Fair play, o jogo limpo

“Fair play”, o “jogo limpo”, é, originalmente, o entendimento e a prática que aliam esporte e ética. Ambos apresentam princípios, normas e regras próprias, mas elas podem ser combinadas, visando ao bem-estar dos envolvidos nos jogos praticados pelos seres humanos. Podem, pois, contribuir para que a competição saudável prevaleça sobre vivências vinculantes ao que de tóxico existe em nós. Com isso, o 'fair play' pode fundar-se naquilo que de nutritivo se encontra nas relações humanas na vida pessoal, profissional e social. Nessa perspectiva, o “fair play” se constitui em um importante elemento à prática educativa, sobretudo da que intenta a formação para o respeito a regras como caminho para o reconhecimento da humanidade própria e que se estende ao outro com quem se estabelece relações pessoais, profissionais ou sociais.

Para tanto, primeiro o educador tem de ser, ele próprio, um cultivador do “fair play”. O jogo limpo tem de caracterizar os próprios atos, atividades, comportamentos e atitudes de quem educa. Defraudar princípios, regras e normas colocadas ao respeito de todos significa executar, desde o início, a práxis de "anti-fair play". Isso não tem nada que ver com o espírito do jogo limpo. Para ser limpo, o 'fair play' deve ser observado em tudo o que fazemos ao longo da existência, e não apenas no esporte, compreendendo o que se relaciona à legalidade, à honestidade, à correção e ao respeito a si, aos outros e às instituições congregadoras daqueles que buscam a auto-educação e a educação dos demais membros da sociedade.

Deslegitimar e espezinhar instituições colegiadas significa corroer pela base o chão comum em que os indivíduos devem se encontrar, mediante condições minimamente saudáveis, para desenvolverem o processo de individuação e de interação interpessoal. Onde a dignidade da pessoa e da instituição que a abriga for estilhaçada, não poderão existir o “fair play” e a educação que humaniza, solidariza e faz crescer de maneira limpa e saudável. Por isso, o “fair play” deve se tornar um jeito de viver, um modo de ser no mundo, um estilo existencial, ancorado no mínimo ético inegociável de cada sujeito social que visa ao bem em suas atitudes, atos e ações, prática que, quando afetada pela força bruta, pelo acinte comportamental e pelo cinismo moral, não poderá subsistir.

A postura limpa nos jogos da vida é condição necessária para que a educação se desenvolva a contento e faça frente às necessidades, desejos e projetos humanos de maneira saneada e feliz. O contrário disso será a instauração da insalubridade e das condições doentias de vida, muitas vezes levando a enfermidades que poderiam ser evitadas. E é desolador quando a mentira é usada como meio de justificar o “anti-fair play”, a sujeira comportamental, a lama e o lodo atitudinais de pessoas desalmadas que pensam que podem levar a rodo inteligências, sentimentos, juízos e julgamentos éticos daqueles com os quais convive.

Auto-enganados, indivíduos dessa espécie assim desalmados pensam que vencem, quando, ao potencializarem a podridão, o que fazem é produzir o esgarçamento do tecido humano que deveria sustentar a instituição e o sistema educacional. Gente assim passa a não ter voz, no sentido de que não é respeitada. Passa a não ter voto, posto que a razão desautoriza a eleição pelo consenso em torno dom bom, do bem e do que é saudavelmente construtivo, que faz vincular pelo que é positivo e integrador. Se a desmedida já decidiu o jogo de antemão, o que impostores desse naipe conseguem é consolidar a doença e a infantilidade como paradigmas comportamentais, como modelos de relação e produção.

O pior de tudo isso que contraria o “fair play”, a ética e a educação nutritiva, é a atitude de quem apoia esse tipo de gente que se alimenta, toxicamente, dessa modalidade de prática infernal, diabólica e venenosa; que acredita só de ouvir dizer, o mais baixo de todos os conhecimentos possíveis; que acredita sem ter vivenciado e testemunhado a prática corrosiva e defraudadora da desqualificação, do esmagamento do outro que pugna pela legalidade e pelos atos limpos, visando a que a ética do reconhecimento e da responsabilidade se concretize.

Se a postura de “fair play” implica a educação para a consciência ética que inclui o respeito à legalidade e à moralidade das vinculações humanas, seja no âmbito privado ou público da atuação do homem e da mulher que se querem respeitadores e respeitados no seu ser-estar e agir no mundo, nas instituições sociais, na vida e na sociedade, por consequência, não lutar para adquirir essa postura é um jeito pequenificado de viver. Pequenez humana, integral, que leva tais tipos à "síndrome de pigmeu", a doença da opção por tudo o que é pequenificado, tal como o "quanto mais desprezível, melhor".

Nesse estado existencial não pode haver vitórias, êxitos, sucessos ou ganhos nenhuns. Lamentável quando esse tipo de coisa tem de ser constatada e verbalizada em nosso meio. Triste, porque desse tipo de jogo ninguém sai vencedor. Horrível, quando se sabe que o que esse tipo de prática faz é levar todos a se sentir idiotas obtusos e grandes frouxos perdedores, um tipo de gente que não pode educar a outrem porque não soube educar-se a si própria.

Moral de toda essa história: pior do que não saber perder é o vexame de não saber ganhar.