Discursos e práticas sociais na busca e construção de uma identidade histórica:O caso de Sepetiba

Discursos e práticas sociais na busca e construção de uma identidade histórica:O caso de Sepetiba

Apresentação

Sepetiba é um bairro localizado na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro onde ocorreram muitos eventos memoráveis no que concerne a formação do nosso país e a construção da identidade nacional, infelizmente este bairro tão distante do centro da cidade do Rio de Janeiro nunca recebeu a devida importância e teve sua história apagada dos relatos e discursos contemporâneos e das memórias coletivas recentes, a tradição oral no que diz respeito a disseminação dos “causos”, das histórias, dos acontecimentos verídicos que se deram neste bairro não foi preservada através dos narradores que já não estão entre os moradores atuais da localidade; o que resta são apenas aproveitadores que uma vez observando o interesse e o desenterrar desta rica história por poucos interessados e vislumbrando benefícios pessoais agora resolvem desencavar discursos equivocados e manifestam uma falsa preocupação com a importância histórico-cultural desta localidade, inclusive instituindo a semana do bairro, dia do bairro etc, não percebendo o quanto esta história foi destruída com o passar dos anos, o quanto o patrimônio histórico que ainda restava de pé foi totalmente descaracterizado como por exemplo a fachada da igreja de São Pedro, cuja fundação data do século XIX e o quanto os discursos referentes a história local ainda perseverantes nas bocas e nas poucas obras existentes que tratam especificamente da história do bairro e de imediações foram deturpados da verdade e não possuem rigor científico, ou seja, não podem ter sua veracidade assegurada.

Este bairro foi inicialmente “ocupado” por índios Tamoios ainda no século XVI, provavelmente pelos Tamoios provenientes dos chamados redutos inexpugnáveis localizados no bairro de Santa Tereza, Glória e Centro que ao fugirem do ataque português durante a expulsão dos franceses caminharam na direção oeste, e como eram exímios construtores e navegadores de canoas, pescadores, sentiram-se seguros quando encontraram uma praia inóspita, repleta de Sapê e resolveram então ali estabelecer-se. Há indícios de que até mesmo os holandeses estiveram no local, além dos franceses é claro, que inclusive utilizaram a falta de monitoramento na Bahia de Sepetiba para invadirem a cidade.Pouco tempo depois, os padres Jesuítas da Companhia de Jesus tomaram conhecimento da região e também fincaram raízes por lá.

Sepetiba foi palco de importantes acontecimentos durante as três principais fases da história do país: Brasil Colônia, império e república; foi aldeamento jesuítico, cenário da batalha naval contra os holandeses, sua baía e praias serviram de local de desembarque para o quinto do ouro, tráfico do mesmo, tráfico de escravos,de pau-brasil, cenário da luta dos corsários dentre outros muitos acontecimentos. Personagens históricos passaram pelo bairro reconhecendo sua beleza e tranqüilidade, como D. João VI, D. Pedro I, D. Leopoldina, José Bonifácio, o Visconde de Sepetiba, Jean Baptiste Debret dentre muitos outros; abrigou republicanos e anti-republicanos; foi cenário da tragédia ocorrida durante o período de transição Império/República: o fuzilamento dos marinheiros na ilha da pescaria (Ilha dos marinheiros) etc., algumas áreas do bairro possivelmente já eram habitadas por índios antes mesmo da chegada do homem branco, a prova disso encontra-se no fato de existirem três sambaquis no bairro devidamente descritos e registrados por arqueólogos, para nos assegurar da veracidade de tal afirmação basta consultar o livro Pré-história do estado do Rio de Janeiro de Maria da Conceição Moraes Coutinho Beltrão de 1978, além disso existem alguns relatos de que foram construídos pelos jesuítas túneis para facilitar fugas, transportes etc. na região, o que poderia ter sido preservado. Estes são apenas alguns dos fatos que colocam Sepetiba em notória evidencia histórica.

De acordo com Pacano (2005), a memória enquanto reconstrução do passado no presente, ou enquanto determinações do passado sobre o presente, pode tanto “escravizar” como “libertar”; a lembrança e o esquecimento, manifestações da memória nos indivíduos, só adquirem significado mais amplo se analisados na especificidade do contexto histórico de sua construção passada e de sua narração presente. Como conseqüência debruçar-se sobre a memória não significa a reconstrução integral de como teria sido o passado, posto que passou, mas sim a presença deste no presente, consciente ou inconsciente.(Pacano,2005)

A modernidade ao romper com a memória, expõe a todos aos perigos da amnésia coletiva, decorrente da perda dos elos comunitários que se processam ainda mais rapidamente na sociedade “pós-industrial”, sob o signo da pós-modernidade. Segundo Pollak (1989), podemos dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também fator importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua construção de si. Ainda de acordo com Pollak (1989), a construção da identidade é um fenômeno que se produz em referência aos outros, em referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com os outros.

Privilegiaremos o enquadre teórico metodológico de análise do discurso crítica de Fairclough, ou seja, a concepção de discurso como modo de ação historicamente situado: considerar que por um lado estruturas organizam a produção discursiva nas sociedades e por outro, cada enunciado novo é uma ação individual sobre tais estruturas, que pode tanto contribuir para a continuidade quanto para a transformação de formas recorrentes de ação.

Entendemos também o discurso como prática social, e partiremos da concepção que entender a linguagem como prática social implica compreende-lo como um modo de ação historicamente situado – constituído socialmente – constitutivo de identidades sociais, relações sociais e sistemas de conhecimentos e crenças.

Sendo assim, o que ocorreu e o que ocorre com o bairro de Sepetiba está relacionado diretamente com o fato de que a prática discursiva por ser historicamente situada anula ou revigora a construção de uma identidade histórico-cultural, na dialética entre discurso e sociedade, onde o discurso é moldado pela estrutura social, mas é também constitutivo da estrutura social nossa afirmação torna-se válida, pois após um longo período de esquecimento, abandono e deteriorização da história deste bairro, houve, hoje, na pós-modernidade ou contemporaneidade como preferem alguns teóricos um desencavemento, um ressurgimento desses discursos sobre a relevância do que no senso comum se referem como “resgate” da história local, contudo estes discursos estão distantes da verdade e equivocados, estão voltados para a concepção e perspectiva do senso comum levando em consideração apenas os “louros”, os méritos da realização do que estes “narradores” da atualidade chamam de resgate e não preocupados com a posteridade e continuação da verdadeira história local através de um discurso construído com base em evidências, fatos comprovados e documentos históricos, sua relevância é apenas política e não historiográfica, aí configura-se a compreensão e análise de nosso problema.

Bianca Wild
Enviado por Bianca Wild em 10/07/2009
Reeditado em 23/03/2012
Código do texto: T1693176
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