EU POSSO?!...

EU POSSO?!...


Para mim não foi nenhuma surpresa a mídia colocar a professora Jaqueline como vítima e injustiçada pela sociedade, como também não fiquei surpresa da sua desenvoltura ao responder as perguntas do Geraldo e dos outros dois participantes do programa. Conheço-a há muito tempo, praticamente vi-a nascer, criada ao lado dos meus filhos. Menina normal, nada que chamasse atenção. Quando adolescente passou a ser dançarina de um grupo de pagode que pertencia ao seu tio, depois de algum tempo mudou-se daqui e perdemos contato. A mãe eu sempre via, pois além de ter sido minha aluna, mesmo depois que se mudou não deixou de freqüentar a antiga moradia onde ainda tem uma cunhada.
Agora me deparo com Jaqueline, “Jack” para os íntimos, disparando a audiência dos canais de televisão... Pergunto-me... que inversão de valores é essa em que estamos vivendo?! Fiquei estarrecida quando vi o placar do programa do Geraldo passando para todo o Brasil onde mais de 80%concordaram com o que ela fez. Ela no princípio mostrou-se arrependida, entretanto com o passar do tempo quando percebeu que não estava sendo tão criticada, aos pouquinhos, começou a assumir o que fez como uma coisa natural. Frisou que era uma educadora, devido a isso errou quando se comportou daquela forma e principalmente quando viu a filhinha de 7 anos dançando da mesma forma que ela.
Segundo Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”. Concordo em parte com essa afirmação, pois às vezes faz-se necessário sermos unânimes em algumas situações, a unanimidade pode ser inteligente também quando vem da individualidade, de não nos fecharmos com os nossos próprios problemas e começarmos a observar o mundo que nos rodeia com outro olhar. Claro que as opiniões teriam que ser divergentes, mas o que me chocou profundamente foi a grande maioria afirmar categoricamente que a vida pessoal nada tem a ver com a profissional, até que ponto podemos separar essas duas coisas?!
Se a própria professora afirmou em alto e bom som que um dos piores momentos dela foi o de ver a filha imitando-a... Como então as pessoas concordam que ela não agiu errado, pois estava num momento de lazer!!!
O tempo todo frisou que era professora formada pela Jorge Amado, era pós-graduada e no momento que o apresentador pergunta: “-O que você respondeu ao vocalista da banda quando ele aproximou-se de você e perguntou: “-EU POSSO?””. Ela com toda segurança e discernimento que lhe é peculiar, respondeu: ”- Essa pergunta trata-se de um sujeito indeterminado”... Professora Jaqueline!!! Sujeito indeterminado?! A oração é composta de um pronome pessoal do caso reto “EU” e um verbo transitivo direto “PODER”, claro que o sujeito da oração é “EU”, no caso, o cantor da banda, o que está faltando na oração é o objeto direto para completar o sentido do verbo, pois ele é transitivo e precisa de um complemento que no caso seria o de você perguntar “o quê?” e dependendo da resposta dele, você concordaria ou não com a proposta que ser-lhe-ia feita, portanto tentar justificar a atitude que ele tomou em pegar na sua calcinha para justificar o refrão da música “toda enfiada”, porque o sujeito é indeterminado e você não teria entendido, não justifica.
Como se não bastasse a desvalorização do professor em todo Brasil, quanto a remuneração, as condições de trabalho, as perdas dos direitos adquiridos, ainda perdermos a nossa dignidade de educador?! Os alunos já não vêem o professor com o respeito que deveriam, vemos o tempo todo professores serem agredidos, fisicamente e moralmente sem nada terem feito que desrespeitasse os princípios da moral e do respeito, imagine o educador deixar de lado a sua postura entregando-se a bebida e expondo-se da forma que foi feita?!
Acredito sim na moral e nos bons costumes e que a família é muito importante para a formação do futuro adolescente de acordo com o que ele vivencia em seu lar, e que o educador deve ser sempre um exemplo para os seus alunos não importa o lugar onde esteja ou com quem esteja. Somos pessoas públicas e em todos os lugares somos observados pelos nossos alunos. Isso não impede ninguém de dançar ou beber, mas com todo respeito para não denegrirmos uma classe que está cada vez mais desvalorizada.