A SOMBRA DE BUDA

Segundo lenda muito antiga, quando Buda morreu sua sombra aparecia numa gruta da Índia. Milhares de seguidores acorriam a esta gruta para verem Buda. Obviamente, o que se dizia ser a sombra de Buda nada mais era do que a sombra que se formava na entrada da gruta por efeito da luz solar. Mas, para quem queria ver Buda nesta sombra, nenhum argumento de causas físicas conseguia desfazer esta convicção. Fenômeno semelhante aconteceu, em outros tempos, no Recife, quando pessoas começaram a ver a imagem de Nossa Senhora em janelas sujas de casas e conventos. Na história há inúmeros relatos em que o imaginário humano produz lendas, se fixa em ilusões e acredita em sombras. E isto não apenas quando se trata do religioso. Há também sombras políticas. Neste sentido, o momento político brasileiro é fértil em sombras. Vejamos.

Buda, como personagem histórico, era real, e se chamava Sidharta Gautama. Em nosso país existem partidos políticos e políticos reais. Mas, ultimamente, os ideais políticos de alguns partidos, e de alguns políticos que se diziam entusiastas destes ideais "morreram". É difícil admitir a morte de ideais e de pessoas que imaginávamos nossos protótipos idealistas. E, enquanto não admitirmos sua morte, perduram as sombras do que era real em nossa mente. Mas isto não elimina a cruel realidade dos fatos. Pois, a verdade é que, em nosso país, ocorreu, uiltimamente, uma mortandade precoce de ideais e da esperança por lideranças políticas dignas e honestas. Sobraram sombras. Sombras dos ideais e das esperanças que ligávamos a partidos e a políticos. Mas, agora, não passam mais de sombras, puras ilusões. Como no caso da sombra de Buda, milhares de cidadãos não se conformam, e não admitem que tudo isto não passa apenas de sombra. Foi difícil admitir que Buda havia morrido, como agora é difícil aos militantes admitir que ideais sucumbiram, e líderes morreram politicamente, embora continuem biologicamente vivos.

Caiamos no real. Sombras são sombras. Busquemos uma realidade nova. Ingênuos, iludidos e alucinados existem suficientes. O que precisamos, até a realização das eleições, em outubro de 2010, é senso crítico, consciência, realismo e memória histórica. Deixemos as sombras e suas futilidades se desvanecerem. As sombras, ou os sombras, não merecem serem prestigiados. O que representavam já morreu. Todo o empenho deverá ser por novos ideais e por novas espoeranças, ou pelo reavivamento de antigos ideais que foram soterrados.

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