PLANEJAMENTO, PLANO E EXECUÇÃO.

O PLANO.

Ah, o planejamento!

Parece que minha vida foi feita para isso. Para o planejamento. Toda minha formação acadêmica, mais os extracurriculares que fiz, planejamento de marketing, planejamento estratégico, planejamento financeiro e outros tantos me trouxeram aqui. Imaginar cenários futuros, redispor a realidade. Nasci para isso.

Sento-me, fazendo pose de “chairman”. O staff reunido. Vamos divagar, viajar. Tenho vontade de acender um charuto. Não o faço. O Serra pode mandar me fuzilar. Engraçado. Tantas medidas para salvar a indústria automobilística. Cada carro expele, em minutos, mais fumaça que todos os meus cigarros durante uma vida. Ops, estou viajando longe demais. Vou voltar ao planejamento. Próxima vez vou combinar num restaurante. Um bom jantar regado a uísque e vinho. Etilicamente regada a conversa flui mais solta, as idéias parecem mais brilhantes, as certezas ficam mais certas. Mas vamos ao planejamento.

Já sei, grita alguém, vamos pintar uma faixa na Lua! Com o dístico “O saber pelo saber”. Ótimo, concordo eu. Mas vou acrescentar: E EU sei tudo!

Nossa biblioteca. Funcionará assim: cada usuário retirará, marcando numa planilha de computador, o que leva, quando leva, quando deverá devolver. Sem gente fiscalizando. Para evitar qualquer possível desonestidade, câmeras de vídeo gravarão tudo.

Todos aplaudem. Seguimos então para a etapa seguinte.

O PLANO.

Colocar no papel e tornar executável nosso planejamento. É, nessa hora preciso mais que meu staff. Preciso também do pessoal de linha, dos técnicos para sugerirem como viabilizar a coisa toda. O quê? Não temos como pintar a faixa na Lua? Os americanos não concordam? Eita, e só eles é que tem a tecnologia para chegar lá. E os russos e japoneses? Os russos venderam os foguetes para os traficantes de drogas? Putz, nem sabia. Os japoneses estão mais preocupados com a crise mundial e nanotecnologia, não são pintores. E os chineses, insisto eu. Estão preocupados em criar uma nova moeda mundial para substituir o dólar. Isso eu sabia. No leilão de títulos norte-americanos, em junho passado, não apareceu nenhum chinês para comprar dólares.

Ok. Deixamos isso então – apesar de eu achar que seria ótimo. Vamos para a biblioteca. Não venham me complicar. Sei que existem – e estão disponíveis – tecnologias de planilhas de auto-preenchimento e tecnologias de câmeras para gravação de som e imagem. Como é que é? Se notarmos a falta de algum exemplar, isso no dia seguinte, precisaremos assistir dezesseis horas de gravação da véspera? Se notarmos com dois dias serão trinta e duas horas de gravação? Orra, meu. Não tem uma câmera que só grave quando alguém roubar, como no cinema e na novela? Ainda não? Eita, sou eu que estou à frente do meu tempo. Vamos seguir adiante, mas esse plano já está todo remendado, parece calça de caipira. Ou orçamento federal.

A EXECUÇÃO

É aqui que o bicho pega. Passada a fase “viajandão” de planejamento, passada a fase de plano, que é colocar no papel, de forma executável, o planejamento, chegamos à fase de execução. Aeronáutica localiza e bombardeia, artilharia continua o estrago. Marinha transporta mas, na hora de tirar o inimigo do buraco e fazê-lo assinar a rendição não tem jeito, tem que ser a infantaria mesmo. É, meu caro. A soldadesca é quem faz isso. Transferindo para as empresas, é quem se costuma chamar de “chão de fábrica”. E se estes não responderem à altura, estamos ferrados. Podemos usar nosso plano como papel de embrulho. Ou outro fim qualquer, menos nobre. Não descrevo por ser meio grotesco.

Agora temos que ter a certeza que:

- as propostas traçadas no plano são realmente realizáveis,

- que os executores entenderam exatamente onde tem que chegar e a sua (deles) responsabilidade individual, e

- que prêmios ou punições ocorrerão caso a execução seja ineficiente.

Aqui vale a máxima "o que não se pode medir, não se pode administrar". Só tem uma forma, prestação de contas e controle. Gorbachev: Confie, mas verifique. Desenvolvam formas adequadas de prestação de contas. E controle-as "pari passu". Se sua equipe ficar melindrada com prestação de contas, mostre-lhes que isso é apenas dizer: Ei, estou aqui e fiz a minha parte!

Meus caros, preocupem-se muito mais com essa terceira etapa – a execução – do que com as etapas anteriores. Uma execução acertada, mesmo que de um plano mal formulado é muito melhor do que um plano brilhante que não pode ser realizado.