O melancólico fim do governo Lula, denunciado pelo comportamento do Presidente da República.

O melancólico fim do governo Lula, denunciado pelo comportamento do Presidente.

Ao que parece, ninguém do mundo da imprensa notou, mas o presidente Lula já anuncia aos quatro ventos o fim de seu governo e, a sua própria manifestação não deixa dúvidas sobre o que ele mesmo pensa do que ele foi.

Semana passada, depois de requentar mais uma vez a notícia em torno da descoberta e exploração de petróleo em águas profundas, a chatice chamada "Pré-Sal", divulgada na época de FHC, cuja exploração política deu sinais de estresse dias atrás, quando o governo reuniu menos de um terço do público esperado para assistir à sua fala, a respeito e, de apresentar no Congresso Nacional um projeto que empurra a política de exploração petrolífera brasileira de volta a a estatização, o Presidente da República gastou um bom tempo em elogios a si mesmo e, ao seu governo.

Não satisfeito, estimulou claramente a população a pressionar o Congresso Nacional no sentido de aprovar um projeto de interesse do governo, subindo assim, mais um patamar na escada de desrespeito ao papel e funções do poder legislativo.

No Dia da Independência, recebendo o Presidente da França com aquele semblante “day after” já conhecido, não deixou por menos: no discurso e entrevistas, vinculou a compra de aviões submarinos militares da empresa francesa Dassault à garantia do Pré-sal, isto é, de um interesse governamental e, não, da soberania nacional, como seria de se esperar.

Em termos esquemáticos, a água rala de petróleo-das-profundezas-que-vai-eliminar-a-pobreza-do-país*, é mera cópia da ladainha de Lula em torno do tal do bio-combustível, eleito paradigma de soberania energética e prova da indústria dos brasileiros, alardeado nos quatro quantos do planeta como a panacéia que iria erradicar a pobreza do país, vez que, por tabela, iria incluir na estrutura produtiva até o pequeno agricultor do agreste nordestino (fico pensando aqui, no assentado da reforma agrária que embarcou nesse projeto e plantou, digamos, mamona ou, pinhão manso e, está lá agora, com a primeira safra de grãos ou frutos, pra vender...) e, que foi descartada da agenda de prioridades governamentais, sem qualquer explicação.

Mas, em relação ao tal do petróleo do Pré-Sal, há um componente novo no comportamento de Lula, a visível ansiedade - facilmente perceptível na tentativa de converter toda a sua agenda e, falas para o assunto e, a insistência na submissão do Congresso Nacional à sua vontade e, associadamente, na conversão da opinião pública em pressão na aprovação da lei que altera o regime de exploração de jazidas, que implica, inclusive na criação de mais uma Autarquia estatal, que esvazia o papel da Agência Nacional de Petróleo - ANP e, cria todo um quadro novinho em folha, para ser preenchido por cupinchas.

O que acontece? Lula, um político para lá de esperto, percebe que seu governo se aproxima do fim ser ter nada de realização concreta para deixar ao país, seja na infra-estrutura produtiva e de negócios, ou da promoção das esperadas reformas estruturais, como são os casos da legislação eleitoral e, previdencia social. Como não há mais tempo para mais nada, sabe que vai ter de descer do palanque oito anos, dando recibo.

Depois disso, não terá câmeras e microfones abertos para que ele diga as suas bobagens a torto e, direito. Também não vai contar com uma voz confiável ou poderosa o suficiente de plantão, para defender seus oito anos de mandato, pois na passagem pelo governo federal, pois muito poucas personalidades do PT escaparam incólumes ao desgaste de seu suporte no governo, que vagou entre a visão sertaneja da realidade e, a conversão do governo num culto diário à figura do Presidente da República.

Diante dessa perspectiva, já se mostra confuso - para não dizer, tomado de um leve assombro.

Lula também já sentiu que o eleitor já não responde impensadamente à mágica de sua presença, palavras e, raciocínio. Ele já entendeu que o eleitor médio - aquele que, afinal, que o elegeu e reelegeu, apesar de todos os escândalos e, desatinos acontecidos - sem que lhe diga claramente, começa a prestar atenção no atual estado de coisas em Brasília, onde, depois de sucessivos escândalos, o Presidente da República abre a agenda diariamente para defender gente do calibre dos Senadores Renan Calheiros e José Sarney - entrementes, receber o apoio de senadores do calibre de Collor de Melo.

Quero dizer: o carisma do Presidente da República já não é suficiente para anestesiar a consciência do eleitor do século 21 em relação à prática política típica do século 20, na companhia de personalidades políticas que, volta e meia, frequenta o noticiário policial.

Para o eleitor - que já foi capaz de ignorar ou perdoar uma série de condutas condenáveis, o comportamento licencioso do Presidente da República na sua livre associação com determinadas personalidades políticas, que representam com o pior da prática política do país - recente ou passada (Renan Calheiros, José Sarney, Fernando Collor de Mello e, tantos outros), parece com aquilo que Ulysses Guimarães chamava de "baton na cueca", isto é, algo imcompreensível ou inaceitável, diante da biografia de alguém reputado como herói dos pobres e, trabalhadores...

À falta de nomes melhores ou não implicados em encrencas judiciais ou públicas, nos quadros do Partido dos Trabalhadores - PT, lançou a desconhecida Dilma Russef à sua sucessão, à revelia da legislação eleitoral e, a batizou com o epiteto de "Mãe do PAC" e, para ver, depois, o nome de dela empacar nas pesquisas eleitorais.

Mas, pudera!, nesta empreitada, ele cometeu deixou-se levar por três erros seguidas: esqueceu-se de que o eleitor (o tipo médio) não é petista e, nem mesmo militante político e, que o tal eleitor desconhece Dilma e, por fim, que o tal eleitor só sabe do PAC através da publicidade televisiva e, não pelas obras que possa ver diante dos olhos, no bairro ou na cidade.

O Programa de Aceleração do Crescimento - PAC**, dito a menina dos olhos do governo, não passa de risco n'água, pois, inexiste, em termos orçamentários ou estratégicos, não passando de uma vistosa grife que foi criada para disfarçar o desequilíbrio orçamentário consistente no aumento de gastos correntes (isto é, os gastos decorrentes da folha de pagamentos e, da manutenção da máquina governamental), em detrimento do sacrifício dos recursos destinados aos investimento.

Com efeito, o orçamento da União é um só. Cada "companheiro" contratado a mais, significa recursos a menos para estradas, linhas de fornecimento de energia elétrica, saneamento, portos, aeroportos - isto é, obras que impulsionam a produção e circulação de produtos e, serviços e, enfim, promove a erradicação da pobreza, de forma perene.

Ora se o PAC nada significa de resultado, então, o eleitor talvez já tenha chegado à conclusão de que a Chefe da Casa Civil é mãe de... nada!

Como já está provado, o atual Presidente da República não suporta críticas, nem sabe conviver com elas (a ponto de parecer que elas lhe fazem tanto mal quanto a água mineral e os ares de Brasília). Para superá-las, usa dos mais diversos expedientes, inclusive os mais baixos. Um exemplo é a contratação do filósofo Mangabeira Unger, aquele tipo estranho que diz ser brasileiro mas tem o sotaque de americano-que-fala-português, que o havia tratado publicamente de um forma bastante franca (acha-se facilmente no Google, o que o moço disse de Lula, tempos antes de pegar um cargo do governo petista!).

Depois que deixar a Presidência da República, a ração de alimento da sua rombuda vaidade diminuirá drasticamente. E as críticas ao pretérito governo sem dúvida vão aparecer, pois há uma boa chance de um oposicionista sucedê-lo.

Para terminar e falando, de passagem, sobre a política de combustíveis brasileira: o que realmente interessa ao consumidor é combustível barato e, de qualidade. A PETROBRAS, entretanto, jamais consegiu garantir um produto com tais vantagens. Nossa gasolina é uma das mais caras e de pior qualidade do mundo e, qualquer proprietário que levou o veículo no conserto, sabe do poder devastador da gasolina nacional no motor.

Mas, diante desses dados incontestáveis, vem o tal do argumento de fundo: "soberania nacional"!. Então, tá...

* No governo de FHC, ficou famoso o fiasco da tentativa de extração de gás natural de solo amazônico (num projeto chamado "Carajás", se não me engano), depois de anunciada como provável solução de independência brasileira do gás boliviano.

**Na prática, o "PAC" funciona assim: o governo resolve financiar uma obra ou serviço num Estado ou Município da federação, com contrapartida do ente federado, que arca, normalmente com 20, 30% do valor final do empreendimento.

Então, firma um convênio de repasse dos recursos financeiros. Esse repasse é, normalmente, dividido em 12, mensais. Mesmo que o Convênio tenha sido assinado em janeiro, só por volta de novembro, são repassadas algumas parcelas. O restante, fica para o ano seguinte, indo para o chamado "Restos a Pagar", que não integra o orçamento do ano seguinte.

E, no ano seguinte, repasse de mais duas ou três parcelas do recurso referente ao ano anterior e, talvez, mais alguma coisa referente ao exercício corrente.

Resultado: em vez de ser executada, a obra empaca, e o prefeito ou governador sofre o desgaste. Mas, o governo federal vai á televisão faturar a coisa, dizendo genericamente que o PAC contempla o Estado ou município com "X" em recursos financeiros, sem afirmar, é claro o quanto repassou e, o quanto deixou de repassar.

Consequência: se, ao final da execução do Convênio, todo o Recurso não tiver sido repassado e, a obra tiver sido iniciada, o valor devido passa a integrar a conta "Despesas de Exercícios Anteriores" e, é aí que o bicho vai pegar, pois vai se transformar num esqueleto que vai cair do armário no dia em que o próximo Presidente da República assumir!

.......................................

Voltei em 09.09.2009 - Hoje pela manhã, os telejornais informam que o Ministério da Aeronáutica não bateu ainda o martelo em torno da escolha do fornecedor dos equipamentos militares e que os americanos e belgas continuam na parada.

Ué? O que significou a presença de Sarcozi no Brasil e, tudo o que Lula disse a respeito, em cerimônia pública e entrevistas na presença do Presidente Francês? Lula estava usando a cerimônia da Semana da Pátria para assumir pessoalmente o lobby em favor da embaçada Dassault e forçar a barra para cima da Ministério da Aeronáutica, no sentido de obter uma Nota Técnica mais favorável?

Em 10.09.2009 - o governo americano informa que enviou carta, ofertando transferência de tecnologia, caso venda aviões f-18 da Boeing às forças armadas. Gozado que essa vantagem parece ter desagradado profundamente ao governo brasileiro...