NATAL DA MINHA INFANCIA

Aquela semana que antecedia o natal de 1968 reinava um clima de harmonia na nossa família, fomos premiados pela empresa onde o meu pai trabalhava, com uma deliciosa Cesta de Natal Amaral.

Composta de vinho, chanpangne, uvas passas, uma enorme lata de marmelada e muitas guloseimas cobertas com palha de madeira.

Meu pai dizia: São Paulo não pode parar!

E ele seguia a risca essa máxima, eu era o filho mais velho, com 15 anos já tinha 8 irmãos e meu pai comprava sapatos e roupas novas para todos juntos irmos para a Festa de Natal patrocinada pela empresa, regada a churrasco, algodão doce, balas, refrigerantes, palhaços e a entrega dos presentes para as crianças até 15 anos.

Mas a principal atração esperada ansiosamente pelas crianças e “adultos” era o Papai Noel com o seu famoso saco cheio de balas, tendo como fundo musical as famosas canções natalinas, sendo impossível não chegar às lagrimas.

Nesta festa os colegas de trabalho da empresa apresentavam sua família uns aos outros, e meu pai orgulhosamente nos colocava em posição de escadinha exibindo-nos como se fossemos troféus humanos e dizia: Não são lindos, os meus filhinhos!

O sonho do meu pai era ser jogador de futebol, o máximo que chegou foi jogar no time da empresa e foi técnico de um time nada convencional, de seus filhos!

O campo de futebol ficava no fundo da minha casa, os vizinhos diziam que meu pai era o técnico de um time imbatível.

Ele criou onze filhos, meu pai era uma brasa mora, filho de espanhol com um sangue quente, incrível!

Primogênito eu nasci no ano de 1953, na fazenda do Barão Alemão, onde morei até 1958, era o paraíso na terra que o bom Deus me fez, feito sob encomenda para um garoto afoito.

O meu avô era o capataz desta fazenda de um Barão Alemão e naquele lugar eu conheci a paz, flores, frutas e também criação.

Criação de cavalo de raça era aquele lugar tudo isto e também tinha cachorro de caça coisa difícil de hoje ser visto.

Lá morei até os cinco anos porque tive que sair bem cedo o Barão tinha outros planos, foi embora e me deixou um brinquedo.

Era um trenzinho de pilha que todo menino queria e eu me sentia uma ilha cercado de amor e alegria.

Mas hoje o menino cresceu e quis ver o passado novamente, o seu rosto entristeceu,viu que tudo estava diferente.

Hoje lá hoje é um Centre Ville, por isso a minha alma chora, muito tempo de amor e capricho está tudo mudado agora.

Nadava num riacho e pescava com uma peneira e subia em árvores para saborear as suas frutas.

Tudo para mim se resumia numa brincadeira, havia os grupinhos isolados e suas disputas e quem tinha uma televisão era considerado rico, privilégio encontrado em pouquíssimos lares. Só de lembrar dessa época emocionado eu fico, as crianças assistiam a televisão nos bares, esses bares tinham um ambiente familiar. Continham placas com as seguintes leituras: Até as vinte horas as crianças podem ficar, após este horário cuidado com as viaturas!

Flashs de uma infância cheia de encanto e magia, onde não imperavam a maldade e a malícia, tudo era novidade e sem muita tecnologia onde eu respirava outros ares neste jardim de delicias.