A vida é muito mais que um reality

Vivemos uma época de exposição total.Os "realities" estão aí para comprovar.A vida alheia passou a ser a atração principal para muita gente.Não que isso seja novidade.Afinal desde tempos remotos que o que se passa na casa do vizinho desperta a curiosidade das pessoas que não dão conta da própria vida.E isso sempre vai existir.As fofocas de alguns programas televisivos e das revistas também são bons exemplos de como falar dos outros rende dividendos.Em tempos de celebridades instantâneas, aparecer é a ordem.E quem não o consegue acaba entrando numa crise existencial que varia desde uma simples apatia até uma depressão profunda.A lógica atual é essa: Falam de mim, logo existo.Tudo é efusivo demais.E as pessoas comuns acabam entrando na onda.As famílias passaram a mudar seus hábitos(quando mesmo?).Na festa de quinze anos da filhota tem de ter príncipe global(ou da concorrente).Aniversário de criança? Não dá mais pra ter a simplicidade de antes.É preciso chamar muita gente, fazer um estardalhaço e gastar o que se tem ou, se faltar dinheiro, vale se endividar também.Afinal o que os outros vão pensar, não é? Assim, aquele pimpolho qua ainda não entende nada da vida, nem imagina o trabalho da família na organização da festa do seu primeiro aninho.E aquele que motivou a festa, provavelmente vai estar dormindo na hora do tradicional "parabéns pra você".
Tudo isso poderia até ser inofensivo, não fosse a exacerbação da prática do exibicionismo.Quem não se enquadra aos novos tempos, acaba sendo tachado de antissocial, de esquisito, de nerd, de qualquer outra coisa.É quase impossível ter privacidade, querer um pouco de reclusão.Se a pessoa fala baixo, é tímida;se não gosta de baladas ,é estranha ;se gosta de ficar em casa, é mal amada, e assim vai.Onde fica o direito de escolha do indivíduo? Por que se tem de embarcar em qualquer canoa?Fazer o tempo todo alguma coisa em função dos outros é barulhento, estressante e neurótico.É preciso arranjar tempo para SENTIR.Isso sim é silencioso, relaxa e nos energiza para o trabalho e para a vida.Acho que a gente precisa defender mais a bandeira do sentimento.Claro que sem descuidar das ações, que devem cada vez mais estar em sintonia com o que se passa em nossos corações.Mas está faltando o treinamento do SENTIR.Nas academias de ginástica não existe essa modalidade.No corre-corre diário não é possível fazê-lo.Mas há que se arranjar um momento para o treinamento, para que a introspecção, a reclusão, tão benéficas para o nosso autoconhecimento, não sejam confundidas com tristeza( que também deve e pode ser sentida) ou depressão( que é da ordem do humano, mas aí já implica em tratamento).
É isso.Creio que essa enxurrada de realities shows que vemos na tv só contribui para nos afastar cada vez mais da nossa condição humana.Passamos a ser caricaturas do que somos na medida que passamos a querer ser o outro.E só aprendendo a sentir mais, sem contudo abrir mão da racionalidade, apenas depurando e fortalecendo nossos sentimentos, poderemos viver melhor nesses dias de superexposição e exclusão da privacidade.
amarilia
Enviado por amarilia em 24/08/2009
Reeditado em 08/01/2013
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