Um dos intelectuais que me impressionou nos idos de minha juventude, foi Josué de Castro, nascido em Recife e falecido na maravilhosa Cidade Luz, Paris, em 1973.

ARTIGO - [ 14/09 ]

Habitante do planeta fome - João Dias de Souza Filho

Notícia publicada na edição de 14/09/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A.

O tempo urge e com plenitude de exigências. Enquanto não acontece a melhoria efetiva de nosso patamar social

Um dos intelectuais que me impressionou nos idos de minha juventude, foi Josué de Castro, nascido em Recife e falecido na maravilhosa Cidade Luz, Paris, em 1973. Ainda que tenha sido um ilustre brasileiro, intelectual de nomeada, muitos o desconhecem. Notabilizou-se como geólogo, sociólogo e militou com mérito na área política. Destacou-se internacionalmente, em face de seus trabalhos científicos, voltados para um tema inserido na realidade de todos os povos: a fome. Sua atividade profissional foi ancorada nessa área, tendo presidido com competência o Conselho da Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas FAO, na área da ONU, inclusive participou, também, do Comitê Mundial por uma Constituição dos Povos, em Denver, EUA. Foi Vice-Presidente da Associação Parlamentar Mundial, sediada em Londres.

A temática da Fome foi o cerne de sua atividade como cientista social, em cuja amplitude apareceram, obras como Geografia da Fome e Geopolítica da Fome, traduzidas para 14 línguas. Essas obras consagraram-no internacionalmente, contudo em 1964, teve seus direitos políticos suspensos. Perdeu seu cargo de Embaixador, inclusive, perdeu funções que desenvolvia em organismos internacionais em Genebra/Suíça. Esse revés não quebrou o seu trabalho, inclusive, porque, exilado em Paris, dirigiu um Centro Internacional para o Desenvolvimento. Essa atividade ensejou-lhe a oportunidade de prestar serviços técnicos na maior amplitude, tendo sido, inclusive, professor da Universidade de Paris. Politicamente, para o Brasil não servia. Perdemos muitos valores, incompatibilizados com o regime então estabelecido.

É evidente que até hoje convivemos com bolsões de fome. É uma triste perspectiva entre nós. A dimensão continental do Brasil enseja situações como essa e, por mais que se verifique um esforço no sentido de diminuir o impacto, ainda temos muito a caminhar. O tempo urge e com plenitude de exigências. Enquanto não acontece a melhoria efetiva de nosso patamar social -, também retardam condições de atingirmos boa qualidade de vida. O que contemporiza toda essa situação é a fisionomia continental do país.

No tempo em que o meio de comunicação que atingia todo território nacional, era a radiofonia, a noticia chegava de forma lenta ao conhecimento do povo. A propósito dessa realidade, soube do caso de um sorocabano que trabalhava na região norte do Brasil. Ele sintonizava com freqüência, emissoras de rádio de países andinos, quando não, uma poderosa estação cubana. Foi através dessa emissora que ficou sabendo da alteração constitucional do Brasil, na oportunidade da Revolução de 1964. O Rádio como meio de comunicação é de grande utilidade até hoje. Presta relevante serviço ao interesse social, pelo seu alcance.

A radiofonia é muito importante para o Brasil. Continua tendo papel decisivo na atualidade. Aonde não chega a Televisão, chega o Rádio, daí então, a grande responsabilidade social de quantos prestam serviços às emissoras. O Rádio é um instrumento de comunicação muito sério. No tempo em que a radiofonia estava em alta, as pessoas que prestavam serviços a ela, tinha prestígio e, não raro, houve caso em que alguns de seus funcionários, com relativa facilidade, conseguiram eleger-se para cargos públicos. Entre os nomes que atingiram fama, de cujas atuações, conheci cito, entre outros os saudosos locutores esportivos: Geraldo José de Almeida, Pedro Luiz, Oduvaldo Cozzi. Os três pertenciam às emissoras de São Paulo, com alcance nacional.

No então Distrito Federal/Rio de Janeiro, que sediava a Administração do Brasil, entre as emissoras locais, destacavam-se a Rádio Nacional, Rádio Continental, Mayrink Veiga e as Rádios Tamoio e Tupi, órgãos associados, dirigidos por, Assis Chateaubriand. O pessoal de Radio era famoso e, entre eles, estiveram César de Alencar, Manoel Barcelos e Ary Barroso, que também era compositor, fazendo sucesso com musicas de exaltação do Brasil.

Ary Barroso tinha um programa de calouros onde se apresentavam pessoas que graças ao valor artístico - poderiam profissionalizar-se. Entre os nomes que surgiram está Elza Soares, que faz sucesso ate hoje. É guerreira. Ela foi caloura e se apresentou no programa de Barroso. Foi com sua melhor vestimenta e, o radialista entendeu de fazer uma gozação, com o traje da caloura e, perguntou-lhe de forma impiedosa: de que planeta você veio, minha filha? A platéia gargalhou e, ela entre humilhada e corajosa respondeu: Do planeta da Fome, seu Ary. A platéia silenciou e aplaudiu. Ary perdeu o rumo.

Moral da história: ninguém tem o direito de humilhar ninguém. Todo Ser é digno de respeito. Nessa temática da humildade, Canhoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes, fizeram uma melodia que é clássica na música brasileira: Gente Humilde. Recomendo.

João Dias de Souza Filho escreve quinzenalmente neste espaço.

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 15/09/2009
Código do texto: T1811121