FELICIDADE PASSAGEIRA

Albert Einstein uma vez disse: “O verdadeiro valor de um ser humano pode ser visto no grau de libertação do eu que ele conseguiu atingir”. Mas o que ele quis dizer com “libertação do eu” ? Engraçado que normalmente imaginemos que precisamos nos libertar de todas as coisas, menos do próprio Eu. Pois não há verdadeira libertação, a não ser a do próprio apego ao eu, que é a fonte de todo egoísmo. Egoísmo é apego ao eu. Significa pensar que o mundo nos deve algo, e que todas as coisas estão sempre acontecendo em função da gente. Quando pensamos assim, não percebemos que o mundo é um movimento da energia da vida, e nós somos um fluxo disso. Desapego ao eu é simplesmente um sentimento de que todas as coisas estão no seu ritmo, e há uma paz que está presente antes, durante, e depois de qualquer experiência. Vejamos: Nós somos apegados a experiências de prazer, e rejeitamos experiências de dor. Queremos que certos prazeres que tivemos permaneça. Quando eles não permanecem, sofremos. Ir além do eu significa apenas que sabemos que não temos comando o tempo inteiro sobre essas experiências aparecerem e desaparecerem. Então há um relaxamento que vem de algo dentro de você que diz: “Está tudo bem”. Não posso separar as experiências que tenho em boas ou ruins. São experiências enriquecedoras e fazem parte de minha vida. Com isso, com a aceitação ativa de todas as minhas experiências, percebi que um certo relaxamento vem, uma certa paz que é fruto de simplesmente não lutar e nem brigar com as experiências. Percebi que não sou as experiências que tenho, afinal elas acontecem PARA mim. Eu não sou as experiências, porque as experiências estão sempre mudando. Eu sou aquele que noto que acontecem experiências. Então passei a desfrutar das experiências ainda mais. Quando você não se apega a uma ou outra experiência, há um desfrute que acontece em todas elas que antes não acontecia. Percebi que quando acontece de as experiências começarem a ser saboriadas, não importando o que elas sejam, um profundo relaxamento e compreensão acontecem espontaneamente. Por exemplo: Quando acontece tristeza ou medo. Medo e tristeza são comuns à espécie humana, são sentimentos que ocorrem em todos nós. Mas quando você convida a tristeza a permanecer e passa a observar a brincadeira de ser triste, a atuar tristeza, você percebe que tudo não passa de uma peça de teatro da vida, e tudo feito para seu desfrute. Imagine o que seria do mundo sem a tristeza ? Filmes, literatura, livros, peças de teatro, música, e todas as modalidades de expressão humanas ? Sem Vinícius de Morais ?... Quando passamos a aceitar os dois pólos da vida, começamos a fazer uma reviravolta na maneira como vivemos e pensamos. Afinal, existe hoje em dia, uma ditadura de felicidade. Por quê ? Porque as pessoas não aceitam o que são. Há sempre alguém mais esperto, mais inteligente, mais bonito... Não se compare! Não há ninguém igual a você. Lembro-me que tinha uma pessoa que uma vez me disse, quando eu estava tocando num bar: “Deixe-me ser triste. Toque uma música triste...” Eu achei o máximo aquilo! As pessoas se viciam num só lado da vida, e tem medo de experienciar aquilo de mais profundo que acontece em seus seres. A felicidade que a mídia propõe é superficial, passageira, boboca, sem profundidade. Nas profundezas de si mesmo é que mora os tesouros. Seu eu não é apenas uma imagem para ser exposta no varal de necessidades do mundo. Sua vida é preciosa, com todas as suas contradições. Walt Whitman, poeta americano, escreveu: “Quem nunca se contradiz deve estar mentindo...” O objetivo da vida não é ser feliz. Isso é muito simplista e barato. Qualquer medíocre pode “dizer” que é feliz. A vida é uma profunda mistura e mistério, e apenas os que vivem as experiências com totalidade, amor, confiança, beleza e aceitação podem viver paz. Felicidade é passageira. Paz é você mesmo, seja como for. Procure esta paz que não desaparece quando a felicidade se vai. Aí mora seu Eu real.

Swami Sambodh Naseeb
Enviado por Swami Sambodh Naseeb em 14/05/2005
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