Jesus é o maior exemplo a ser seguido?

Jesus nunca pronunciou uma palavra em favor da educação. Nunca sequer mencionou a existência de qualquer ciência. Nunca disse algo em favor da indústria, da economia, de qualquer esforço que visasse melhorar as condições do mundo. Era inimigo dos bem-sucedidos, dos ricos. O homem rico foi enviado ao inferno não porque era mau, mas porque era rico. Lázaro foi enviado ao céu não porque era bom, mas porque era pobre. (cf. Lucas 16)

Cristo não se importava com pintura, escultura ou música – não dava importância à arte. Não disse nada sobre os deveres das nações uma para com as outras, dos reis para com seus súditos; nada sobre os direitos humanos; nada sobre a liberdade de pensamento e expressão. Não disse nada sobre a santidade do lar; nada em favor do casamento; nada em honra da maternidade.

Nunca se casou. Viveu perambulando de um lugar a outro acompanhado de uns poucos discípulos. Nenhum deles parece ter-se empenhado em qualquer trabalho produtivo; provavelmente viviam de esmolas.

Todas amarras afetivas eram tratadas com desprezo; este mundo era sacrificado em nome do próximo; todo labor era desencorajado. Deus nos ajudaria e protegeria.

Finalmente, nos seus últimos momentos de vida, Cristo, pensando estar errado, gritou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. (cf. Salmos 22:1)

Descobrimos que o homem é o responsável por si próprio. Ele precisa construir uma casa; precisa cultivar a terra; precisa arar e semear; precisa inventar; precisa trabalhar com a mão e com a mente; precisa superar suas dificuldades e seus obstáculos; precisa conquistar e manipular as forças da natureza para com isso utilizá-las em prol do mundo.

Por que deveríamos colocar Cristo no ápice ou acima da raça humana?

Ele era mais bondoso, mais compreensivo, mais auto-sacrificante que Buda? Era mais sábio ou recebeu a morte com uma calma mais perfeita que Sócrates? Era mais paciente, mais caridoso que Epíteto? Era um filósofo mais grandioso, mais profundo que Epicuro? Em que aspecto era superior a Zoroastro? Era mais suave que Lao tsé? Mais universal que Confúcio? Suas idéias a respeito dos direitos e deveres humanos eram superiores às de Zenão? Expressou maiores verdades que Cícero? Seu intelecto era mais sutil que o de Spinoza? Seu cérebro era comparável ao de Kepler ou Newton? Foi superior em sua morte, foi um mártir mais sublime que Bruno? Sua inteligência, sua força e beleza de expressão, sua amplitude e alcance de pensamento, sua riqueza em ilustração, sua aptidão no comparar, seu conhecimento da mente e coração humanos – de todas paixões, esperanças e medos – eram páreo para Shakespeare?

Se Cristo era de fato Deus, então conhecia todo o futuro. Ante ele abria-se todo o panorama do porvir. Ou seja, sabia perfeitamente como suas palavras seriam interpretadas. Sabia quais crimes, quais horrores, quais infâmias seriam cometidas em seu nome. Sabia que as chamas da perseguição abraçariam incontáveis mártires. Sabia que milhares e milhares de homens e mulheres corajosos definhariam em calabouços sombrios, cheios de dor. Sabia que a Igreja inventaria instrumentos de tortura; que seus representantes utilizariam chicotes, troncos, correntes e ecúleos. Viu no horizonte do futuro o brilho das chamas dos autos-de-fé. Sabia que nasceriam doutrinas de cada texto como fungos deletérios. Viu seitas ignorantes travando guerras umas contra as outras. Viu milhares de homens, sob o comando de padres, construindo prisões para seus semelhantes. Viu o sangue mais nobre e bravo escorrer em milhares de patíbulo. Viu os fiéis de sua palavra usando instrumentos de tortura. Ouviu os gemidos, viu as faces empalidecerem em agonia. Ouviu os gritos e gemidos, viu correrem as lágrimas das multidões martirizadas. Sabia que espadas escreveriam comentários sobre suas palavras – para serem lidos à luz de troncos. Sabia que a Inquisição nasceria de ensinamentos atribuídos a ele.

Viu as interpolações e falsidades que seriam criadas pela hipocrisia. Viu todas as guerras futuras, e sabia que acima desses campos de morticínio, desses calabouços, dessas torturas, dessas cremações, dessas execuções, estaria hasteada uma bandeira com o símbolo da cruz gotejando sangue.

Sabia que a hipocrisia seria adornada e coroada – que a crueldade e a credulidade governariam o mundo; sabia que a liberdade seria varrida da Terra; sabia que papas e reis usariam seu nome para escravizar os corpos e a alma dos homens; sabia que os descobridores, pensadores e inventores seriam perseguidos e aniquilados; sabia que sua Igreja despojaria o mundo da sagrada luz da razão.

Viu seus discípulos vazando os olhos dos homens, os esfolando vivos, decepando suas línguas, procurando descobrir todos os nervos responsáveis pela dor.

Sabia que em seu nome seus seguidores usariam carne humana como moeda; sabia que, por ouro, berços seriam roubados e seios maternos ficariam sem ter a quem alimentar.

Contudo, morreu com os lábios em silêncio.

Por que não falou nada? Por que não disse isto aos seus discípulos – e através deles ao mundo –: “Tu não queimarás, não prenderás nem torturarás em meu nome. Tu não perseguirás teu próximo”.

Por que não disse claramente: “Eu sou o Filho de Deus” ou “Eu sou Deus”? Por que não explicou a Trindade? Por que não disse que tipo de batismo lhe agradava? Por que não escreveu uma doutrina? Por que não partiu as correntes dos escravos? Por que não disse se o Velho Testamento era ou não inspirado por Deus? Por que não escreveu o Novo Testamento ele próprio? Por que deixou suas palavras ao sabor da ignorância, da hipocrisia e do acaso? Por que não disse algo positivo, definitivo e satisfatório sobre o outro mundo? Por que não transformou a lacrimosa esperança num céu em uma venturosa certeza sobre uma outra vida? Por que não nos disse algo sobre os direitos humanos, sobre a liberdade no agir e no pensar?

Por que se entregou a uma morte infame, deixando no mundo a miséria e a dúvida?

Eu vou dizer o porquê: Jesus era um homem, ele não sabia nada,

tudo o que ele proferiu não passava de conjecturas místicas para seduzir o povo judeu para suas idiossincrasias e devaneios dogmaticos.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 04/09/2009
Reeditado em 04/09/2009
Código do texto: T1791997
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