SOBRE A PARTICIPAÇÃO

Queremos fazer uma reflexão sobre participação na sociedade capitalista-consumista- individualista em que vivemos, em especial sobre a participação da comunidade na escola. Queremos levantar o seguinte questionamento: por que os pais não participam da escola, considerando o processo de gestão democrática e planejamento participativo que tem sido implantado nas escolas públicas? Por que os pais não participam? Por que a comunidade não participa da discussão e elaboração do PPP da escola? Por que a escola não incentiva a participação efetiva da comunidade? Por que, muitas vezes, os próprios professores não participam da elaboração do PPP deixando-o a cargo somente do coordenador e do diretor da escola?

A questão não é assim tão simples, considerando que na própria escola são poucos os que se envolvem, os que acreditam, os que participam. Ou, as vezes participam apenas por uma imposição da gestão da escola. O que acontece.. Apenas aqueles sujeitos inquietos, intrigados, aqueles que têm e não perderam ainda a capacidade de se indignar, aqueles que querem e acreditam numa sociedade melhor participam.

Acredito que muitas mudanças são necessárias, não somente as de ordem macro como apontou Marx, mas também aquelas individuais, de pequenos grupos, espirituais, culturais, as micro mudanças. O ser humano, na maioria das vezes, se apega a coisas pequenas, mesquinhas e perde a perspectiva do que realmente importa na vida. Quem hoje participa de alguma atividade sem fins lucrativos, sem retorno financeiro imediato? Quem participa de uma associação cultural, política, religiosa, etc. quem se dispõe a participar? O mundo esta regido por interesses, a participação se perde no contexto em que vivemos. As pessoas correm do trabalho para casa, divididas entre tarefas domésticas e profissionais, dizem não terem tempo para mais nada. O pouco tempo que sobra á para fazerem o que tem vontade sem imposição do patrão, como por exemplo encher a “cara no buteco”, “tomar todas” e assim esquecer as coisas sérias da vida, as pressões.

Participar na escola ou em qualquer outro espaço é um direito do cidadão. Não faz sentido ir a escola por exigência, obrigação, mas ir para contribuir com a escola. Dizer as pessoas que trabalham na escola, aos responsáveis pela educação de nossos filhos o que queremos, discutir temas a serem trabalhados na escola, discutir a metodologia de ensino e o tipo de formação que se espera para nossos filhos. É construir uma escola com a cara que queremos, com a cara da comunidade, uma escola do e pelo povo, como alguém já disse.

Defendemos uma participação bem maior do que aquela que as escolas vêm solicitando a comunidade, uma participação efetiva. Como diz Paro (Gestão Democrática da Escola Pública) a participação propriamente dita, é aquela que envolve a partilha do poder, a participação de todos na tomada de decisões. Existem níveis de participação e ir as reuniões somente para receber as informações é uma participação muito limitada. Participar é ouvir e ser ouvido, é receber e dar algo de si, é contribuir e construir juntos.

Etimologicamente participar significa: fazer parte, tomar parte, ter parte ... como nos diz Bordenave no seu livrinho O que é participação. Pensar numa gestão democrática pressupõe a comunidade como parte da escola, mas que esta comunidade não seja apenas parte, mas que tome parte e que tenha parte na escola, ou seja, que participe nas tomadas de decisões, que tenha vez e voz ativa nos conselhos escolares, na administração dos recursos financeiros e etc.

Mas qual a motivação para participar? Se a escola não participa da comunidade, por que a comunidade vai participar da escola? Cabe a escola abrir as portas, buscar formas e mecanismos de envolver a comunidade, de contribuir com esta comunidade, mas será que é este tipo de participação que interessa a escola? Quando há participação todos crescem, tanto os indivíduos quanto os grupos. A quem interessa esta forma de participação? A participação que temos hoje é uma forma de participação concedida, não representa um desejo, uma conquista como nos anos 70 ou 80. Hoje a participação se tornou um mecanismo sutil de dominação. Cabe a cada um de nós ocupar os espaços desta participação, não para reproduzir ou comungar, mas buscar brechas e não perder as esperanças. Participar é sempre uma possibilidade de crescimento e aprendizagem.

Vivien
Enviado por Vivien em 23/06/2006
Código do texto: T181100