Pais e Filhos

Certo dia disse Jesus: amai-vos uns aos outros como eu vos amo. Mas na realidade dos dito tempos modernos, a família – com imensa exceção –, desliza no obscuro abismo da incompreensão e tudo segue no caminho oposto ao divino ensinamento. Pais e filhos, de hoje, não mais se entendem e nem se amam como outrora, e os valores da família segregam-se; invertem-se velozes e desordenados por trilhas duvidosas e inimagináveis. Muitos desses filhos são órfãos de pais vivos, pois foram concebidos na irresponsabilidade de um amor transitório; amor de ilusão e incompreensão, por isso todos sofrem os dissabores da intolerância e da desunião, esta, muitas vezes regada com o sofrível orvalho efervescente das lágrimas.

A desordem se apodera assustadoramente no núcleo da família e esta adquire toda incapacidade de se autodeterminar. Muitos pais e filhos trocam ideias opostas aos costumes milenares e se enlameiam num desrespeito assustador. São pais que ora relutam para serem amados e filhos que ordenam no desamor, sem ao menos assimilarem os dissabores que lhes afluirão e que resultarão em tristeza e sofrimento.

Somos a última geração pós-diluviana a distorcer os valores e os costumes primários da família e a primeira a expor as sequelas herdadas de Caim: filhos matando pais e pais matando filhos. Chamemos a isto de desfragmentação do amor. Amor de sonhos inconstrutivos; amor de família sem amor.

São Paulo, mai/2008

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 02/05/2009
Reeditado em 02/09/2018
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