Os amantes.

Homens e mulheres quando crescem assumem a sua posição na sociedade. Todos experimentam um sentimento comum ao qual chamam de amor. Na euforia adolescente ele assume mil facetas, mas vai se desfazendo com o decorrer dos anos. Desde cedo, manipulado pelos estímulos desenfreados, as influências paternas, as pretensões peculiares de cada indivíduo determinam a sua posição e, nesse contexto, traça o seu caminho. Há aqueles que se casam; outros que se dedicam ao estudo, às causas sociais e, uma parte deles ao prazer pela liberdade, a apreciar as artes; a vida ao ar livre, ao esporte. Outros preferem à tranqüilidade da vida caseira – seja na roça ou na cidade -, há quem prefira a vida pública, mas sempre fazendo tudo com muita arte.

Buscando a excelência em tudo, os amantes são pessoas requintadas, sempre atentas às tendências da moda e, como beija-flores, eles vagueiam. Inspirando-se nas flores que são as mais avançadas armas de sedução, assemelham-se as aves que buscam o alimento nas mais variadas espécies. Nessa metáfora, o desejo sexual desaperta fantasia e eles buscam o sexo como se fossem as mais belas flores que desabrocham exibindo formas e cores, perfumes e odores, provocando para ser tocada.

No mês de junho, excepcionalmente, evidenciam aqueles que amam o prazer. Lançando mão das armas de sedução que o contexto sugere, procuram estar sempre na vanguarda dos acontecimentos.

Solícitos, não se perdem com palavras vãs. Escrupulosos com a saúde, freqüentam academias, cuidam da higiene e da aparência. Elas buscam na ciência os atenuantes para as estrias, as rugas; eles usam fragrâncias apropriadas para o momento. Substituíram o cigarro pelo gargarejo, usam fio dental, as substâncias sépticas. Instigados pelos meios de comunicação, tratam da pele, das impurezas das vias aéreas, bucais. Zelam pelo hálito, higienizam as entranhas. Elas testam maquilagem, peças íntimas e tudo que subconsciente sugere como atraente.

Na busca constante do prazer não desprezam ninguém. Procuram, a cada dia, ver nos erros alheios a melhor lição e, só após ouvir atentamente os outros, formatam a sua opinião; estas, por serem baseadas em vários exemplos, tendem a agradar seus companheiros.

Procuram viver intensamente. Tendo nas alegorias seu atributo, buscam a possibilidade de aflorar seus anseios não se envolvendo com problemas alheios. Dificilmente erram; são ouvintes e complacentes; tratam a todos como se fossem únicos e não são donos da opinião. Vivem discretamente treinando os falsetes, as frases de efeito emocional. Sempre prontos a aprender, seu objetivo é uma seqüência de orgasmos intensos, com consorte e lugares diferenciados.

Por viverem em relações descompromissadas, nessa vida errante, amam muito, mas são solitários. Por conquistarem todos, não pertencem a ninguém e seus grandes momentos são como as flores, instáveis.

Os grandes amantes convivem com o isolamento e a insegurança. Eles conhecem a carceragem psicológica e, nas análises íntimas, valem-se do único amigo confidente: o espelho. Este, por não depender de retribuição, os julga com a frieza dos juizes e os pune com a severidade dos deuses. Não poupa suas críticas silenciosas estampando as marcas impagáveis dos anos.

Como todos na vida, eles também têm o seu opositor, o inimigo declarado, o fiador intransigente: o tempo. Esse incompreensível credor cobra-lhes as forças, seus sonhos, seus encantos e sua virilidade.

Nas horas de descanso, só lhes resta repousar como um beija-flor, nos vales encantados e contemplar o magnífico universo. Tal e qual o sonhador, ele é combatido diuturnamente, mas está sempre belo; e apesar de ter o romântico como um inquilino, assim como ele, também não pertence a ninguém.