Sobre Deus
 
 
Não creio que seja possível um entendimento racional de Deus, com o olhar humano. Mesmo que munido de efetiva boa vontade, e até mesmo por necessidade de, como um pastor, arbitrar ou julgar para dar respostas ao seu rebanho, busca-se a letra, mas não o espírito da letra....
Compreendo, em parte, o sacrifício de Jesus. Sim, em parte, pois sinto faltar algo. Para poder expressar a sua missão teve que renunciar ao mundo de César. E quanto aos cristãos, como foi o caso dos primeiros, também o fizeram, e serviram de alimento para as feras nas arenas romanas. Tal atitude de renúncia é exemplar. Porém, como se posicionar dessa forma num mundo competitivo e humano?
 Hoje, um indivíduo que adote tal atitude estará sujeito aos delírios de seus algozes...O bem não produz respeito ao que é mau de fato, e aquele que é, que está no caminho das trevas, tem boas razões para sentir-se confiante.

O bem e o mal são conceitos que não conseguem expressar a divindade, embora esta se expresse por revelação, no sentido da Justiça de Moisés, e na integração da Justiça ao Amor por Cristo. Isto é por demais transcendental, longe da razão humana. Por detrás do expresso, profunda verdade, mas só conseguimos ver rascunhos.
Amor a Deus é algo complexo. Em parte, também envolve odiá-Lo; não o ódio comum dos mortais, mas o da incompreensão à Sua Vontade. Assim.
Creio que de fato amo a Deus, estou disposto a renunciar a mim, para que Ele continue a existir. É nesse sentido que falo da morte, da exaustão, pois que a mim, mais do que prazer, a Divindade tem sido um teste, um desafio ao meu amor, uma necessidade de testemunho: antes eu ser do inferno, do que Ele não existir. Antes eu ser banido, do que Ele não estar presente. Antes eu perder minha esperança do que matar a esperança dos outros da Sua Existência. Almejo o bem, sou propenso ao que suponho ser o bem. Longe de ser bom, mas almejando o bem. Não gosto do mal, odeio o mal, sou suficientemente atrasado para desejar destrui-lo. Talvez desafie a vontade de Deus contra esse mal, como um tolo que não suporta ser humilhado, mas a Vontade de Deus assim não quer. O reencarnacionismo dá a possibilidade da continuidade evolutiva, e isso, se não justifica o mal como algo divino, ao menos nos faz menos arrogantes ao sentirmos que desejamos o bem. Também o mal é divino; não fosse Deus, não seria o Criador, só Ele cria. Mas é muito difícil entender isso humanamente. Não sei se ainda terei tal oportunidade. Ao menos a vida, ao não me retribuir a parte de meus esforços, deixa viva a dor para me dar um profundo senso de realidade.
Se isso é bom ou ruim, não sei. Hoje, em verdade, não desejo tanto saber. Nisso reconheço os meus limites que antes não quis aceitar. Minha humanidade está cheia de ser humana, meu espírito está cansado de ser espírito, e nisso me justifico: acuso que existo, mesmo que a contragosto, sensação que em muito antecedeu os acontecimentos de minha vida. Estou vivo por dever, irrita-me não conseguir cumpri-lo, irrita-me pensar que fui iludido, que não segui um caminho, ou que renunciei a outro por ter sido enganado, e não por ter tido o exercício de meu livre arbítrio. Sei que são palavras sem um sentido objetivo, mas são elas que brotam da minha subjetividade. O que é certo, ou que é errado em relação ao Divino fica cada vez menos claro de se entender. Assim é que objetivo o silêncio, quero devolver a quietude às revelações individuais por que passei. Tê-las é apenas manter estímulo à solidão. Um jogo entre certeza e dúvida que só pode ser “resolvido” pela fé, e portanto, sem solução, pois o crer ou não crer é sempre relativo. E já não creio na possibilidade de verdades absolutas, mas somente de revelações parciais......

 
 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 23/05/2009
Reeditado em 14/06/2009
Código do texto: T1610282
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