Cassino.

O espaço é fino e a alegria contagiante. Taças borbulhantes regam os paladares refinados onde os decotes avantajados, as roupas transparentes e os perfumes exóticos predominam. O efeito luminoso, o vermelho e preto das cores dão um clima sensual liberando a libido até então esquecida, que graças aos estímulos visuais e alcoólicos se tornam ardentes. Mas, para tudo há um preço e, através de alto custo, solitários e aventureiros revivem emoções esquecidas. Tudo é permitido, desde os mais lascivos desejos às aberrações impensadas. Sendo um ambiente onde o que importa são os trajes adequados e os proventos financeiros, há igualdade de direitos; portanto, não há distinção entre raças e sexo. Dispondo dos dotes necessários todos são bem-vindos. Como entretenimento se dão aos jogos onde a sorte é lançada nos dados, nos caça-níqueis, nas roletas e nas cartas. O cassino reúne dois grupos distintos: os esperançosos e os senhores com suas roletas de sonhos.

Paralelo a esse seguimento, tem-se a cúpula social onde seus líderes, como espertos jogadores, tramam inúmeras combinações exploratórias a seus subordinados. Os lucros são rateados entre os chefes e, para alguns ganhadores, muitos otários pagam a conta. Como num cassino, é necessário que os convivas falem a mesma língua e portem trajes adequados para que, juntos, bebam do mesmo vinho. Nesse prisma, a justiça com seus intérpretes, espolia os desinformados (a maioria) fazendo se lenta e tendenciosa. O poder temporal, apegado ao passionalismo que o alicerça, faz-se um peso morto, omisso às conquistas científicas. Os políticos, com seus jogos de incertezas, usam como armas: as mentiras e os conchavos. Como experiente meretriz, usando de vãs promessas, atos e voz sedutora, atrai seus clientes para explorá-los nos momentos adequado. Por fim, os idealistas. Sedentos de poder, os incansáveis pregadores, enchem os pulmões e semeiam aos sete mares as glórias da sabedoria; os ditos e feitos que a massa ignorante não absorve por viverem atrelados à minoria exploratória, a mesma elite que troca os mísseis teleguiados pelo diálogo concreto nos momentos decisivos. Se, nas casas de jogos, as luzes dão ao ambiente um clima sensual; na sociedade, os holofotes da imprensa apressam decisões e causam recuos criando mitos e rancores. São como cartas que, com seus naipes e manias, criam um jogo aliciante e perigoso e, sendo poucos reis para muitos súditos, batem cabeças ao pregar a unidade onde as desigualdades são gritantes. Em ambos os casos, o povo vive momentos de expectativas, pequenos lucros e perdas memoráveis. Evidencia-se também que, o jogo em si, se não manipulado, pode ser honesto, pois os versos das cartas são iguais. Não há um desejo da realização dos seres humanos, mas a vontade férrea dos líderes que tudo fazem para se manterem no poder; sábio mesmo é o exemplo de que, um cordão só se rompe em sua extremidade mais fraca.