Sem ética pode haver progresso?

Dentro da justiça, que é a faculdade de pensar segundo o direito, é proposto algo inalienável, imprescindível, absoluto e perpétuo que não se deve negar: a lei moral. Segundo Immanuel Kant: “É só no domínio da moral que a razão poderá, legitimamente, manifestar-se em toda sua pujança”. A razão, em si, está numa reciprocidade de direitos e obrigações, dentro de um juízo de valor que discorre sobre o ato de um dever ser na normalidade social querida pelo Estado. Fundamentalmente, dentro deste Estado há uma necessidade de que o soberano atinja todas as exatidões primeiras de cada individuo em um padrão de felicidade humana, cuja definição no pensamento kantiano diz que ”a potência ética é como algo que se constrói na fusão da vida pessoal com a vida pública”.

Portanto, soaria uma insensatez falar sobre o que ocasiona a ética, mediante o conglomerado de conceitos que socializamos uns para com os outros, tendo como principal objeto de estudo o progresso na ética. Pois, afinal, o que rege a ética? A ética é uma necessidade? A partir de que momento? Em algumas ocasiões, a ética não produz uma moralidade justa no âmbito jurídico. Torna-se algo aético, distante da eqüidade, mesmo que esta, em sentido bem amplo, possa vir a se concernir em sentido moral e político do ser como tal, uma vez que a ética está intrinsecamente ligada à legalidade jurídica da nação, que se propõe a ratificar a atitude do ser moral dentro de suas responsabilidades, com o outro e com o mundo, através da qual se conseguirá o bem-estar e a integridade justa, embora não seja tão presente como se pensa.

A história é pródiga em exemplos de atitudes aéticas, conseqüentemente, desmoralizantes, de algumas figuras que chegaram até nossos dias como conquistadores de antigos e grandes impérios. Domínios da Babilônia de Nabucodonosor; da Pérsia de Dario e Ciro; a Grécia de Alexandre, o Grande, a Roma dos Césares... Todos foram exímios nas artes da guerra, tanto quanto nas dos comportamentos aéticos. Mas todos esses impérios tiveram progresso político, arquitetônico, cultural, etc, e deixaram modelos que a história moderna nos legou: o império português, o espanhol, o inglês, todos eles progrediram e também se organizarem através de atos ilícitos. Estes domínios se formaram a partir do desfalque com a ética, através da qual, segundo o padrão clássico dos gregos, os homens deveriam ser filósofos, civilizados, bons, belos, ricos, cultos e corajosos. Por que filósofos? Para obter as melhores respostas. O filósofo sempre busca a verdade, a sabedoria, uma virtude pela qual se perpetra a ética moral, um instrumento quase em desuso.

Todavia, virtuosos são todos aqueles que conseguiram, de maneira ética e pacífica, um certo tipo de progresso: o domínio do pensamento. Dentre eles, podem-se citar Mahatma Gandhi, o idealizador e fundador do moderno estado indiano; um influente defensor do Satyagraha (princípio da não-agressão, forma não-violenta de protesto) como um meio de revolução. Esse princípio também guiou gerações de ativistas democráticos e anti-racistas, incluindo Martin Luther King, nos EUA, e, num passado não tão remoto, Nelson Mandela, na África do Sul. Apesar de se utilizarem da ética e da moral, a causa de luta desses líderes pacificistas, que visavam apenas ao desenvolvimento ético do seu povo, de sua nação, e, portanto, totalmente desvinculada de um processo material imediatista, aconteceu como conseqüência de outras aquisições morais.

E, nesse caso, a metafísica dos costumes de Kant nos ajuda a saber qual é o alcance da ética. Segue-se que todas essas considerações levadas a efeito até aqui, não justificam um comportamento e uma ausência do deslize da ética, havido ao longo da história. Muito pelo contrário, eles servem, inclusive, como antimodelo do que não deve mais ser repetido. No caso do Brasil, por exemplo, há atualmente uma profunda discussão entre os poderes que regem a nação sobre o que é ético e o que, de fato, deveria constituir-se como alimento primordial para alcançar o progresso.

Por conseguinte, pode sim haver progresso sem ética, visto que ela não é essencial e conveniente, à medida que esse “progresso” é impetrado por outros meios, como o da força pela qual a sociedade é conduzida a uma enfermidade mais intensa do que a produzida pela utilização da ética, a despeito da existência da justiça justa em torno dos direitos humanos.

Ricardo Miranda Filho
Enviado por Ricardo Miranda Filho em 19/06/2009
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