O NOME DE DEUS

Uma das pastorais, muito caras a Dom Helder, foi o ecumenismo. E isto foi reconhecido por protestantes europeus e budistas asiáticos, que lhe outorgaram prêmios e homenagens. A atitude ecumênica tem muito a ver com a compreensão de Deus nas diversas religiões e igrejas. Quem pensa que o único nome que convém a Deus é o nome que sua comunidade religiosa adota, não é ecumênico, pois individualiza Deus e o reduz ao conteúdo que atribui a este nome. Na verdade, Deus é inominável. Ou melhor, Deus pode receber todos os nomes, ou nenhum. Deus, sendo o único, não precisa nem pode ser individualizado. Os nomes individualizam os seres em relação a outros seres. Mas, o que significam, então, tantos nomes de Deus nas religiões? Eles expressam a compreensão de Deus que a respectiva religião propõe para a fé de seus fiéis. E esta compreensão sempre é finita, enquanto Deus é infinito. Portanto, todos os nomes de Deus dizem alguma coisa de Deus, mas nunca dizem tudo. Por um lado, todos os nomes de Deus são legítimos, pois dizem alguma coisa de Deus. Mas, por outro lado, todos são mentirosos, pois dizem de menos de Deus. São mentirosos, pois mentir é dizer de menos ou demais de algum ser. Se assim pensarmos, nos tornaremos necessariamente ecumênicos. Pois estaremos conscientes de que o nome que nós atribuímos a Deus não diz tudo de Deus. Outros nomes poderão enriquecer nossa compreensão. Desta forma, os nomes de Deus poderão ser múltiplos, de acordo com que os homens entendem de Deus. Alguns nomes dirão mais de Deus do que outros. Para nós cristãos, os nomes bíblicos de Deus são preciosos, mas nem estes dizem tudo. E a nossa compreensão de Deus crescerá se dialogarmos com os homens que denominam a Deus com outros nomes, como Alá, Eloá, Elohim, Shadai, Adonai, Tupã, Thien, Deusu, Javé, Jeová, Aten, Amon, Zeus, Júpiter, Senhor... Deus é muito maior do que a nossa razão, e os nomes que a Ele atribuímos. Deus está para além e para aquém de todo nome. Ele está para além do maior e para aquém do menor. Ele é o Pai de todos, o Criador, o Senhor, o Misericordioso, o Compassivo, e o nosso coração somente descansará quando nele repousarmos. Respeitemos, portanto, tudo que os homens conseguem compreender de Deus, e denominar com nomes. Sejamos ecumênicos como Dom Helder foi, pois o seu Deus estava para além de todo nome, não podendo ser propriedade de nenhuma religião específica.