Leitura e cidadania

Explicação: Entre os dias 20 e 24 de julho de 2009 o Ginásio Multidisciplinar e o Centro de Convenções da UNICAMP foram palcos do 17° COLE - Congresso de Leitura do Brasil, o mais importante evento sobre o tema. Lá tive um trabalho aprovado pela Comissão Científica do congresso como Comunicação (apresentação oral), do qual socializo, aqui, a conclusão do mesmo.

Uma conclusão tem a função de indicar a existência do trabalho e de sintetizá-lo em linhas gerais, fazendo como que um resumo das discussões do corpo do texto e apontando o que o estudo pode sinalizar em termos de aprendizado e proposição de ações com base nele. Este trabalho, completo, está em vias de ser publicado na página eletrônicas do 17° COLE, a qual poderá ser acessada nas próximas semanas no endereço: http://www.alb.com.br/portal/17cole/index.html.

Conclusão

A cidadania não é algo que possa se encaixar em definições formais. Ele é prática, exercício, atividade e atitude. Como tal, implica luta, ganho e perda, fracasso e conquista. Sua instituição, por conseguinte, implica constante luta, sem a qual a cidadania pode não ir além de um simples sonho.

Nesse embate, que envolve aspectos econômicos, políticos, culturais, sociais, humanos, dentre outros, se o computador não pode ser visto como a salvação dos males da educação nacional, ele também não precisa ser concebido como uma ameaça ao livro, à leitura, ao trabalho do professor e à socialização dos estudantes.

Ao contrário dessas posições extremas e alarmistas, penso que o computador pode ser compreendido como um recurso a mais, como um instrumento auxiliar rico e de grande valia no processo de produção do saber escolar, algo de uma potencialidade inestimável quando abordado no contexto da educação formal.

Nessa perspectiva, a leitura não pode ser entendida como mera decodificação de letras, palavras, frases e orações. A leitura pode ser entendida como uma ponte para a relação com o mundo, com a sociedade ativa, como instrumento de construção, pelo indivíduo, do senso de pertencimento aos processos humanos de produção e apropriação de bens materiais, sociais, políticos e culturais imprescindíveis à cidadania.

Claro que isso, dito assim, num discurso que trabalha a compreensão conceitual do assunto, parece algo fácil de alcançar. Contudo, trata-se de uma prática que requer dedicação, esforço, disciplina e inventividade na mobilização desse recurso por parte de professores, estudantes e comunidade.

E mobilização que não se faz de qualquer modo, mas compreendendo o computador como local privilegiado de leitura, uma vez que apresenta enormes possibilidades por meio da telatexto, um caminho pedagógico legítimo à educação básica do humano que pode vir a ser um cidadão e um trabalhador.

Nisso, o uso do computador vai além de ser motivado apenas pelo direito à informação, uma vez que ele implica os direitos de justiça econômica, de participação política, de acesso e permanência nos ambientes da educação formal.

Por isso, faz-se necessária e urgente uma prática inovadora de leitura mediante o emprego do computador e dos canais que ele dispõe para essa atividade, e de maneira que não se superestime, nem se subestime as potencialidades das novas tecnologias, aqui metaforicamente tratadas pela evocação do recurso “computador”, uma vez que o que está relacionado a programas dessa natureza, como é o caso do Projeto Um Computador por Aluno, é a possibilidade de formação de subjetividades e identidades qualificadas pela condição cidadã.

Por essas razões, entre outras que poderiam ser lembradas, programas (semelhantes ao do Projeto UCA) que tentam incluir o uso do computador como caminho ao ensino e à aprendizagem não podem abrir mão de uma postura ética nesse uso, preferentemente qualificada por pressupostos humanos, escolares, epistêmicos, pedagógicos, didáticos, políticos, teóricos, metodológicos e práxicos que contemplem a dignidade humana que advém da conquista da cidadania.

Aí, então, o valor de se lutar pela justiça social: um desafio, pois, no Brasil, uma elite sempre empregou privilégios em benefício próprio e para negar o respeito aos direitos de cidadania. Mas a justiça social é decisiva: sem ela, como podemos falar da escola como um legítimo lócus de educação para a cidadania?