S.O.S. FUTEBOL CARIOCA
Moçada, estive refletindo nos últimos anos e sejamos francos: o futebol da Maravilhosa enfrenta péssimos momentos há muito tempo. Fôssemos apenas mascates da bola, com brilharecos aqui e ali e um titulozinho ou outro, seria um fato consumado e indiscutível. Mas o que dizer daquele que pode ser considerado o berço do futebol brasileiro?
Inegável é que nosso estado conta com uma história esportiva linda: São Januário é um dos mais tradicionais estádios brasileiros, Vasco e Bangu foram as agremiações pioneiras na inserção negra no futebol, a maior torcida do Brasil é a do Flamengo, o maior estádio brasileiro é o Maracanã, o Botafogo é até hoje uma das maiores bases da Seleção Brasileira com Garrinchas, Quarentinhas, Helenos e Zagallos, o Fluminense encantou o Brasil com a Máquina Tricolor de Rivellino, Carlos Alberto Torres, Doval, Paulo César Caju, Dirceu e Cia. A Charanga do Jaime, primeira organizada do Flamengo pode ser considerada a pedra fundamental da maioria das torcidas organizadas do Brasil. O Fla-Flu, considerado o clássico mais charmoso do país, é nosso.
Querem mais? Somados, os grandes clubes da Guanabara detêm:
- 2 Mundiais (se considerarmos a Taça Rio de 1951 do Fluminense);
- 6 títulos sul-americanos de expressão (Libertadores de Vasco e Flamengo, Sul-Americano de Clubes do Vasco, Copa MERCOSUL e Copa Ouro Sul-Americana do Flamengo, Copa Conmebol do Botafogo)
- 11 títulos brasileiros (Flamengo, em 80, 82, 83, 87 (danem-se o Sport e a CBF!) e 92. Vasco, em 74, 89, 97 e 00. Fluminense, em 84 e Botafogo, em 95)
- 3 Copas do Brasil (Flamengo, em 90 e 06 e Fluminense, em 07).
Com relação a torneios nacionais longínquos, restrinjo-me à Taça Brasil de 1968 do Botafogo e ao Roberto Gomes Pedrosa, vulgo “Robertão” do Fluminense. Isso sem contar inúmeros torneios amistosos, regionais, nacionais e internacionais.
Infelizmente, o nobre esporte bretão carioca não faz o menor juz ao seu passado. Hoje temos o Vasco na Série B, Botafogo e Fluminense na zona de rebaixamento e o Flamengo mergulhado em uma mediocridade da 11º colocação. Para não dizer que não falei das flores, o Duque de Caxias está prestes a retornar para a Terceirona, abismo onde se encontram os amáveis Bangu e América/RJ.
Qualifico como últimos momentos da glória carioca as conquistas vascaínas entre 97 e 00. Mesmo assim, o Gigante da Colina já se encontrava anarquizado pelo regime fascista de Eurico Benito “Mirandolini”. Caros vascaínos, espero que concordem: se vosso clube está rebaixado, a culpa não é do Roberto Dinamite, o qual acredito que transformará o Cruzmaltino (vão dizer que iniciativa “o Vasco é meu” não é interessante?). É que, durante a era de títulos, talvez vocês estivessem tão embriagados que não tenham percebido a bagunça em São Januário. Ora, não os culpo por isso.
O Flamengo foi campeão brasileiro em 1992 pela última vez e se transformou em caixa de supermercado a partir de 1995. Prezados rubro-negros, hão de convir que Edmundo, Palhinha, Alex, Denílson, Marcelinho Paraíba são apenas alguns “cases de fracasso”, correto? E de 92 para cá, o Flamengo se contentou com copas internacionais já extintas, uma Copa do Brasil e vencer os hoje varzeanos Campeonatos Cariocas. Recentemente, a Nação Rubro-Negra foi forçada a aturar o escândalo com a ISL, o qual ampliou a já titânica dívida.
O Botafogo, com seu expoente derradeiro em 1995, não fez mais nenhuma campanha digna de sua tradição em Brasileiros e não disputa a Copa Libertadores desde então. Nem mesmo o rebaixamento em 2002 significou renovação em General Severiano. O Glorioso continua apenas figurando no cenário brasileiro.
O Fluminense conseguiu manchar as Laranjeiras com a pérfida Série C em 1999. Após ter caído à B em 1996, o Flu foi favorecido com a virada de mesa, mas nem assim funcionou: em 97 e 98, o Tricolor atingiu o inferno. Pior ainda, não venceu a Série B e agora cumpre uma campanha que lembra seus piores momentos. E não deve o torcedor do Flu considerar vice de Libertadores e semifinais de Brasileiros são relevantes. A verdade é que a relação de amor e ódio com a Unimed, perdoem-me o trocadilho, mostra-se maléfica à saúde do clube. Permitam-me comparações interestaduais: os clubes paulistas jamais deixaram a vanguarda. A última vez que campeão e vice do Brasileirão não tinha um time de São Paulo foi em 1992, com Flamengo x Botafogo. A última conquista nacional foi a Copa João Havelange do Vasco em 2000, a última glória internacional de um torneio realmente relevante foi a Libertadores de 1998, também vascaína. Posteriormente, Flamengo e Fluminense ganharam a Copa do Brasil em 2006 e 2007 respectivamente, mas foi só.
O que me dizem de agüentar zombarias bairristas? E perder títulos em pleno templo do Maracanã, como fizeram Botafogo (Copa do Brasil de 1997), Flamengo (Copa do Brasil de 2006) e Fluminense (Libertadores de 2007 e Copa do Brasil de 2005, mas em São Januário)? Em comum também estão derrotas para equipes de menor expressão – vide o Fluminense perder para o Paraná por 6x1 em 2004, por 6x0 para o Sport em 1996, o Flamengo levar 5x0 do Coritiba DUAS VEZES (2003 e 2009), o Vasco para o Vitória por 5x0 em 2008 e por 5x1 para o Figueirense em 2005. O Botafogo não deixa por menos ao sofrer 4x0 do a.paranaense no Maracanã em 2006 e 5x2 para o Vitória em 2008. Estes, claro, são somente alguns exemplos.
Não existem muitas perspectivas de futuro. O Fluminense não se entende com a co-gestora, o Botafogo é desleixado quanto ao planejamento e o Flamengo vive de um orgulho retrógrado no que tange à superioridade numérica de títulos em relação aos vizinhos e dimensão da torcida. O Vasco ainda é uma incógnita, posto que o real início da gestão Dinamite começou em 2009. Porém o atual time vascaíno deve ser reformulado para a Série A de 2010. (O Vasco vence a Segundona, cobrem de mim depois).
O Campeonato Carioca virou uma várzea. Nossos clássicos não decidem a parte superior na tabela. Os dirigentes parecem não se incomodar. Neste ponto não cito o Vasco, mas no Flamengo a diretoria atrasa salários e não investe na estrutura, os cartolas botafoguenses reclamam da conspiração sem avaliar o que contratam e o Fluminense não se entende mais com sua parceira. A questão é: algum dirigente REALMENTE se importa com seu clube? Os torcedores já ouviram muita ladainha e pouco trabalho. E eu me pergunto onde ficou a riqueza e formosura do esporte bretão do Rio de Janeiro.