Concursos Públicos: Existem alternativas de seleção?

Estamos acostumados com concursos públicos. Com as incertezas econômicas e a brutalidade fiscal que sempre estamos expostos, a alternativa do concurso para a função pública é atraente. Tanto mais num país onde o sistema educacional teima em formar empregados. Num mundo onde a relação capital-trabalho chamada emprego deve entrar na história como uma característica do século XX. Existia pouco antes, existirá cada vez menos depois.

Como os concursos são uma constante na vida do brasileiro, certos padrões foram estabelecidos. E raros os concursos que fogem a esses padrões. Uma prova de conhecimento específico, outras de português, matemática, algum conhecimento em legislação também específica, alguma coisa de raciocínio lógico. E, olhem, isso já é evolução. Pois nos concursos dos anos 70 e 80, as provas eram mais um vestibular mesmo. E começaram as distorções. O Banco do Brasil, por exemplo, em cada concurso selecionava candidatos capazes para os cursos de Medicina, Veterinária, Odontologia, Direito e outros não tão cotados. Infelizmente, poucos desses candidatos eram preparados para o que o Banco precisava: bancários. Situação similar se repetia na Polícia Federal, INSS, BNDES, Emater e outros tantos órgãos que selecionam via concurso.

Mas os concursos se arrastaram imutáveis. Ou quase. Na verdade, serviam no mais das vezes para justificar as contratações dos apaniguados, dos "amigos do Rei". Saciavam, na classe média, o desejo do tão almejado emprego. Pouco importava que o rebento de tal família tinha pendão para isso ou aquilo. Importava é que estava empregado. E com direito a aposentadoria. Complementada, claro. Aposentar-se pela CLT é coisa de proletário. Assim, temos ainda hoje – e talvez cada vez mais – professores que o são pois foi nesse concurso que foram aprovados. Se o fossem como bombeiros, ou policiais, ou bancários, ou... tanto faria. Afinal, estão na carreira por falta de opção, quase nunca por opção.

Num repente, uma universidade lá longe, ainda em fase de sedimentação, no sul do sul, tem a ousadia de apresentar uma proposta diferente. Precisando complementar seu quadro de servidores técnico-administrativos, prepara um concurso. Não se confirmou ainda, mas parece que a coisa é diferente. E muito. Não fará provas de conhecimentos específicos. Fara provas que envolvam um conhecimento maior da geografia, da política, da etnia, da organização social da micro-região onde se insere. Absurdo dos absurdos. Mudar a "regra" mantida pela tradição (sic)!

Mas vamos lá. Pensar um pouco. Prova de conhecimentos específicos? Que diabos, o candidato passou onze anos de ensino médio. Sendo avaliado mensal ou bimestralmente. E foi aprovado em todas as séries. Agora, uma prova qualquer, aplicada em uma única manhã de domingo – geralmente concursos são assim – vai jogar por terra todo esses anos. Se o candidato concorre ao nível superior, então é portador de, no mínimo, uma graduação. Mais quatro, cinco ou seis anos, se não mais, de avaliações. E aprovado, tanto que se graduou e obteve o diploma. E aquela provinha do domingo pela manhã, marcada pela pressão financeira e familiar, pela concorrência insana devido ao número de candidatos joga tudo no lixo. Se for pós-graduado, mais um, dois, três e até quatro anos. E escorrega na provinha de domingo.

Quer dizer, se professores ou uma universidade acham que essa seja a forma mais acertada, tanto essa instituição quanto seus professores estão declarando sua incompetência. Tudo que ensinaram, todas as provas e trabalhos que aplicaram e que definiram conceitos de alunos não valem nada. Vale é a provinha de domingo. Pensem bem sobre isso. É grave demais.

Mas, parece, que um paradigma está sendo quebrado. Consideram-se de forma igual as graduações, os diplomas que trazem esses candidatos. Conhecimentos específicos foram adquiridos nas faculdades e universidades. Disponibilizados de forma eqüitativa entre todos que as freqüentaram. E todos foram aprovados. Ponto final. Obtiveram o diploma e é o que lhes permite desenvolver uma profissão. Estão nivelados os candidatos.

Só que o problema é outro. A instituição precisa selecionar entre os candidatos inscritos, os que mais "encaixem" no perfil adequado. E que perfil é esse? Bom, primeiramente, é uma universidade pública. Assim, como não pode deixar de ser, o fato do candidato entender a real dimensão do que seja a coisa pública é imprescindível. E a dimensão do serviço público. Embora possa surpreender alguns, serviço público não é aquele posto criado para alguém ganhar um salário e se aposentar. De preferência sem trabalhar muito. Serviço público é o que o nome diz: servir ao povo. É, gente. Servir àquele povinho sem muita cultura, sem muita higiene, que se expressa e se veste mal. Sem ter essa consciência, qualquer candidato ficará frustrado. E, creio eu pois não tenho o tal perfil em mãos, seja importante o conhecimento da região onde a instituição está estabelecida. De forma a realmente poder atender as demandas dos diversos grupos sociais e étnicos que formam nosso povo.

Não sei se essa instituição realmente terá a audácia de quebrar esse paradigma. Mas, se o fizer, estará criando um novo caminho, uma forma mais inteligente de valorizar faculdades e universidades, fazendo com que todos entendam sua parte da responsabilidade na formação profissional.