Marquês de Condorcet

“Uma bela tarde em Paris, pelos fins do século XVIII, homens importantes da época reunidos na casa de distinta personagem”. Assim o escritor Bulwer Lytton, em seu romance Zanoni, ambienta um breve discurso de Condorcet, à época com grande reputação. E o nobre francês de nascimento, ali transformado em personagem, falou com toda a eloqüência:

“É absolutamente necessário que a superstição e o fanatismo cedam lugar à Filosofia. Os reis perseguem as pessoas, os sacerdotes, as opiniões. Quando não houver reis, os homens estarão seguros; quando não houver sacerdotes, o pensamento será livre. Então começará a Idade da Razão! Igualdade de instrução, igualdade de instituições, igualdade de fortunas”.

“Sob a mais livre das constituições, um povo ignorante é sempre escravo”, escreveu certa vez o inspirado francês Marie-Jean-Antoine-Nicolas Caritas Condorcet.

Literato, filósofo, economista, matemático e político, sucumbiu numa prisão parisiense no ano de 1794 nas mãos dos terríveis jacobinos, liderados por Robespierre, depois de ter colaborado ativamente naquele movimento revolucionário, que pretendia acabar com os desmandos de uma monarquia abusiva, mas acabou tornando-se o primeiro grande movimento terrorista de que se tem noticia. “A arma da Revolução é o terror”, afirmava Robespierre, o pai de todos os terroristas, transformado em personagem na “Morte de Danton” do escritor George Buchner; e a Revolução Francesa o berço dos indignados, que imaginavam o terror e a violência resolvedores das desavenças que a inteligência e a sensibilidade humanas não souberam conciliar; e o inspirado Marquês de Condorcet, uma das mais ilustres vitimas do terror naquele tempo.

Condorcet concebia a possibilidade do aperfeiçoamento humano. Foi contagiado pelo otimismo e indignação de Voltaire, de quem foi editor, contra os impostores e ditadores. Em “Esboço de Um Quadro Histórico dos Progressos do Espírito Humano”, sua visão otimista fica muito evidente, contrapondo-se ao pessimismo de alguns pensadores da época. Foi vítima do terror por ser contrário à hegemonia ditatorial dos jacobinos - impostores de estreitas luzes, que até hoje têm assento em muitas instituições e não admitiam oposição de nenhuma espécie, se refestelando no poder indefinidamente. Considerava que o desenvolvimento humano não poderia coexistir com os preconceitos e as crenças, pois estaria alicerçado na liberdade de pensar; que o progresso coletivo dependia do individual, material e espiritualmente falando.

Condorcet idealizou a escola pública na França, modelo para todo o mundo; defendeu as liberdades da mulher, as aposentadorias e pensões, o combate às guerras, o controle inteligente da natalidade.

Com tantas ideias, vontade de viver e otimismo, morreu solitário nos porões do terror, sufocado pelo ódio dos poderosos, para os quais tudo se resume na riqueza e no jogo de seus mesquinhos interesses.

O que os impostores e os ditadores não compreendem é que os pensamentos criados pelos Condorcet sobreviverão e chegarão às mentes de muitas pessoas no futuro, transportando os ideais de progresso e aperfeiçoamento humanos através do fomento ao estudo e à educação; e que violência alguma conseguirá calá-los. Os homens do futuro poderão liberar-se das amarras seculares que engendram os ódios, os rancores e as guerras.

A humanidade deve muito ao Marquês de Condorcet e haverá de honrar a sua memória comungando com os nobres ideais que inspiraram a sua vida.

Nagib Anderáos Neto

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