O peixe e a frigideira

Há certos temas que merecem uma atenção maior e que, portanto, devem ser exemplificados com alguma forma de memorização mais marcante, assim nada melhor do que através de uma estória ou lenda. Vejamos então um pequeno conto, muito interessante, que irá ilustrar o que estou afirmando: ”Um executivo de uma grande empresa, depois de muitos anos exaustivos de trabalho, resolveu tirar férias para pescar, indo pois se hospedar em um hotel fazenda, bem longe da grande cidade. Como ele nunca havia pescado em sua vida, solicitou à direção do hotel que lhe indicasse alguém que o pudesse acompanhar, assim foi-lhe apresentado um senhor, já de meia idade, que era um pescador nato, conhecido por toda a redondeza. Já na beirada do rio, após a preparação de todo o material de pesca e algumas tentativas, o senhor começou então a pescar alguns peixes, com certa facilidade, passando ao executivo os ‘segredos’ de uma boa pescaria. Após algum tempo, o executivo observou que o pescador, a cada peixe fisgado, media o seu tamanho com a palma da própria mão, jogando de volta ao rio os peixes maiores, guardando os menores no bornal. Interpelado pelo hóspede, o senhor explicou: _Acontece que eu separo para levar os peixes que sejam no máximo do tamanho da minha mão, porque os maiores não caberiam na frigideira que tenho lá em casa”.

Antes de analisarmos a mensagem que a estória está passando, vejamos alguns fatos que demonstram a mentalidade dos povos, na atual conjuntura mundial, que nos dão subsídios em profusão para “azedarmos o pudim”, porque é muito grande o número de pessoas que estão preocupadas em saber em que ano o jogador Pelé marcou o seu milésimo gol, ou então quem ganhou o primeiro BBB, ou ainda se existe alguma hipótese da volta do estilo “godê-guarda-chuva” para uma próxima temporada “fashion” – pouquíssimas pessoas estão procurando saber os porquês da incrível desordem moral, política, social, financeira, econômica, familiar, profissional, científica, agrária etc., que estão dando mostras de verdadeira calamidade pública, e o que fazer ou como contribuir para a mudança desse estado de coisas, antes que não haja mais volta. Devido a tudo isso, os meios de comunicação investem pesado em tudo que satisfaça as escolhas do povo, pois é esse o caminho para eles poderem competir no mercado de informações, porque é por aí que caminha a sobrevivência da mídia, essa a razão da preocupação no acompanhamento estatístico do IBOPE.

A quantidade brutal de lixo informativo, de cultura inútil, de pequenez criativa e de demonstrações grotescas, as quais somos bombardeados todos os dias, são apenas e nada mais o resultado das escolhas daqueles que não estão preparados para receberem algo mais do que isso, que, infelizmente, são a grande maioria da população mundial! _Fala sério, assim fica difícil.

Voltando à pequena estória, podemos então concluir que o povão está precisando aumentar a sua “frigideira”, para assim criar condições de assimilar conhecimentos úteis e importantes para a sobrevivência da espécie humana, e para chegarmos um dia à condição de moradores do Mundo Ideal. Aquele que continuar indefinidamente jogando fora os “peixes” maiores, para se manter com os pequeninos, estará mesmo assinando o próprio atestado de óbito espiritual – isto é muito sério.

A mídia é o melhor canal informativo para nos prover de toda espécie de cultura, sejam “peixes” pequenos ou “peixes” maiores, basta nós escolhermos, basta querermos, basta criarmos espírito de busca, basta darmos vazão à visão ampla, assim nos preparando para auferirmos o crescimento da nossa individualidade, enfim, basta darmos IBOPE aos “grandes peixes”.

Seria muito bom se nunca tivéssemos tempo e nem interesse de consultar o “Guinness Book”, para sabermos quem detém o recorde mundial no campeonato de cusparada à distância (!?).

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 04/06/2009
Código do texto: T1631093