O ENSINO DE HISTÓRIA E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

Dimas Paixão

Em sua obra: “O Ensino de História e a Construção da Cidadania”, o autor (FONSECA, 2005), aborda a perspectiva da contribuição da história para a construção da cidadania. Para o autor, é preciso que os profissionais do ensino de história busquem uma profunda reflexão acerca dos desafios e das exigências teóricas e políticas do nosso tempo, sendo necessário para isso, partir de duas premissas: Uma é pensar a história exclusivamente como disciplina educativa, emancipadora e libertadora, fundamental para formação da consciência histórica e para construção da identidade dos homens; e a outra é ter em mente que o ensino de história processa-se, sempre, no interior de lutas políticas, sociais e culturais ao longo do tempo. Nessa perspectiva, ele faz uma revisão do passado recente da história da educação brasileira, delineando a relação entre o ensino de história e a construção da cidadania nos diversos contextos histórico-político do nosso país. A começar pela ditadura militar, nos anos 60 e 70, quando estrategicamente foi ensinada nas escolas, uma história diversificada, um estudo voltado mais para a formação cívica por meio dos estudos sociais, geografia e história. O objetivo era incutir nos jovens uma doutrina de segurança militar e de desenvolvimento econômico. A história ensinada era a positivista, europocêntrica, linear, cronológica, dividida em quatro períodos históricos: Essa configuração curricular ressaltava a evolução das sociedades agrárias rumo à industrialização e à tecnologia, significados de paz e equilíbrio mundial. A história do Brasil privilegiava os mitos nacionais, a crença na integração nacional e no desenvolvimento econômico. Portanto, era uma história que excluía os sujeitos, suas ações e as lutas sociais, imprimindo uma falsa idéia de que a história só é feita por alguns indivíduos e não por todos. Essa concepção projetava uma cidadania isolada, dominante na elite brasileira, conferindo aos demais indivíduos apenas o papel de trabalhador, produtor e consumidor. Até hoje percebe-se que alguns professares ainda trabalham com essa concepção de história e cidadania, utilizando uma reprodução acrítica de materiais curriculares e didáticos. A partir dos anos 70, com as lutas político-sociais ocorridas no processo de redemocratização e de reorganização da sociedade brasileira, são abertos outros horizontes para conhecimento histórico. Iniciaram-se vários debates e discussões em todo o Brasil visando às reformulações curriculares. Logo surgiram movimentos nos meios estudantis voltados para a revisão e ampliação da produção historiográfica.

Segundo o autor, anos 80 foi repensado e criticado tudo que envolvesse a educação, o ensino de história, a política educacional, a escola, os professores e alunos, os métodos, as fontes e os temas. Assim, surgiram novas proposições em contraposição à história oficial dominante nas escolas. Agora, preparar o cidadão para uma sociedade democrática passou a ser o objetivo da disciplina de história pós-ditadura militar. Nesse novo modelo de ensino de história, o ” novo cidadão”, é o responsável pela intervenção e transformação da realidade brasileira. O termo “novo” implicava na superação do “velho”, sinônimo de ditadura, de opressão, de falta de liberdade e de direitos. Assim, durante os anos 80 duas novas proposições teóricos-metodológicos passam a coexistir com a história tradicional pré-existente. Uma delas, emergida nos anos 80 e muito difundida nos currículos era a ordenação da história baseada na “evolução” dos modos de produção, sistematizada pelo modelo marxista ortodoxo, iniciando com os estudos das comunidades primitivas, passando pelas crises do modo de produção capitalista, culminando com o modo de produção socialista. No entanto, também representava um modelo de história europocentrismo, já que a concepção de cidadania marxista apresentava pontos comuns com a concepção liberal, a qual defendia projetos totalmente opostos. A outra proposição do ensino de história pautava-se por “temas e problemas”. Inspirada na história social inglesa contemporânea e na nova história francesa, buscava romper com a linearidade, 0 determinismo e o caráter teleológico das outras propostas. O enfoque passa a ser os problemas da realidade social vivida e não mais o político-institucional e econômico. O “novo”. O critério agora é a ampliação dos temas e das fontes, fim formar o cidadão a partir da crítica dos dois outros modelos: o teórico (liberal) e o político (marxista). Assim, a proposta do ensino de história passa a valorizar a problematização, a análise e a crítica da realidade, transformando professores e alunos em produtores de história e conhecimento em sala de aula, tornando todos “sujeitos históricos” do cotidiano. Essa nova concepção exige dos professores de história, outras posturas em relação à temporalidade histórica, à cidadania e ao ideal de progresso. O ensino de história por meio por meio de temas e problemas rompe com a idéia de tempo, redimensionando as relações passado/presente/futuro.

Na opinião do autor, educar o jovem, hoje, no Brasil, pautado na idéia de progresso, de conquistas de direitos e de cidadania, é o mesmo que contribuir, inconscientemente ou não, para a manutenção da exclusão, já que no início deste século, está havendo uma disputa desigual, de individualismo em detrimento da igualdade, no interior das lutas e dos próprios direitos civis, sociais e políticos. O autor conclui que independentemente dos modelos tradicionais de educação, no atual contexto histórico, a função primordial do ensino de história no Brasil é busca constantemente o fim da exclusão social. Somente assim, com um ensino de história empenhado em analisar criticamente as diversidades da experiência humana contribuirá para a luta permanente e fundamental da sociedade: direitos do homem, democracia e paz.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BIBLIOGRAFIA

FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história. 4 ed. São Paulo: Papirus, 2005. p.89 a 96