O PORRE

O PORRE

Nos velhos tempos de minha prestação de serviços militar, participei de um acampamento à beira de um rio onde iríamos executar um trabalho de construção de uma ponte no dia seguinte.

Deixamos a pequena estrada e nos colocamos à margem do rio quase que em baixo da ponte de concreto da citada estrada. Preparamos o local durante a tarde e no final do expediente quando o restante da tropa foi embora, restaram apenas sete companheiros e eu para dormirmos no local vigiando o material.

Após montarmos as nossas barracas (quatro barracas de dois praças), os meus amigos resolveram desbravar a região e seguiram pela estradinha para verem aonde iriam chegar. Eu fiquei sozinho, aguardando. O tempo passou, não sei quanto, quando de repente ouvi uma cantoria, eram os sete desbravadores chegando.

É sabido por todos que qualquer caminho sempre leva ao botequim. Aquela estrada não era diferente. A turma andou, andou e encontrou o bar. Encheu o “pote” e voltou numa alegria sem conta. Um agarrando o outro, o outro agarrando o um até o nosso acampamento. Um estava passando mal, querendo vomitar. O outro arranjou um comprimido de melhoral e insistia em que o colega o tomasse. Nisso resolvi colaborar: enchi uma caneca com água do rio, que ele ingeriu com o comprimido e, chegando ao estômago o efeito foi rápido, nada ficou lá.

Teve camarada que caiu sobre as barracas derrubando tudo, tendo de armar novamente. Um outro preferiu dormir numa moita de capim.

Conforme eu citei, as barracas eram para dois, então havia um que era o meu “companheiro de quarto”. Ah, o meu companheiro! Que porre! Abriu sua cama de campanha e deitou-se. Logo o cheiro da bendita cachaça inundou a pequena barraca. Nisso, lembro-me bem, eram onze e meia da noite e eu sabia de antemão como seria estafante o dia seguinte, portanto precisava dormir, mas, como fazer? Puxei a cama com ele em cima para fora até a altura de sua cintura, eliminando, assim, todo o odor da bebida. A lua cheia clareava aquele rosto redondo e vermelho do catarinense.

Amanheceu, os sete, assim um tanto sem jeito, chamaram-me à parte, pedindo que eu não os denunciasse. Estavam preocupados com a chegada da tropa, oficiais, sargentos, etc. e com o que eu poderia relatar.

-O que, alguém bebeu? Quem? Quando? Não sei, dormi tanto que não vi nada.

-Que saudade, companheiros!

Gilson Faustino Maia
Enviado por Gilson Faustino Maia em 15/08/2009
Código do texto: T1756204
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