Falando Só

FALANDO SÓ

Revendo a vida, voltando ao passado, a cada passo um turbilhão de emoções, em cada esquina, rua ou avenida um pensamento evolui. Encontros furtivos nas alcovas de uma pequena pousada a beira mar, volto então a sonhar e entrego-me aos prazeres que um dia tive, mais que passaram por mim sem que eu percebesse e enveredaram no mundo das sombras, das brumas tornando-se sonhos distantes, vidas passadas...

Quantos monólogos foram proferidos, escutados somente pelas paredes de um quarto solitário, quantas tempestades nasceram e se desfizeram sem sequer saírem do fundo dos corações, quantas cenas admiráveis do mundo moral para cuja representação seria necessário o talento de um grande pintor... Pois é, uma vida toda nova, só nos dois e um futuro se abrindo como o horizonte no nascer de um dia lindo de sol apos grandes borrascas em alto mar... Seria emocionante, romântico e prazeroso, ter de novo, uma nova vida na qual o amor estivesse sempre presente em cada olhar, sorriso, toque de corpo e o mundo suspirasse o perfume dos jardins do Éden a cada vez que nos abraçássemos e que uma bomba atômica explodisse o planeta em pedaços a cada vez que nos fizéssemos amor e que nossos beijos tivessem o efeito de reconstruir sempre... Mais você as vezes coloca mal as palavras e noutras sequer sabe o que acontece ao redor. Fico lívido e não sei o que pensar, seria uma ingenuidade extremista ou uma falta de confiança profunda. Entre o aportar e o divagar, deixo que o silencio seja o teu eterno confidente...

Não sei, talvez o tempo responda pelas nossas bocas ou em tal desconfiança, ante as nuvens que se nos separam do verdadeiro céu, possa ser um caminho feliz, porém, há uma dúvida, que quem sabe, se torne aquilo com que sempre sonhamos, ou, mais um inverno, um novo verão ou um ano inteiro que se passe sem que as flores nasçam, ou os frutos brotem, anulando assim a fertilidade e a beleza que naquele ano, faltou, talvez na primavera e o outono ou no inverno não choveu nem no verão fez sol... Assim, a terra estéril, nada produziu e o mundo desencantou, porque não houve compreensão, os homens falaram das guerras, as crianças se recolheram e as mulheres choraram porque não havia mais mundo e os homens, há sim, eles foram para a guerra e esqueceram de amar...

Não sei se é bonito ou não, porém, é tudo o que sinto nesse momento em meu peito dilacerado pela dor de ver pessoas não se entenderem, de sedes que nunca saciam e de pessoas que sempre querem mais daquilo que muitas das vezes foi só o que conseguimos doar. Sinto-me perdido num grande deserto, a aridez secular do sofrimento do lugar é a expressão maior do vazio de muitos atos, de mitos, de historias que ouvi contarem e de esperanças que mudam de lugar mais jamais de outro coração.

Em meu peito, apertado e amargurado pelo sofrimento, pelas incertezas do mundo e da desconfiança dos amores, ainda paira, com lentidão mais preservara a vontade imensa de amar e ser amado como muitos querem e jamais foram porque nunca aprenderam o que é o amor...

Uma borboleta surgiu do nada e posou no meu ombro, confidenciou-me o que sentes com relação a mim. Obrigado, querida, você disse tudo, confusão, não saber o que se passa, como uma estação, um dia, assim, como aquele em que nos vimos pela primeira vez, sei que não lembras a data, a minha fisionomia, a roupa que eu vestia, nem o que te falei no primeiro encontro, logo à primeira vista... Incrível, porém verdadeiro. Dizem que sou louco porque às vezes converso comigo mesmo, mais eu nunca vi em toda a vida, algo tão excepcionalmente sincero como aquilo que dizemos para nós mesmos, no silencio das duvidas e os deleitas que se nos apraz a existência. Perfeito, mister, excelente, porque as vezes só sendo assim, exprimimos a verdade que gostaríamos tanto de ouvir.

Se você se diz confusa, com relação aos seus sentimentos, é porque não gostaria que eu te confidenciasse as minhas emoções em relação a você, talvez tenha medo de se envolver tanto ou não queira algo assim na vida, uma evolução assintomática de sentimentos que a leviandade suprema terrestre não suportaria ou de ver-se perto da felicidade e dela não escutasse o chamado. Quem sou eu, para em tais circunstancias te falar aos ouvidos a melodia prazerosa daquilo, quiçá talvez não gostasses de ouvir, porque o vento frio das matas levou para longe o que outrora juraras ter...O meu coração, já está acostumado com a angustia, o meu corpo lépido de outrora, hoje cansa de esperar pelo lenitivo, da profundeza d´alma e do encanto do primeiro amor e em minha boca sinto ainda o amargor de sentimentos que não foram doces. O grande dilema da vida é que todos se julgam donos absolutos da razão, todos estão cansados de ser bonzinhos, mais todos eles, todos, não tem a coragem de dizer que amam porque sempre preferem ser amados e porque?

O que residiria nesse âmbito? O medo de amar de dizer quer, o que sente falta, pela única de vontade de até no amor perceber o verdadeiro sentido da vida, ou então porque nunca se buscou a verdadeira felicidade?

Estaria ela plantada no fundo de nossos corações e não tivemos tempo para fecundá-la, ou então somos inférteis porque realmente gostamos de sofrer. Se eu pudesse, nesse exato momento, eu entraria em você e deixaria de em mim ficasses, para que a evolução do espírito e o suor de nossos corpos cansados de tanto amar, nos dissesse a cada um o que realmente queremos saber, compreender e viver...

Bom, já é tarde e incomodo a minha amada mãe que descansa. Peço que me desculpes, e que na próxima manhã sintas o perfume das flores quando ainda não é primavera e ouças a melodia do vento tocando suavemente em cada folha e em teu corpo, percorra a minha lembrança aquela do primeiro beijo... Ou então, chegaremos ao ciclo final desse inferno que um dia talvez terá o seu Dante.

Airton Gondim Feitosa