Dinheiro & amigos

Algumas frases são muito usadas para explicitar quase que uma filosofia de vida.São os chamados ditados populares ou, se quiserem um nome mais pomposo, máximas filosóficas.Todo mundo tem pelo menos uma para uma dada situação que exige um pensamento mais sério, uma explicação mais inteligível.Confesso que às vezes as utilizo também, mas costumo sempre, ao dizê-las ou ao recebê-las, pensar um pouco mais a respeito das mesmas para até discordar delas se for preciso.Uma dessas frases que ,não só me faz refutá-la ,mas me causa indignação é: Amigos, amigos;negócios à parte! Não posso concordar, em hipótese alguma, com a verdade que esse ditado encerra.Não só pelo valor imensurável que dou ao sentimento da amizade, mas, principalmente, pelo fato que "ser amigo é muito mais do que ser amigo apenas nos momentos de felicidade completa e de abundância".A vida nos oferece surpresas de toda ordem, desde as boas e saudáveis como as incômodas e desesperadoras.E não é difícil imaginar que qualquer um de nós ou qualquer amigo querido pode, num dado momento da vida, se ver numa situação financeira desastrosa.E nesses momentos nem sempre se tem a lucidez para tomar as decisões corretas, não deixar o barco afundar ou o desespero falar mais alto.Como deixar um amigo numa situação assim sem oferecer ajuda? Muitas vezes uma conversa, um conselho, uma direção apontada pode ser a solução.Em outras ocasiões, será uma ajuda financeira mesmo que dará alívio a quem precisa de socorro.Afinal vivemos numa sociedade capitalista onde o dinheiro dá as cartas.E se um bom saldo bancário é o sonho de todos ,e muitos conseguem sua autonomia financeira com muito suor e trabalho, passando por altos e baixos, por perdas e ganhos, por aplicações malsucedidas ou exitosas, a gente sabe que ninguém está livre, por motivos variados, a um declínio financeiro.E se um amigo nos chega pedindo ajuda, é possível simplesmente ignorar? Oferecer apenas o ombro? os ouvidos? dizer que sente muito? Claro que não!Amigos, amigos e todas os ônus e bônus que a amizade acarreta.Cada caso é um caso e deve ser analisado com a razão e o coração também.Se a questão é grana e eu posso ajudar, que bom!Se o negócio da minha amiga está prestes a ruir e ela pede o meu auxílio, fico imensamente feliz em socorrê-la.Não importa com que parcela. O que vale é acreditar que as coisas não se separam , assim como o óleo e a água.O valor da amizade está na comunhão de bons e maus momentos, na confiança recíproca, construída ao longo da vida, despojada de preconceitos e de falsos princípios como esse que exponho aqui.Já ouvi muita gente dizer: "Perdi um amigo por emprestar dinheiro.Isso de misturar amizade com dinheiro não dá certo.Se a pessoa não paga, como fica?" Me perdoem os entendidos em especulações financeiras, mas, para mim, amizade vai muito além dessas ponderações aparentemente práticas e mesquinhas.Quem sabe das dores e das alegrias de seus amigos , compartilha tudo e mais um pouco sem abrir mão de si , sem cair na mera ajuda para aliviar a culpa.Quem ama, socorre e pronto.A fria racionalidade fica por conta de quem não sabe exatamente a preciosidade de se ter amigos de verdade.