DIZ-ME COM QUEM ANDAS...

Os recentes escândalos (mais escândalos) que brotam do Senado Federal mostram que, justamente aqueles que deveriam fiscalizar a aplicação do dinheiro público, são os primeiros a aplicar mal esse mesmo dinheiro. Ou por outra: aplicam bem, mas no lugar e no momento errados. Aplicam no bolso do contribuinte que, em última análise, somos todos nós.

Ao nos preparar para fazer nossa declaração de renda, ou pagar – como micro empresários – o super simples, fazemos toda a sorte de malabarismos para atender ao governo porque as restrições e punições para quem não o faz são muitas e penosas. Depois vemos que o suado dinheirinho voa como folha ao vento pelos céus de Brasília, sem a menor consideração para com o esforço de quem o fez chegar até lá. Triste, lamentável, revoltante.

Em todo o mundo o dinheiro gasto por governos rende menos que no bolso da dona de casa. A burocracia consome muito dinheiro, mas no caso do Senado brasileiro a coisa ultrapassou qualquer limite do bom senso. Lembro-me de 1986 quando o senhor presidente do Senado o hoje senador Sarney ocupava a Presidência da República, o Brasil inteiro se indignou ao descobrir que a vice-presidência empregava 72 pessoas. Saudosos tempos em que as pessoas se indignavam. Havia 72 pessoas disponíveis para o vice-presidente que não existia, uma vez que o senhor Sarney, vice, fora içado para o cargo por causa do falecimento do titular Tancredo Neves. Saiu de lá desmoralizado pela incompetência, não sem antes ter feito a sujeira final: Dar um dia de presente para que seu substituto, Fernando Collor, proclamasse um feriado, com fechamento de bancos e metesse a mão no bolso dos brasileiros.

Mais de 20 anos passados Sarney e Collor são senadores e continuam no seu jogo corporativista. Na época em que Sarney era presidente, cada senador tinha à sua disposição 46 funcionários, o que era um absurdo, mas, parcialmente justificável, porque a velocidade dos dados não era tão boa quanto atualmente. Era, aproximadamente, o número de colaboradores de uma agência bancária média.

Hoje, cada senador tem à sua disposição 103 funcionários, enquanto a agência bancária diminuiu para cerca de 15 sem perder eficiência ou volume, auxiliada pela celeridade da cibernética.

Ah, dirão alguns, o volume de trabalho aumentou muito! Acontece que, aqui de baixo, apenas percebemos que houve a implementação da TV Senado que divulga os senadores pronunciando discursos castristas ou chavistas, por sua duração. Criaram uma estrutura de mídia a mais porque aparições na mídia apenas ajudam a reeleger os mesmos senadores.

Porém, analisemos o número 103. São 81 senadores que juntos empregam mais de 8.300 servidores. Pelo status de sua posição, estes “trabalhadores” recebem muito mais que o salário mínimo. Alguém aí consegue nos dizer quantos trabalhadores na iniciativa privada são necessários para alimentar esse exército?

Quanto gritamos contra os abusos, não estamos indignados com a democracia. A democracia não tem um custo tão alto. O alto custo do Senado fica por conta do corporativismo. O preço da democracia precisa ser pago para que tenhamos direito a ela. Democracia é cidadania. Cidadania gera indignação, indignação gera denúncia.

Eu sou brasileiro, sou trabalhador. Não me coloque junto com os corruptos, porque não ando com eles. Nunca, em momento algum da nossa história tivemos um Senado tão omisso, tão irresponsável e tão incapaz de se indignar. Se nada posso fazer, deixem-me exercer o democrático direito de me indignar.

Luiz Lauschner – Escritor e empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 27/06/2009
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