Passageiros da esperança

Outro dia, num vôo da TAM de São Paulo para Curitiba, tive como "companheiros" de viagem dois reservatórios climatizados contendo órgãos vivos para doações, encomendados pelo Departamento Estadual de Transplante do Governo do Paraná.

Foi uma sensação estranha. Passei a viagem inteira tentando imaginar que tipo de órgão estava acomodado nas poltronas ao meu lado. Um rim? Um coração? Medula óssea? Durante esse exercício mental, fui surpreendido pela aeromoça, oferecendo sanduiche de presunto frio com refrigerante. Recusei gentilmente.

O transplante é, sem dúvida, a salvação para milhares de pessoas com insuficiências orgânicas terminais. Qualquer pessoa pode doar órgãos. Nenhuma religião é contra a doação. Pelo contrário, todas apoiam. Para que se faça um transplante de órgãos - além da autorização da família - só importa a compatibilidade.

O Brasil se destaca mais que outros países pela escassez de órgãos para transplantes. Isso só vai mudar se houver um intenso esforço de educação de toda a sociedade, inclusive com a incorporação dessa temática nos conteúdos curriculares dos diversos níveis de ensino.

Quanto mais perto do destino, mais esperança para as pessoas que aguardavam aqueles "passageiros". Não consegui me concentrar em outra coisa durante o vôo, nem na manchete dos jornais de São Paulo que destacavam mais um escândalodo Senado Federal.

"Tripulação, preparar para o pouso" - avisou o piloto.

A simpática aeromoça conferiu os cintos de segurança das duas "bagagens" ao meu lado. Daqui a alguns dias - pensei - quando esse coração (ou seja qual for o órgão vivo que vai salvar uma mais vidas no Paraná), talvez o escândalo do Senado e de José Sarney já esteja até esquecido. Mas outros escândalos virão, com certeza.

Quem viver verá.

Marcondes Brito
Enviado por Marcondes Brito em 27/09/2009
Código do texto: T1833931