ESCREVER POESIA

Perguntam-me, muitas vezes, como faço para escrever poesia. Invariavelmente respondo que só sei fazer poesia quando fico com a inspiração atiçada. Seria difícil explicar a um leigo, em poucas palavras, a arte de poetar.
Sei que o que direi a seguir é sabido de muitos poetas e não o é de quem se acha poeta.
Escrever poesia é uma arte e toda a arte exige trabalho, muito trabalho. O poeta é, antes de mais nada, um leitor de poesia.Quem mergulhar em obras como são as de Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, João Cabral de Melo Neto, Vinícius de Morais, para só ficar em alguns dos nossos brasileiros, sairá de cada mergulho um pouco mais poeta. Depois nunca mais se preocupará em apenas rimar, apenas escrever sobre o amor que sente, como o sente um adolescente todo romântico. Quantos compõem um poema com quatorze versos pensando ter feito um soneto? Sem a mínima noção de versificação como métrica, ritmo, escanção silábica - conhecimentos sobre versos alexandrinos e decasilábicos - apresentam poemas, mas nunca verdadeiros bons sonetos. 
Drummond e Quintana fazem, em sua própria poesia, constantes reflexões sobre a dificuldade da arte poética. Cito uma frase não minha, mas sem lembrar quem a proferiu: na arte literária 10% é inspiração, 90%, expiração, ou seja empenho. 
Um belo poema pode ser somente belo, mas um bom poema deve ter, além de beleza, um sentido que atinge a alma, o coração e a própria razão. Sempre considerei que mensagens de auto-ajuda não tem nada de poesia. Conselho não se dá em poesia, seria querer ocupar um espaço sagrado demais para esse fim. O espaço da poesia é um templo cheio de incensos, ar divino, onde as metáforas, a sinestesia, os eufemismos, as prosopopéias, as catacreses e até as hipérboles encontram o ambiente perfeito para entrar na linguagem e sair voando ao encontro das almas e dos corações sedentos de poesia pura para ser sentida e não imposta.
Se alguém quiser saber como faço poesia, então anote:
- leio poesia todos os dias,
- penso que a vida pode ser a poesia,
- busco na vida a inspiração,
- faço escala dos temas que me aparecem, 
- procuro evitar a insensatez, embora a dos outros possa ser útil,
- não me entusiasmo com o que escrevo, 
- releio tudo, 
- apago tudo, esqueço tudo,
- então começo a escrever e não releio mais.
Se o poema ficar bom, os leitores vão dizer. Só lhes ofereço o prato que eu mesmo aprecio.
Se é assim que escrevo poesia?
Julgue você por poemas meus que já leu...
                                                        Prof. Roque