Educação e inclusão.

Durante muito tempo se falou de inclusão. Não obstante, a sensação que ainda permanece quando usamos tal conceito é a de que estamos diante de uma temática que se relaciona com o agora.

A pedagogia, sobretudo, deve buscar uma perspectiva filosófica e histórica para compreender a discussão elaborada por tantos pensadores. Educadores, sociólogos, romancistas, pensaram e escreveram sobre o tema. Alteridade, desigualdades, o estranhamento, a tensa relação do eu com o outro, enfim, tantas e tantas referências que estão ligadas à idéia da inclusão. Afinal, tudo depende de como definimos quem é o outro.

Nossos bárbaros enfrentam muitas e colossais muralhas na educação. A tecnologia, por exemplo, adquiriu uma extensão muito maior do que a muralha de Adriano ou mesmo a da China. Mesmo nesses tempos de predomínio de um discurso politicamente correto, não é muito difícil identificarmos inúmeras expressões de preconceito e intolerância. A intolerância continua como característica marcante da nossa sociedade. As nossas próprias instituições concebem o espaço e o tempo de maneira a organizar a sociedade com as barreiras necessárias para conter qualquer distúrbio da ordem.

Não imaginemos, porém, que tais mecanismos se aplicam somente a grandes questões políticas ou grandes contingentes organizados por valores ideológicos muito bem definidos. Podemos sentir a exclusão do outro na rotina da escola e mesmo no trajeto da casa para o trabalho. Não incluímos a diferença nas imagens que predominam nas avenidas da cidade, na arquitetura sempre igual dos centros urbanos, nos modelos tão parecidos dos nossos carros, na linguagem também tão semelhante utilizada para o essencial e na fruição do tempo, que parece não admitir a inclusão de nenhum outro tipo de experiência.

Nossa miséria relaciona-se com a não compreensão do outro. Nego-o de tantas formas que tal negação torna-se automática. Trata-se de uma perigosa regressão que precisa ser considerada pelo estudante de pedagogia na sua práxis. Afinal, não se trata apenas de um objeto de investigação para o pedagogo, mas de algo que também o afeta. Todos somos vítimas do modelo excludente que se impôs. No melhor estilo da ficção científica deixamos de “existir” quando isso for conveniente. Como no romance de George Orwell, 1984, o pensador brasileiro Josué de Castro “desapareceu” por décadas após o golpe de 1964. Ironicamente, no tempo das mídias, o silêncio tornou-se uma arma ideológica ainda mais poderosa do que o encarceramento ou a tortura física.

Os cursos de pedagogia deveriam, a partir de diferentes referências e experiências, contribuir para que o aluno refletisse sobre sua situação diante de uma sociedade que busca destruir o sujeito autônomo. Aliás, de modo sintomático, nossa própria instituição e seus estudantes não são vistos, muitas vezes, como bárbaros? A inclusão envolve a tomada e o controle do capital cultural que permanece como privilégio no Brasil. Isso ainda é algo que muitos, dentro da academia, não toleram. Seu desdém não pode ser compreendido sem referência a nossa estrutura cultural. A inclusão do aluno que não é da elite provoca a repulsa e o riso dos privilegiados que preferem tratar o seu povo como pobres coitados.

O desafio que propomos ao pedagogo é questionar e quebrar tal lógica de dominação.

Prof. Dr. Matheus Marques Nunes.

Marques Nunes
Enviado por Marques Nunes em 02/06/2009
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