Com sangue e suor (M.ambiente)

A Natureza encontrou na fome, na morte, na dor e nos instintos, a fórmula ideal para que todos se mantenham em contínua subordinação.

Pode ser calor intenso, brisa mansa ou noite fria; seja nos vales ou pradarias, existe vida. As borboletas, as begônias; répteis que rastejam, felinos em busca de suas presas, pássaros de todas as espécies, os urubus ansiosos e temerosos a rodear a rês semidesfalecida... Nas savanas, os guepardos são seguidos à distância pelos gorilas e hienas. A habilidade felina é superior, por isso, outros predadores seguem suas trilhas em busca das sobras de caças e colhem delas os seus sustentos.

Em todos os lugares: na terra, no mar, no ar e nas lavas incandescentes dos vulcões, seres aeróbios e anaeróbios, variando de animais unicelulares a elefantes ou hipopótamos com algumas toneladas... tudo é vivo!

Aprendem, desde cedo, a própria comunicação. Entre eles vê-se abanar de caudas, ouvem-se grunhidos, rugidos, piar, cantar. A plumagem das aves segue o padrão de cada espécie; as folhas são próprias de cada árvore. Os pêlos tomam partes ou todo o corpo, segundo as suas necessidades. Mesmo tendo um objetivo constante a ser seguido, reservam momentos para os folguedos, principalmente, na infância, quando é o período de se aprimorar técnicas de lutas e de fugas. Aplicam parte de seu tempo em horas de entretenimento. Tem-se a "valsa" matinal dos flamingos, a dança solitária da avestruz, o corre-corre dos cães; momentos que aliviam a tensão diária. As raças cultivam certos padrões e obedecem a determinadas regras que abrangem a todos. A Natureza encontrou na fome, na morte, na dor e nos instintos, a fórmula ideal para que todos se mantenham em contínua subordinação. Assim, a libido não é estimulada só por apelos visuais ou toques íntimos, mas por hormônios que se desencadeiam no momento exato despertando, no subconsciente, um apetite desenfreado e o sexo vem seguido de perseguição, incesto; às vezes, é praticado de forma brutal e em ambientes hostis porque visa somente à necessidade de perpetuar a espécie.

Para a manutenção do corpo são lhes reservadas certas iguarias que variam de plantas e animais inferiores. Isso, no entanto, requer agilidade, astúcia e determinação; fatos esses que os mantêm em constante movimento para a árdua missão de consumir todo o excedente, tirar o sofrimento dos mutilados, deter o crescimento desordenado dos subtipos. Os herbívoros se encarregam das pastagens, dos arbustos. Os carnívoros se embrenham na busca dos filhotes, dos moribundos. Todos os frágeis e deserdados, incompatíveis com o grupo, são ceifados de forma natural de suas torturas: é a lei dos fortes em plena execução.

Administrando o medo que os protege dos perigos e da dor que os faz vulneráveis, enfrentam a morte para saciar a fome e os instintos. Não há pecado ou remorso, tudo é natural. A própria raça não se compadece ao cruzar com restos de carcaças esfaceladas ao relento; logo, serão devoradas, sem piedade, por outras castas e transformada em estrume. De volta a terra, far-se-á húmus que irá alimentar as algas, os microorganismos, os musgos ou as simples gramíneas que, por sua vez, serão os sustentos de outros viventes em plena ação. O objetivo dessa seqüência é uma vida farta, com ares puros, rios com águas limpas, vegetação em abundância e o céu, quando límpido, azul. O ato de viver e preservar, verbos conhecidos, mas impraticáveis por tantos; os brutos, com suas “bestialidades”, já os conjugam de forma correta há milênios, mas os homens, providos de sapiência e, sendo o topo dessa cadeia, não. Tendo a responsabilidade da digna manutenção do sistema, a humanidade vem mostrando que sua sabedoria, fracassa!