante da vida”.

Há poucos dias eu conversei com sua viúva, D. Rita, nossa colega de trabalho na Câmara Municipal. Ela me disse que geralmente, na hora do jantar com a família, Edgar recitava uma “sextilha” muito interessante. Segundo o meu amigo, repentista Manoel Miguel, essa poesia é do grande e saudoso cantador Manoel Xudu, e diz o seguinte:

“Eu sou pai de cinco filhos

Que a natureza me deu

Quando eu compro seis pães

Cada um ganha o seu

A mulher agarra um

Só quem se lasca sou eu”

Essa foi a forma que encontrei para homenagem um dos nossos mais bravos e combativos companheiros, o meu amigo, Edgar Idalino. Um vereador que o povo elegeu, mas não teve o prazer de vê-lo atuando no cargo.