O que dizer da “palavra”

Por que a palavra dita não é mais interpretada como verdade? Eis que o tempo presente indaga-nos qual de fato é o papel da “palavra”, expressa através da linguagem seja ela falada ou escrita. Como a palavra passou de uma alusão a qualquer ente presente no mundo real ou referência universal à não designar aquilo que ela se propora a representar, é algo muito estranho que merece um pouco de nossa atenção.

Toda a palavra é um símbolo representativo de algo. Não podemos beber água na palavra “copo”, mas pelo nome dado a um objeto que consegue armazenar qualquer tipo de líquido e nos facilita na bebida deste, chegamos a utiliza-lo para nosso proveito. Até o que dizem que é “impossível” pode não significar o que entendemos por tal palavra. E o “amor”, é realmente aquilo que ela se propõe a ser? Mal, contudo, sabemos defini-la a contento e universalmente.

Nietzsche disse certa vez que “na palavra não importa a verdade”. Logo, tudo que se utiliza dela é mentira. Verdade e mentira parecem que estão juntas nessa percepção do mundo o qual existimos. Se realmente não houvesse verdade na palavra dita, seria muito difícil então identificar alguém, falar qualquer coisa. Imagine um mundo erigido por seres racionais onde não exista a “palavra”, ou sequer uma linguagem a qual o vocábulo não fosse o meio pelo qual a comunicação se origina! Será que é verdade que ‘a verdade’ não deve ser o embasamento para qualquer alocução?

Um dos grandes filhos bastardos da linguagem como ilusão, que maltrata nossos ouvidos e faz com que a palavra não tenha seu devido valor, é o discurso demagógico. E assim, de tanto ouvir e nada ser feito, começamos a copiar e termos como modelo tal depravação e pedofilia lingüística. Deveria ser um crime hediondo a mentira, mas que pena, nem mais crime hediondo existe nesse país de contrastes. O governador de São Paulo disse que “está tudo bem”, a política estadual está cheia de “impossíveis”, no fim, já sabemos o que vai dar. Neste mundo de falsas impressões, tenho pena do papagaio.

Contrapondo ao pensamento de Nietzsche, podemos citar Piaget: “para nós cientistas, até hoje, a capacidade de falar da criança é um ato miraculoso!”. A arte da fala é um processo que aos poucos vai sendo descoberto, mas sempre teremos dúvidas sobre como de fato se processa todos os estímulos para a produção e percepção da linguagem. É pela “palavra” que podemos imitar as sensações do mundo exterior e assim, tentar entende-las melhor. E quando nem entendemos conscientemente o que ela significa, já sabemos de antemão o seu simbolismo, como acontece com uma criança.

Próxima quinta-feira, prof. Dr. Oscar Federico – Filosofia/UFRN – nos falará sobre a “palavra inaudita” no Café Filosófico. Esperamos que possamos entender melhor a razão da palavra em si, caso ela se encontre naquilo que talvez ainda não fôra traduzido em linguajar humano.

Padre Hugo Galvão
Enviado por Padre Hugo Galvão em 28/05/2006
Código do texto: T164528
Classificação de conteúdo: seguro