Gosto se discute?

Gostar, é nesse ponto que a maioria das pessoas entram em conflito. Umas gostam outras não gostam e acabam entrando em discórdia, ambas desenvolvendo argumentos, de certa forma muito convincentes, para que a outra mude de opinião e concorde.

Esses conflitos acabaram gerando uma indagação que “atormenta” a cabeça das pessoas: Gosto se discute?

Gostar é uma coisa muito própria de cada indivíduo. Todos pensam de forma diferente, agem de forma que faz a diferença, e porque não ter gostos diferentes? Só porque uma pessoa acha uma roupa ou um sapato bonito não quer dizer que você também tem que gostar. Você tem seu estilo e sua opinião em relação a isso.

Mais em relação à Arte? Gosto também não se discute?

Antes de julgar bom ou ruim, bonito ou feio, se gosta ou não gosta, as pessoas têm que analisar a obra.

Para muitas pessoas algo é considerado obra de arte quando esta transmite bons sentimentos e traz uma sensação agradável. Quando não atendem a essa “exigência’’ popular, não são obras de arte apenas umas perdas de tempo”.

Para outros, obra de arte é qualquer coisa, um desenho, uma pintura, um texto... Desde que transmita sentimento.

O homem se apodera da natureza transformando-a, pinta o que sente ou vê, escreve livros baseados em algo imaginário ou real, faz músicas ou poesia expressando o que desejaria da vida.

Mas o que este procura com essas ações?

Em geral comunicar-se. Expressar-se diante do mundo. Manter um elo entre o mundo e o seu interior.

Encontramos público tanto para as obras de Da Vinci, apreciadores de ópera, “fanáticos” de achados históricos, como encontramos pessoas que se satisfazem por pintura de anônimos; cantigas populares, gostos que vão do clássico ao informal, ao popular, daí percebe-se que o gostar de cada um não é imposto, é uma coisa que vem de dentro, é sua. Ninguém lhe diz “goste de verdura porque verdura é gostoso”, e se você experimentar e achar ruim vai ter que dizer que é gostoso. Você tem sua opinião e essa opinião tem que ser aceita, independente se concordada ou não.

Uma determinada expressão artística feita por qualquer pessoa, pode ser considerada Arte? Ou só são consideradas Arte aquelas produzidas por artistas consagrados como os do Renascimento ou contemporâneos? Quem determina o que é Arte?

O prazer de uma pessoa pelo quadro dos “Retirantes” de Cândido Portinari, pode não ser o mesmo de outra pessoa que admira “O grito” de Munch.

Será que um amontoado de formas esculpidas em pedaços de madeira, aço, ou projetado numa tela poderá causar boa apreciação por alguém e só a partir de tal impacto ser considerada Arte?

Se for desta forma, então arte é algo causador de sentimento, de surpresa, fascinação... Mas se nada disso for provocada em uma outra pessoa à produção deixará de ser arte?

Talvez a apreciação de uma pessoa por um determinado aspecto seja o desprezo de uma pessoa pelo mesmo.

Ao analisar uma obra de arte, algumas pessoas apreciam outras depreciam, algumas elogiam, outras criticam, umas gostam outras não. Não é porque é uma obra de arte, que você tem que gostar. Você tem sua concepção do que é belo, do que desperta emoção. Você tem seu gosto. Alias, todos têm um gosto próprio. Assim como as digitais de cada dedo são diferentes as pessoas também têm opiniões diferentes.

Certos tipos de Arte não são entendidos nem “aprovados”. A exemplo a Semana de Arte Moderna, onde a maioria de seus artistas foi criticada e muitos consideraram suas obras como ruins, irreais.

É através da Arte que o artista cria, a partir da época em que viveu, do estilo de vida que o mesmo teve e das suas perspectivas, expressando o que sente.

O gosto por uma música, quadros, obras, livros são apreços que se criam dentro de cada pessoa, é algo o qual não se pode forçar, constroem ao decorrer do processo de formação pessoal.

O ser compatível com determinado estilo depende não só da forma de algo a ser expresso, como também do contexto em que o indivíduo vive.

A massa popular pode achar mais interessante uma novela ao teatro, um pagode ou brega mais interessante que uma Orquestra Sinfônica ou MPB, um romance mais interessante que uma que uma tragédia.

Identificar-se com algo depende tanto da experiência individual quanto do desenvolvimento social em que o indivíduo está inserido. E uma maneira de ver ou pensar não são apenas resultados de aperfeiçoamentos, mas também do decorrer de novas realidades da sociedade. A sociedade e o estilo andam juntos, no sentido que, quando dividida em classes ou comunidades percebemos que as pessoas são reunidas a partir do interesse que lhe são comuns.

No ponto de vista artístico, há sempre uma discussão em torno de uma obra artística.

Diante de uma pintura, romance, escultura ou peça de teatro, indivíduos agem de diversas formas, pois algumas obras transcendem o valor que o próprio artista lhes atribuiu.

A imaginação, o universo e o momento que o artista vive e concebe uma obra de arte, abre um leque de discussões entorno da sua obra. Os críticos, observadores comuns ou simplesmente espectadores, podem, em momentos diferentes, julgar a mesma obra de arte com pontos de vista contraditórios.

Uma pessoa leiga que olhar uma obra de estilo Barroco, ou seicentista, não vai saber a verdadeira essência daquela obra. A interpretação desta vai ser feita levando em consideração o lado subjetivo do examinador, ou seja, aquela obra vai ser vista não com os olhos da época em que foi criada, pela real intenção de quem a criou, mais sim, vai ser olhada com os olhos da sociedade atual e, de fato, não será interpretada como realmente deve ser.

É preciso conhecer para interpretar.

Agora, se esta mesma obra for examinada por um especialista nesse assunto, a obra de arte despertará muita emoção. Porque o especialista sabe o que um tipo de obra, como aquele, representa para a sociedade, ele sabe porque e como foi feita, qual a intenção da realização daquela obra e, alem de tudo, ele saberá a verdadeira linha de raciocínio para gostar de uma obra de arte ou não.

Tudo isso porque o grau de subjetividade, que se dá por meio da imaginação criativa, que inquieta o artista, traz à tona sentimento e idéias do subconsciente a respeito do que o mesmo criou ou observa.

Então, encontramos nesse ponto, o cruzamento do seu intelecto (consciente) e sua espiritualidade para formular um conceito para julgar a sua obra e as de outros artistas.

Reside daí, um dos prazeres de fazer e discutir sobre Arte. Portanto, nesse sentido, gosto não se discute.

Essa opinião pode diferir, inclusive dependendo do sexo, idade, classe social ou raça, porque existem especificidades em cada uma desses apreciadores, que podem chocar-se ou convergir para um mesmo ponto de vista.

Vários são os modos que um escritor pode usar para fazer uma obra, dependendo do tipo de público que ele deseja atingir, ou seja, sempre haverá um grupo desejado e um outro não afetado.

A diversificação de obras literárias é grande, assim, um leitor pode gostar de Clarice Lispector e não gostar de Gregório de Matos, são dois mundos completamente diferentes, ou preferir Mário de Andrade à Machado de Assis.

Contudo, por Literatura ser algo de origem imaginativo, deixa um espaço para o criador textual construir algo que será do seu apreço.

É essa a essência da Arte, ser examinada de um modo intersubjetivo, entrar em contato com o mudo entre o analisador e o autor, olhar sem dar, de imediato, a sua opinião, levando em conta todo o contexto histórico em que está inserida, sua característica, verdadeiras intenções do autor, em fim.

Arte é Literatura e Literatura é Arte, uma não é nada sem a outra. Então, todo tipo de arte deve ser examinado levando em conta sua literaturidade, todos os elementos que serão considerados para uma análise precisa e racional da obra.

Dito isto. GOSTO NÃO SE DISCUTE! Mas antes de qualquer crítica, de qualquer comentário, a obra de arte tem que ser verdadeira e realmente interpretada para que a classificação entre bom e ruim não seja feita de modo injusto. Mas de certo modo não existe uma má obra de arte, uma obra de arte “feia”, todas, aos olhos de seus criadores, são belas. O que existe é o “Belo Feio”. Agora cabe a cada analisador essa distinção. “Gostar ou não gostar? Eis a questão”.

Jpassis
Enviado por Jpassis em 19/05/2006
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