* * * UMA AVENTURA NA INDIA * * * Parte 2

Publicado por Marcondes Brito no Correio Braziliense em 06/08/08

Se não for a negócios, a maioria dos visitantes que escolhe a Índia como destino turístico está interessada em conhecer o Taj Mahal, eleito recentemente — junto com o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro — uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno. Sem dúvida alguma uma das construções mais perfeitas da Terra, o Taj Mahal é o memorial eterno projetado por um líder indiano em homenagem a seu amor perdido. Essa pérola da arquitetura concebida em mármore foi descrita como "uma lágrima no rosto da eternidade" e, por isso mesmo, é impossível ser traduzida apenas em palavras. Partindo de Nova Délhi, são várias as opções de transporte até a cidade de Agra, onde está o Taj Mahal. Agra tem cerca de 2 milhões de habitantes e vive à sombra dessa atração turística. O ingresso para o complexo de Taj custa 750 rupias (R$ 28) e o visitante ganha a proteção de sapato, para não arranhar o chão.

Em hipótese alguma é permitido entrar com mochilas grandes, aparelhos eletrônicos, livros, cigarro, fósforo ou isqueiro. A fiscalização é muito rigorosa. Mas o turismo na Índia não é apenas Taj Mahal. Vale a pena conhecer Jaipur, capital do Rajastão, a cidade que foi pintada de rosa para a visita do príncipe Albert, no século 19, e ficou assim, protegida por lei. Nela vivem aproximadamente 2,5 milhões de habitantes e a porção rosada tem 9,7 quilômetros quadrados.

A 17 quilômetros de Jaipur fica a cidade de Amber, antiga capital do Rajastão. Ali está o Forte Amber, que abriga três belos castelos. O turista pode subir ao forte montado em elefantes, pagando 550 rupias (R$ 21), sem contar a taxa do guia. E se você quiser tirar foto no lombo do animal (quem não quer?), vai ter que desembolsar mais uns R$ 10.

No estado de Madhya Pradesh, a cidade de Khajuraho abriga 85 templos sagrados decorados com imagens do Kama Sutra. São imagens eróticas, mas que não são vistas por eles (pelo menos por eles) como “sacanagens”. Elas representariam a união do homem com o divino. As paredes são cobertas com esculturas de todos os tipos — deuses, dançarinas, guerreiros, além de cenas picantes que seriam capazes de corar até os visitantes mais libertinos.

Em Varanasi, cidade sagrada dos hindus — com mais de 10 mil templos à margem do Rio Ganges — o nome de Deus é a verdade e o mundo material é inútil. O lugar, além de extremamente

espiritual, vira um verdadeiro hospital a céu aberto, com doentes espalhados numa extensão de 7 quilômetros. O desapego material é tanto que, assim que percebem a proximidade da morte, os seguidores dessa religião largam suas famílias e se mudam para lá, onde são cremados e as cinzas jogadas no Rio Ganges.

TRÂNSITO MALUCO

Quem acha que o trânsito brasileiro é maluco, precisa conhecer Nova Délhi, a frenética capital da Índia, onde o moderno e o antigo transitam com a mesma desenvoltura. O Indigo Tata,

luxuoso carro produzido na Índia, cruza caminho com poderosos Mercedes e com milhares de rickshaws, tradicional triciclo indiano motorizado, o famoso tuc-tuc.

É impossível caminhar nas ruas e avenidas sem ser abordado por um tuc-tuc. São lambretas com três rodas, com assento para duas pessoas no banco de trás, que funcionam como uma espécie de mototáxi, como os que existem nas nossas cidades do interior.

A corrida é muito barata. Você pode cruzar a cidade de ponta a ponta, percorrer 20 a 30 quilômetros, e pagar o equivalente a 6 ou 7 reais. Há um “taxímetro” à mostra, mas o preço é sempre

combinado por antecipação. Mas andar de tuc-tuc é, de fato, uma aventura. Primeiro pela imprudência dos motoristas. Eles são completamente malucos. Desconfia-se que era um ex-motorista de tuc-tuc que pilotava o avião da Air Índia e que errou o seu destino, no mês passado. Saiu de Dubai para Mumbai e foi parar na cidade de Goa, mais ao sul do país.

Se você sair de um shopping e contratar um tuc-tuc para voltar para o hotel, é certeza ele parar em três ou quatro lojas “conveniadas” para sugerir que você compre mais produtos locais.

No sinal de trânsito, como não há portas no “veículo”, os pedintes (e são muitos espalhados por toda a cidade!) descobrem quem é turista e não lhe dão sossego.

“Eu tenho troco para euro e para dólar”, dizem os mais globalizados, que simplesmente não aceitam desculpas para quem não está disposto a “colaborar”. O segredo é ignorá-los

solenemente. E como buzinam! Nem em dia de vitória do Flamengo você ouviria tanta gente buzinando nas ruas da cidade.

BOLLYOOD, INDUSTRIA DO CINEMA

Se você gosta de cinema, talvez já tenha ouvido falar em Bollywood. O termo define a indústria de cinema indiana, que se firmou como uma das maiores do mundo ao adaptar os enredos de filmes hollywoodianos, dando-lhes cor local. Favor não confundir com Roliúde, pólo cinematográfico de Cabaceiras, no interior da Paraíba, que já produziu filme até do premiadíssimo

pernambucano Guel Arraes. Bollywood, instalada em Mumbai, a megalópole das finanças da Índia, é a segunda maior indústria de cinema do mundo, ficando atrás apenas da dos Estados Unidos.

Para que se tenha uma idéia da dimensão do cinema indiano, o ator americano Sylvester Stallone estreará em Bollywood interpretando a si mesmo no filme Kambakkth Ishq. O longa

contará com um orçamento de US$ 21 milhões (R$ 34,35 milhões), um dos maiores na história do cinema asiático.

ESPORTES NA INDIA

No esporte, a preferência dos indianos é o críquete, atividade inspirada num rudimentar jogo rural da Inglaterra medieval, chamado stoolball. Foi adotado pela nobreza no século 17, sofreu muitas transformações ao longo dos anos até se tornar um esporte bastante adimirado no Reino Unido, na Índia e no Paquistão. Mas há futebol na Índia e eles conhecem as grandes estrelas. É comum encontrar um indiano com a camisa de Ronaldinho, Kaká e outros craques internacionais. E onde há futebol há certamente jogadores brasileiros. O episódio

mais marcante de um brasileiro pelo futebol indiano ocorreu na final da Copa da Federação, entre Dempo e Mohun Bagan. O atacante Cristiano morreu em campo, após marcar mais

um gol para o Dempo. A causa da morte do brasileiro — artilheiro do campeonato, na época — até hoje não foi totalmente esclarecida.

Segundo testemunhas, Cristiano teria sofrido um colapso após se chocar com o goleiro Subroto Pul, e caído no gramado. Mas, de acordo com outro brasileiro da equipe, Douglas

Silva, Cristiano foi agredido com socos por Pul, e depois caiu desacordado. O jogo continuou, e o Dempo se sagrou campeão do torneio interclubes, enquanto o brasileiro era hospitalizado.

Marcondes Brito
Enviado por Marcondes Brito em 24/09/2009
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