A força dos ideais e o poder dos reais

O abuso do poder econômico e do poder da entidade pública torna as eleições favoráveis às alas elitistas e aos detentores dos cargos executivos no Brasil, caracteriza-se uma injustiça corriqueira e que toma nuances comuns por acontecer freqüentemente sem impedimentos, perpetuando um sistema tirano e banal.

No meio de um país que vive uma crise econômica e social se desenrola o processo político de forma democrática na teoria e antidemocrática na pratica. Vindo do principio que o poder econômico reflete diretamente nos resultados das eleições podemos constatar que quem tem menor poder econômico tem menores possibilidades de se eleger e quem não possui poder econômico não possui possibilidades, ou seja: Existe uma exclusão social e política que atinge o seio da classe pobre. O processo político exclui os já excluídos.

Reformas política, tributaria, sindical, agrária, fiscal, econômica, trabalhista, educacional e cultural poderiam tornar o sistema mais justo e igualitário.

A Correia do Sul é tida como um país capitalista e tem a renda per capita aproximadamente igual a do Brasil, todavia o sistema agrário da Correia do Sul torna inconstitucional um cidadão possuir mais de três hectares de terra, enquanto no Brasil 1% da população detêm 50% do território nacional e onde 2% detêm outros 20% de terra. A terra é um bem da humanidade e necessita ser democratizada.

O Brasil seria suficientemente capaz de alimentar toda a America Latina com o seu potencial agrícola e mantém suas exportações em alta, enquanto isso exibi-se um país disposto a alimentar o mundo, mas incapaz de alimentar a sua própria população, que vive em uma grande parcela, desnutridos e afogados abaixo da linha da pobreza. Um país rico de povo pobre e mal alimentado.

O Brasil obteve uma revolução positiva no parâmetro cultural depois da década de 80 e assim que o regime autoritarista da ditadura militar se dissolveu a evolução na musica, no jornalismo e na educação foram possíveis. Tínhamos críticos, sociólogos e educadores. E hoje o que temos?

O mercado dita às regras do consumo desenfreado da cultura da “cachaça e da bunda” – assim classifica o interprete e cantor potiguar Izaque Galvão.

Tantos são os problemas e tanta é a corrupção alojada como uma bala no coração da pátria que o cidadão chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto como analisava Rui Barbosa, e tudo isso em consonância com a letargia que atinge a população que padece por nada fazer.

"Leis são como teias de aranha: boas para capturar mosquitos, mas os insetos maiores rompem sua trama e escapam." – Sólon parecia enxergar o sistema judiciário e a caduca constituição brasileira antes de afirmar esta celebre frase.

O Brasil que já colocou o presidente Fernando Collor de Melo para fora do Palácio do Planalto através de impeachment com o movimento dos caras pintadas, hoje parece não mais se importar com nada, ao não ser com a própria vida e com o próprio umbigo, uma população cada vez mais individualista e indiferente aos problemas de interesse nacional, toma conta da nossa sociedade, já tão deturpada.

O Brasil pede socorro e a população finge que os gritos desesperados da nossa nação são apenas o barulho do vento batendo na janela do quarto.

Poucos reais compram muitos ideais e por ai se sucede a institucionalização da corrupção que acaba se tornando peça irredutível da cultura brasileira e instrumento de desfiguração do caráter do cidadão.

Apenas quando a dignidade se tornar um vírus como a AIDS que entra, acaba com as defesas e imunidades, mata e enterra a corrupção é que poderemos vislumbrar o poder dos ideais rompendo as fortes barreiras dos reais e dos bilhões públicos nas contas pessoais.

Ai a partir deste ponto existirá sim a verdadeira e plena democracia, quando os ideais respirarem e os reais não mais sufocarem a vida e a luta dos homens de bem.

Modesto Cornélio Batista Neto – Escritor e estudante do curso de História da UERN.