Perspectiva teórico - crítica na formação do professor de LE rumo a transformação e construção do sujeito-aprendiz e usuário de linguagens no contexto sócio-econômico e cultural.

ABSTRACT: the aim in this paper is analyse the issues which are related to the theoretical and critical training of the foreing english teacher, focusing the attention on some important criteria such as: the critical training of the educator in foreing language; the prospects of this vocational training as a foundation of the teacher training; a definition of policy and politics of teaching languages; the reflective teacher and innovative ways of teaching and learning in view of the need to (re) construction of concepts. Finally, I do an interview with two principals of language courses about the teacher reflective attitude toward the construction of the subject - learner and user of the language in our socio-economic and cultural context.

KEYWORDS: Foreing english teacher, language, vocational training, politics of teaching english, reflective teacher, (re)construction of concepts, the construction of the subject – learner, socio-economic and cultural context.

RESUMO: O escopo desse trabalho é analisar as questões que estão direcionadas a formação teórico – crítica do professor de LE, levando-se em conta alguns critérios relevantes como os seguintes: a formação crítica do educador de LE; as perspectivas da formação contínua desse profissional como alicerce de sua formação docente; uma definição de política e a política de ensino de línguas; o professor reflexivo e as maneiras inovadoras de ensinar e aprender, tendo em vista a necessidade de des(re)construção de conceitos. Por último, faço uma entrevista com dois diretores de cursos de línguas no tocante a postura do professor reflexivo rumo à construção do sujeito – aprendiz e usuário de linguagem no contexto sócio-econômico e cultural.

PALAVRAS-CHAVES: Professor de LE, língua, formação crítica, professor reflexivo, política de ensino de línguas des(re)construção de conceitos, a construção do sujeito aprendiz, contexto sócio-econômico e cultural.

1. INTRODUÇÃO

O Professore de LE (língua estrangeira), no contexto sócio-econômico e cultural em que vive, para ter um ensino profícuo, é essencial seguir os seguintes critérios abordados nesse artigo: deve ter uma formação crítica em LA (Lingüística Aplicada), levando-se em conta as perspectivas da formação contínua; tem que estar ciente em relação à política de ensino de línguas e o papel do Estado perante a educação; deve ser reflexivo, revendo os seus conceitos e ouvindo críticas de outros educadores assim como de alunos sobre a sua prática docente; e deve implantar práticas inovadoras de ensinar e aprender.

A formação crítica do educador de LA é muito relevante em seu contexto educacional, tendo em vista que a LA não é tão hermética, dando ênfase não apenas aos estudos lingüísticos. Ela procura se relacionar com outras áreas distintas como é o caso da sociologia, da psicologia, da filosofia, da etnografia, entre outras, contribuindo; portanto, para as relações humanas. Sendo um alicerce da formação crítica, temos a formação contínua do educador de LA, corroborando com o seu aperfeiçoamento profissional.

No tocante a política, Aristóteles, em sua obra Política, diz que o homem é um animal político e afirma: "a cidade ou estado tem prioridade sobre qualquer indivíduo entre nós. Pois o todo tem de ter prioridade sobre as partes. (...) o Estado é ao mesmo tempo natural e precede o indivíduo". Podemos observar que é bem notório o esfacelamento dos direitos humanos por parte do Estado Neoliberal e, em contra partida, esse Estado subjuga a Educação e o ensino de línguas. Em nossa sociedade capitalista, o ensino de LE nunca foi tão aviltado para as necessidades impostas pelo mercado econômico, deixando prejudicando a aquisição de conhecimento e a valorização das culturas estrangeiras.

Outra vertente no trabalho é o papel do professor reflexivo. Elenquei, ao longo dessa discussão, alguns critérios importantes como: a capacidade de o educador questionar a sua prática de ensino, o elo que ele tem que criar com o alunado para que a aprendizagem seja mais profícua e a pesquisa desenvolvida por Moser (2006).

O último tópico de discussão no corpo do trabalho é as maneiras inovadoras de ensinar e aprender. Esta questão está concomitante a perspectiva teórico – crítica na formação do professor de LE, pois o professor inovador interpola novas práticas pedagógicas, des (re) construindo conceitos que já são estereotipados ao longo da evolução epistemológica. Isso tudo se dá através de sua postura crítico – reflexiva.

Para encerramento desse artigo, entrevisto dois diretores de dois cursos de línguas de Fortaleza, abordando alguns tópicos já elencados no corpo do trabalho como a postura do professor reflexivo rumo à construção do sujeito – aprendiz e usuário de linguagem no contexto sócio-econômico e cultural. As entrevistas, presentes no anexo, têm como objetivo analisar se os entrevistados estão conscientes sobre questões que serão abordadas ao longo das entrevistas. Logo, diagnosticarei os resultados delas na conclusão.

2. FORMAÇÃO CRÍTICA DO EDUCADOR NA PERSPECTIVADA LA

Dentro de uma perspectiva crítica, a Lingüística Aplicada é uma área multifacetada, pois não tem por obrigação priorizar os estudos lingüísticos, mas dar ênfase às transformações aplicadas nas práticas sociais, partindo da análise, compreensão e redimensionamentos dos aspectos lingüísticos presentes nas ações humanas. A LA procura fazer uma interdisciplinaridade com áreas como a sociologia, a psicologia, a filosofia, a etnografia, entre outras; ajudando, pois, nas relações humanas.

Tendo em vista a relevância da lingüística, é notório o quanto a linguagem se vê presente em diversas partes na sociedade. Ela tem a função coadjuvante de transformar as condições sociais injustas.

Consoante Freire (1996/2001), é relevante que o educador utilize bem a linguagem para transmitir o conhecimento e ser ouvido pelo educando, travando o diálogo entre professor e aprendiz, construindo; pois, a aprendizagem. Essa aprendizagem se dá principalmente através de textos falados e escritos, contribuindo para a formação histórica e criando as nossas identidades ao longo do tempo. Para desenvolvermos uma sociedade mais ética, com respeito pela identidade dos outros, com direito a inclusão e ao desenvolvimento da sociedade criativa, é necessário que construamos instrumentos que possibilitem isto. Ainda de acordo com a concepção freiriana, no tocante ao papel dos lingüistas, Liberali afirma:

“Os lingüistas aplicados teriam, então, a responsabilidade de pensar a ação de educadores, utilizando a linguagem como foco na formação de sujeitos como seres transformativos que podem tornar-se seres dialógicos. No sentido freiriano, com possibilidade de dialogar com seus semelhantes.” (Liberali,2006, p.18)

Inerente a formação crítica do educador, é importante que o professor esteja constantemente se atualizando através da formação contínua, que é um dos principais alicerces em sua prática docente.

2.1 AS PERSPECTIVAS DA FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES DE LE

A educação contínua tem sido objeto de especulação por muito tempo. Muitas pesquisas e estudos têm sido empreendidos nessa área e ratificados em sites, bibliotecas acadêmicas e em livros especializados. É relevante a escolha lexical da expressão “educação contínua” que dá idéia de educação em progressão, e não finalizada, diferentemente de “educação continuada” que dá a idéia de uma ação educativa acabada.

A Educação contínua, consoante a opinião de educadores nesse processo, é dividida em três perspectivas: treinamento, capacitação e formação crítica.

O treinamento é um tipo de educação em que o professor se conscientiza de como a sua prática docente deve ser, determinando o seu apropriado modus operandi no ensino em uma instituição; sendo, assim, prescritivo.

No tocante a capacitação, diferentemente do treinamento, o educador tem espaço para problematizar suas práticas utilizando seu conhecimento local, informado por sua experiência, para construir nova possibilidade de agir.

Já a formação crítica dos educadores considera o sujeito como transformador de uma realidade em que vive. Essa formação crítica, consoante Liberali, pressupõe que:

• as pessoas não sejam necessariamente críticas e que, para isso, necessitem ser formadas. Como discutido por Giroux (1997-87), é um macro objetivo educacional: ajudar os alunos a construir uma consciência crítica e política;

• a formação seja constante e eterna, pois começa antes de nossa existência e continua após nossa morte, uma vez que se estende não apenas à pessoa que está no processo, mas ao conjunto de pessoas que se organizam para um ideal comum. (Liberali, 2006, p.23)

Essa visão crítica do professor de LE, levando-se em conta a importância da formação, está concatenada através da ética em que se integram fatores como questionamento, escolha, comprometimento, responsabilidade, reflexão e transformação, não aceitos como dados a priori.

Enfim, a formação crítica do educador nasce da capacidade (mas não nasce sozinho, talvez a partir de uma sensibilização dos conflitos que ele vive perante aos assuntos da vida social, humana, educativa à qual ele pertence) que ele tem de participar, questionar, pensar, comprometer-se com a educação e a se submeter a crítica de sua conduta, normas e direitos, incluindo aqueles tidos como democráticos e se conscientizando do papel da política no ensino de LE. É só assim que, indubitavelmente, haverá a formação de uma cidadania democrática por parte de educadores e alunos.

3. UMA DEFINIÇÃO DE POLÍTICA E A POLÍTICA DE ENSINO DE LÍNGUAS

A definição clássica de política foi herdada por filósofos da antiguidade como Aristóteles, que a definiu como sendo derivado de polis (politikós) tudo o que é referente à cidade, ou seja, tudo que é urbano, civil, público e social.

A política, de acordo com a pragmática, pode ser definida como a relação de poder que o homem exerce sobre os seus subordinados - como é o caso de O Príncipe, de Maquiavel- ou sobre um determinado grupo social, tendo como objetivo obter alguma vantagem pessoal.

O poder político apresenta-se como poder coator dos poderes econômico e ideológico, servindo como monopólio dos poderosos para subjugar a população aos seus interesses próprios.

São fortes os indícios do esfacelamento de diversas sociedades e Estados com a convergência dos três poderes: econômico, político e ideológico, que denominamos como globalização. Esta globalização, promovida pelo Estado mínimo ou Neoliberal, negligenciou em promover o bem – estar social da polis. O Estado, afastando-se da sua obrigação em priorizar o social, delega esta prerrogativa ao poder econômico, excluindo assim, o cidadão dos interesses deste mesmo poder e enfraquecendo os poderes políticos e ideológicos.

Com a derrocada das esquerdas como é o caso do bloco soviético, uma grande parte do poder ideológico foi enfraquecida e foi muito fácil institucionalizar a primazia do poder econômico como poder principal. Consoante a concepção de Bobbio sobre o Marxismo: “O poder ideológico e político refletem, imediatamente, as relações de produção”

A supremacia do poder econômico sobre os outros poderes, no contexto nacional, traz muitas incertezas, especialmente na educação.

Inserindo-se nesta percepção político-social-econômica, o caminho da educação nunca foi tão aviltado e difícil. Como podemos priorizar o desenvolvimento de nossa educação se os poderes político e ideológico, coagidos pelo poder econômico, submergiu dentro da voracidade do sistema capitalista, nem livrando a cultura das garras de seu domínio? Infelizmente, a educação, estando a serviço do sistema capitalista, esteve aliada aos meios de produção, diferentemente da cultura. Colaborando com essa ação coercitiva do Estado neoliberal em relação à educação, temos como exemplo a Alfabetização, que foi oferecida por parte da burguesia ao proletariado a fim de aumentar a produtividade das fábricas e a produção agrícola.

É nefasto o domínio do capitalismo sobre a cultura, visto que a cultura da vida foi convergida em leis de produção.

Consoante Kurz, em uma matéria sua publicada na Folha de São Paulo (13-03-98), os poderes político e ideológico são dominados pelo poder econômico e a cultura totalmente subjugada a lucratividade das empresas, tornando-se complicado definir o ensino de línguas nesse contexto neoliberal, parecendo mais fácil apresentar como um produto, uma habilidade essencial para a emulação nesse sistema globalizado.

De acordo com a definição de Estado brasileiro em três níveis de poder: central, estadual e municipal, portanto, ao colocar o foco da análise na prática política nacional vemos um Estado coercitivo em todas as áreas de ação governamental e em todos os setores nacionais. Na educação, todavia, os Estado se mostra autocrático, em especial, no tocante ao ensino de língua.

Logo, é essencial que nos politizemos a fim de que não sejemos vítimas desse soberano Estado Neoliberal. E para que isso aconteça, o professor tem que ser reflexivo no tocante a sua prática docente e as mudanças que acontecem no contexto sócio-econômico e cultural.

4. O PROFEXOR REFLEXIVO

Para haver plausibilidade no processo de ensino-aprendizagem, é essencial que o professor passe a questionar sobre a sua prática docente, refletindo como é a sua postura na sala de aula, a sua metodologia, a sua didática e, também, estando aberto para o diálogo com outros professores e alunos.

O professor prático-reflexivo está sempre aberto para mudanças e se atualizando no tocante aos acontecimentos da vida. Corroborando com essa assertiva, podemos ver no artigo de Dinéia Hypoletto que o professor tem sempre que se atualizar:

A velocidade das mudanças, as exigências da tecnologia e do mercado de trabalho são tantas e tão rápidas que o profissional pode ser pego de surpresa em sua prática cotidiana. Notícias, fatos, mudanças podem chegar à sala de aula pela boca dos alunos, sem que o professor tome conhecimento. Quantas vezes, em alguns casos, o aluno supera o professor! Está melhor informado, conhece palavras e expressões modernas, sabe do último fato social ou político, não apresenta mais certos costumes e exigências. (Hypoletto, 2004, p.1)

O educador que está alheio ao mundo e muito hermético na sala de aula, não estabelece uma comunicação passível de compreensão por parte do alunado e este mostra-se desinteressado aos seus ensinamentos arcaicos e tradicionalistas.

A fim de findar essa lacuna e distância entre aluno e professor, é só mesmo através da reflexão: o que faço, o que digo tem ressonância, significado, importância para o aluno? “ Refletir sobre o próprio ensino exige espírito aberto, responsabilidade e sinceridade” (Zeichner, 1993:17).

O professor que não reflete a sua prática docente frustra-se e cria um grande abismo entre ele e os seus alunos, pois não está aberto para o diálogo que o possibilitaria reconhecer as necessidades individuais de seus aprendizes e também deixar-se ouvir por estes em relação ao seu ensino. “As práticas desenvolvidas sugerem que os formandos sejam ouvidos. Ninguém conhece melhor os problemas e as soluções alternativas do que aqueles que os experimentam.” (Esteves, 1993:21).

A base para desenvolver uma educação de qualidade é o diálogo e, no caso, saber ouvir. Abrir espaço para o aluno expressar o que sente sobre a aula e levá-lo a despertar o pensamento crítico. Isso é um grande passo para entendê-lo e orientar ou reorientar a ação pedagógica.

Fazendo um saudosismo e voltando ao mundo onde não havia contestação, o professor tinha STATUS e era o centro das atenções nas salas de aula, ditava normas e ensinava conceitos pré-estabelecidos para o alunado. Esse educador tradicionalista não se coaduna com o atual professor reflexivo, que está constantemente des(re)construindo a sua prática pedagógica.

Esse professor reflexivo trará uma plausibilidade no processo de ensino-aprendizagem, gerando, então, o aluno crítico, observador, questionador, exigente, que cobra qualidade, que precisa ser formado cidadão. Vasconcellos (1995:56) descreve a postura do educador:

Conhecer, acolher criticamente, buscar o aprofundamento da proposta da escola; Procurar unidade de ação com colegas; Postura de investigação em relação à sua disciplina; Abertura; não querer ser o dono da verdade; Ser observador; Saber ouvir; Confiar nos companheiros; Disponibilidade para aprender; Desenvolver a postura interdisciplinar. (Vasconcellos, 1995, p.56)

O estudo da professora Sandra Maria Moser (2006) sobre o desenvolvimento de autonomia na prática pedagógica de aluno/professor, sob o ponto de vista da abordagem reflexiva, colaborou muito para o ensino de LE. Esse estudo foi dividido em 4 fases, as quais gostaria de elencar a seguir:

1º e 2º fases – descrever e informar, respectivamente, para explicitar as crenças, conceitos e concepções sobre o que é ensinar e aprender LE;

3º fase- Confrontar os participantes a fim de desenvolverem as suas regências de classe, observando e analisando a si mesmos. As aulas eram filmadas pela pesquisadora e as fitas entregues para os professores analisarem suas aulas. Eles escreviam diários, desenvolvendo as suas próprias capacidades de “ação reflexiva”. Nessa fase, as sessões reflexivas começaram a ser individuais. A professora compartilhava, no processo reflexivo, com discussões sobre os diários e fazendo questionamentos ou elaborando questionários para serem respondidos em cada aula.

4º fase – reconstruir. Nessa fase, eles são levados a repensar e rever suas crenças e seu “eu” professor, buscando sua própria identidade. A pesquisadora compartilha, fazendo questionamentos, levando-os a analisarem a si mesmos, suas próprias descobertas e a buscarem ações que pudessem gerar transformações. (Moser, 2006, p.110 e p.111)

Através desse estudo, podemos constatar que os professores puderam analisar a sua prática docente, modificando a metodologia adotada. Eles se tornaram mais reflexivos sobre os seus modus operandis de ensinar e autônomos para reelaborarem novas metodologias, sendo profícuas para os seus aprendizes.

Foi através dessa análise feita por Moser (2006) que podemos ratificar no próximo tópico a relevância também das maneiras inovadoras de ensinar e aprender, levando-se em conta a necessidade de des (re) construir conceitos.

5. MANEIRAS INOVADORAS DE ENSINAR E APRENDER – A necessidade de des (re) construção de conceitos.

A priori, a arte de aprender estava restrita a análise das causas presentes nas mitologias, nos poderes sobrenaturais das divindades do bem e do mal. Em contra partida a essa visão epistemológica, os questionamentos de Newton, Galileu e Descartes refutaram essa visão da construção do saber presente na antiguidade, fazendo uma apologia ao pensamento científico em detrimento da mitologia.

A ciência, com ruptura em relação ao autoritarismo das divindades, focando-se para o racionalismo, procura compreender a estrutura e formação do mundo, dando-se ênfase ao estudo do comportamento físico, biológico e social por causalidades definitivas. Foi estabelecido, com o cientificismo seiscentista, a linearidade dos fenômenos tão conhecidos na modernidade: o argumento científico, o domínio da razão, do cartesianismo. A ciência era apenas propriedade da aristocracia, excluindo as classes menos favorecidas. Muitos movimentos importantes como a Revolução Francesa, a Revolução Americana e a Revolução Comunista na Rússia são iniciativas para garantir a linearidade, a propriedade do novo saber, da nova verdade.

Por alguns estantes, houve digressões de como o conhecimento podia ser construído. Houve, por algum tempo, o estudo do behaviorimo, priorizando o conhecimento através de estímulos( insumos) do ambiente. Migrou-se depois para o cognitivismo, que defendia a tese de que o indivíduo possui um conjunto de habilidades inatas para se comunicar e aprender. Logo após, temos a doutrina interacionista, que conceve a aprendizagem através da interação do indivíduo com os demais em uma ambiente de aprendizagem.

Posteriormente, houve a inserção de especialistas da linguagem ligados a psicologia social e a filosofia fenomenológica de Husserl, fazendo surgir uma visão mais holística na construção do saber. Na visão passada, o sujeito se distancia do objeto de estudo, tornando o ensino mecanicista e autoritário.

De acordo com essa visão tradicional, o professor é detentor do discurso autoritário, transmitindo o conhecimento sem haver a linguagem dialógica (Bakthin, 1999) com o seu alunado.

Em contraposição a esse ensino autoritário, surge o papel do verdadeiro professor – facilitador no processo de ensino – aprendizagem que trás questionamentos para os alunos e os instigam a indagar a realidade.

Com a ebulição ocasionada por esse professor inovador na mente crítica dos alunos, surge a desconstrução de verdades estabelecidas, gerando novas verdades. ( O despertar para a inovação e a instabilidade da cognição).

5.1 CONDIÇÕES E ARGUMENTOS PARA A INOVAÇÃO

Ao longo da cultura escolar, a linearidade do ensino privilegiou a aplicação de metodologias estabelecidas por instituições autoritárias, ou comunidades científicas. Para romper com a linearidade cartesiana, surge o professor inovador, que irá interpolar rupturas nas metodologias e procurar desmistificar as verdades professadas. Elenco a seguir as condições e argumentos para a inovação.

A inovação exige a linguagem dialógica como ruptura do dogmatismo imposto pelo método cartesiano, com isso, o professor provoca uma ebulição de questionamentos nos alunos, tornando-os filósofos da aprendizagem; logo haverá uma profícua aquisição de conhecimento no ambiente escolar.

“A aquisição exige do professor uma atitude de contínua aprendência.” ( A mente deve está isenta de crenças, dogmas, ou ideologias).

“Inovar é aliar-se a autopoiese, a autoconstrução, não imposta de fora” ( a mente, o corpo, e o cérebro caminham concomitantemente com o conhecimento humano).

Inovar significa ter paciência. É preciso que o corpo, o cérebro e a mente entrem em sinergia para haver a apreensão do significado de verdades factuais.

Em suma, o que possibilita de fato a inovação? A incorporação da linguagem dialógica do professor, fazendo ecoar a polifonia nos alunos e com isso serem capazes de des(re)construir conceitos pré – estabelecidos ao longo da evolução epistemológica.

6. ANEXO – Entrevistas

Para complementar esse artigo, entrevistei dois diretores de dois cursos de línguas de Fortaleza acerca de sua visão crítica no processo de ensino-aprendizagem e na construção do sujeito aprendiz no contexto político-econômico e cultural. As entrevistas têm como cerne analisar se há, por parte dos dois entrevistados, uma conscientização no tocante a importância do professor crítico - reflexivo no processo de ensino – aprendizagem, que papel o poder político assume na educação brasileira e a relevância do professor inovador no ensino de LE.

Logo após as entrevistas, analisarei se o resultado delas serão pertinentes no contexto político-econômico e cultural brasileiro.

6.1. Primeira entrevista

a) Qual é a importância do professor crítico e reflexivo no processo de ensino – aprendizagem?

Eu acho que para a aprendizagem se realizar, satisfatoriamente, nós, como professores, temos que ser o misto de tudo: educador, professor e crítico. Se eu tenho um grupo de alunos, é necessário rever os meus conceitos, ver a classe social e econômica deles, enfim, as necessidades individuais de cada um. Temos que ser abertos para críticas, tanto por parte dos alunos, quanto por parte de outros educadores que possam nos auxiliar na nossa prática docente.

b) Que papel o poder político assume na educação brasileira?

A Educação brasileira está em terceiro ou quarto plano. Nós, quando viajamos para outros países, percebemos que há uma grande valorização em relação à educação, a assistência que se dá aos estudantes e aos professores. Eu já ensinei em um colégio público que era uma pobreza. Os políticos só fazem prometer, exigir notas e não dão condições para melhorar o ensino. Nós passamos por uma escola dessas e as portas são quebradas, os muros são pichados, não há segurança. Imagine lá dentro! Imagine o profissional da educação, ganhando um misero salário para trabalhar 40 horas. Ele nem tem tempo para se capacitar. Hoje o professor não quer mais ensinar em escolas publicas. O problema também está em escolas particulares. Por exemplo, a novela Caminhos das Índias mostra como os pais tratam mal os professores. Eu estou de acordo com o pensamento do vereador Guilherme Sampaio, líder do Governo na Câmera dos Vereadores. Ele disse: “as melhores escolas da Prefeitura e do Estado são aquelas que têm educação rígida, vigilância e compromisso com o trabalho.” Agora, para o diretor fazer isso, só se for por muito amor, pois ele não tem apoio político. Temos que conscientizar os pais que a cada dia está pior.

c) De acordo com a sua opinião, o professor tem que se manter com uma visão cristalizada do ensino e aprendizagem, ou ser capaz de transformá-la a fim de que incorpore práticas inovadoras de ensino?

Claro! O professor para se dar bem hoje, para se sentir realizado, tem que ser capacitado. Ele não tem que ficar apenas em sala de aula passando o conteúdo e aprende quem quiser. Sempre menciono isto na reunião: “nós professores, acima de tudo, somos educadores. Somos peça importante no desenvolvimento do nosso país.” Se a gente educa, ao mesmo tempo ensina, ai é um trabalho bacana. Como? Você tem que inovar, você tem que ler. Você tem que se capacitar. Tendo condição, você tem que viajar para criar coisas e fluir em sua mente metas inovadoras. É importante deixar um pouco de lado a rotina de sala de aula. Outro exemplo bom são os colégios da Europa e dos Estados Unidos, que fazem aulas de campo. Isso é importantíssimo, logo enaltece o estudo através dessas contextualizações. Então, não é só quando o aluno chega à faculdade. Como exemplo, os alunos de medicina têm que fazer uma residência e aprender na prática. e os outros. Isso tem que ser feito desde o começo para que eles tenham uma base no exercício da profissão.

6.2. Segunda Entrevista

a) Qual é a importância do professor crítico e reflexivo no processo de ensino – aprendizagem?

Toda ação educativa deve partir de reflexões. As teorias que existem têm que ser assimiladas e incorporadas aos saberes que cada adquiriu ao longo da vida.

b) Que papel o poder político assume na educação brasileira?

O poder político tem o papel de incentivar o ensino de língua estrangeira, uma vez que estamos vivendo a globalização, onde as barreiras caíram e os povos estão se comunicando mais. Temos como exemplo o caso da China que está exportando produtos e há uma maior procura, hoje em dia, pelo estudo do Mandarim, que será a língua do futuro mercado econômico.

A política deve fortalecer a vontade do estudante de estudar as línguas estrangeiras.

c) De acordo com a sua opinião, o professor tem que se manter com uma visão cristalizada do ensino e aprendizagem, ou ser capaz de transformá-la a fim de que incorpore práticas inovadoras de ensino?

O professor que não tiver uma postura inovadora não tem condição para atuar no mercado de trabalho. Estamos vivendo na época da sabedoria e, como educador, o professor tem que fazer com que o aprendiz desperte a curiosidade, a iniciativa e se prepare para resolver os problemas que aparecem no dia-a-dia. Enfim, despertar a consciência crítica no educando é o papel fundamental do educador.

7. CONCLUSÃO

Ao longo da discussão sobre o professor crítico–reflexivo, muitos conceitos, elencados no corpo desse artigo, são pertinentes a realidade da maioria dos educadores brasileiros. Os critérios relacionados com a formação do professor de LE como a formação crítica do educador na perspectiva da LA (Lingüística Aplicada), uma definição de política e a política de ensino de línguas, o professor reflexivo e as maneiras inovadoras de ensinar e aprender são refutados por muitos educadores que, ao longo da prática docente, não incorporam essas filosofias educacionais. Logo eles são tachados como tradicionalistas e prepotentes, pois não aceitam mudanças profícuas no modus operandis de lecionar; não procuram interpolar práticas inovadoras (sendo anacrônicos perante o ensino) para des (re) construir conceitos já obsoletos na educação; não rompem com crenças, que os impossibilitem de aperfeiçoar a prática de ensino; não têm prática reflexiva que os possibilitem fazer um mergulho na prospecção de sua função como educador e negligenciam a conscientização política.

Em contra partida, muitos aspectos que foram discorridos no parágrafo anterior, são valorizados e refletidos pela maior parcela de educadores. Eles são, verdadeiramente, compromissados com a realidade social, econômica e cultural dos seus alunos. O educador moderno leva em consideração, com muito zelo, a prática crítico – reflexiva no contexto sócio-econômico e cultural em que vivemos.

Enfim, podemos comprovar com a entrevista que ambos os diretores estão conscientes sobre o papel do verdadeiro professor reflexivo no tocante a sua prática docente e como é relevante que ele insira práticas inovadoras ao longo de sua prática docente. Outro aspecto importante salientado pelos entrevistados é que o professor deve ser conscientizado sobre o papel da Política na Educação e aberto para práticas inovadoras de ensino, servindo como alicerce para um ensino plausível em nosso contexto educacional.

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Raphael Arruda
Enviado por Raphael Arruda em 24/07/2009
Código do texto: T1717799
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