Minha primeira vez no Galo da Madrugada

Publicado por Marcondes Brito no Diario de Pernambuco em 12/02/2008

Para quem nasceu na Paraíba e viveu 15 anos em Brasília, onde definitivamente não há animação, minha estréia no Galo da Madrugada foi inesquecível. Foi como descobrir o próprio Carnaval. Com os seus quase dois milhões de foliões, mais consagrado do que nunca pelo Guiness Book, o Galo é o maior orgulho do Carnaval pernambucano e uma verdadeira consagração internacional para o Recife.

Mas, como tudo na vida, participar de uma festa tão grande como esta também tem o seu preço. É difícil chegar à concentração (no meu caso, o camarote da Celpe) e mais difícil ainda sair. Segui todos os conselhos que recebi dos amigos e colegas de trabalho. Nem pensar, por exemplo, em ir de carro. Melhor pegar um táxi, que pára sempre muito longe. Até aí tudo bem, porque você está cheio de entusiasmo e enfrenta a multidão com tranqüilidade, sabendo o que lhe espera.

No camarote, enquanto vão passando abre-alas, estandartes, carros alegóricos, passistas e milhões de foliões puxados pelos poderosos carros de som, é impossível ficar parado. Ao meu lado, uma pernambucana – uma magricela mascarada, saltitante, residente nos EUA, que havia chegado na noite anterior somente para ver o bloco passar - chorava copiosamente. Pensei, num primeiro momento, que ela estava doente, passando mal, mas era um choro de alegria, sobretudo de emoção. Um choro que afugenta, ainda que por algumas horas, todas as tristezas e melancolias da vida.

Não há termo de comparação entre o Carnaval de Pernambuco e os mais badalados do País, como Rio de Janeiro, Bahia e até o de São Paulo, que sempre ganha generosos espaços da mídia. Na terça-feira de Carnaval, por exemplo, os principais telejornais das maiores redes de TV tentavam nos convencer de que a vitória da Vai-Vai era uma grande notícia. Na Bahia, cordões de isolamento separam ricos e pobres, no velho e manjado esquema das micaretas. No Rio, o Sambódromo é só para quem tem dinheiro, seja para assistir ou desfilar.

Até que este ano o Carnaval do Rio despertou um pouco a curiosidade dos recifenses, por conta da “homenagem” da Mangueira aos 100 anos do frevo. As aspas, naturalmente, são propositais, porque as escolas de samba do Rio costumam cobrar caro por essa brincadeirinha.

Mas a verde e rosa teve um pré-carnaval conturbado demais. Polícia na quadra da escola, passagem secreta para o tráfico e homenagem ao traficante Fernandinho Beira-Mar, conturbaram o ambiente, refletindo na qualidade do desfile. Resultado: Mangueira em décimo lugar, a pior posição dos últimos 14 anos. Lembro que a Vila Isabel homenageou a cidade de João Pessoa, em 1999, e também foi um fracasso. E, neste caso, há um ponto em comum com Recife: o carnavalesco era o mesmo Max Lopes, que sequer foi ao Sambódromo este ano.

Ganhou a Beija-Flor? E daí? Ninguém dá a mínima para isso aqui em Pernambuco. As pessoas (e parece que todos os habitantes do Estado são foliões) já estão é contando os dias para o Carnaval de 2009, que, como sempre, vai começar apoteoticamente com o Galo da Magrugada. O grande dilema do Galo é saber a melhor hora de ir pra casa. No sábado, dia 2, por exemplo, decidimos bater em retirada por volta das 16h, depois de mais de seis horas de espetáculo. Descemos em grupo e enfrentamos dois grandes desafios: atravessar o corredor da folia e encontrar um táxi disponível. No final, acaba dando tudo certo, como não poderia ser diferente num Carnaval popular, democrático, multicultural e grandioso.

Marcondes Brito
Enviado por Marcondes Brito em 23/09/2009
Reeditado em 23/09/2009
Código do texto: T1826221