Intolerância
 
Você já parou para pensar no seu grau de tolerância em relação às pessoas com quem convive? Já tentou avaliar as suas reações diante dos acontecimentos diários? Pois é.Venho tentando fazer essa aferição.Como não há um "tolerômetro" no mercado , vou utilizando outros métodos como, por exemplo, a observação.

A cada dia tento aprimorar essa habilidade.E sempre que observo alguém perdendo a compostura com outra pessoa, sendo grosseira mesmo, me vem à mente um texto do dr Dráuzio Varela "A porta do lado", quando ele destaca a necessidade de se importar apenas com o que é relevante, deixando de lado as picuinhas da vida.Ele diz que já vem há algum tempo usando a porta de lado, que já não tem a pretensão de mudar o mundo.

No texto , o autor relata a situação prosaica de se estacionar um carro numa garagem de condomínio e como é estressante ,ao tentar sair da vaga, perceber que está preso porque o vizinho foi espaçoso e não estacionou direito.Brigar pra quê? Usa-se a porta do carona e pronto! (Mesmo que na primeira oportunidade a gente converse seriamente com o folgado para que ele perceba o inconveniente- isso é  meu e não do dr Drauzio.) 

Parece fácil, não é? Mas nem tudo que parece é de fato.Na realidade não é assim que funciona.Por qualquer coisinha miúda as pessoas já estão se engalfinhando, partindo pras vias de fato.E essa intolerância vai ganhando dimensão, vai contaminando as relações humanas de todo tipo.

Nas escolas a gurizada quer resolver as coisas no grito e na porrada, em casa pais e filhos se destemperam com facilidade, no trabalho o clima quase nunca é ameno.E na base de toda essa situação caótica reina a intolerância.

Ninguém quer conviver com a diversidade, nem religiosa, nem de gênero, nem de classe.As pessoas continuam apontando o dedo umas para as outras, ou praticando o bullying, ou o assédio moral, ou qualquer outra coisa que constrange, que diminui o ser humano e causa colapso social.

A intolerância é a propulsora dos grandes conflitos, inclusive os bélicos.Ela começa pequena, quase imperceptível, como por exemplo, alguém que insiste em "converter" um fiel, mesmo sabendo que ele já tem sua religião.E passa também pelo tratamento desigual que é dado ao aluno que aprende com mais dificuldade, ou à impaciência que se tem com um portador de deficiência ou com um idoso que já não tem a memória tão boa ou já não se locomove com rapidez.

Também é a intolerância que,de um forma ou de outra,destrói parcerias afetivas,casamentos,namoros,amizades que,pela falta de diálogo franco e racional,leva tanta gente ao degredo das mais lindas e genuínas emoções.

Por que o mundo sempre viveu grandes e intermináveis guerras?Por que os fundamentalistas estão dominando o planeta?Por que tantos homens e mulheres-bomba se autodestroem e levam consigo tanta gente? Dizer que todos os conflitos pessoais,políticos,religiosos ou existenciais são oriundos APENAS da intolerância,seria ingenuidade de minha parte,mas..

Quando não medimos as nossas ações individuais,quando não aferimos a nossa incapacidade de lidar com as nossas emoções e não nos percebemos como seres sociais e políticos,as nossas ações e/ou omissões serão contabilizadas de uma maneira ou de outra.

A violência não nasce do nada.Ela começa sempre na percepção que temos de nós mesmos e dos outros.Da capacidade de desenvolvermos os sentimentos da empatia e da sororidade.
 
É isso.Acho que a gente tem de tentar sair mais pela porta do lado, sem, contudo,perder a capacidade de nos indignarmos com o que realmente importa.


Em tempo: Quanto ao exemplo dado pelo dr Drauzio Varella,passei pela mesma situação algumas vezes e consegui sair pela porta do lado,me espremendo toda.No momento oportuno conversei com meu vizinho , que passou a estacionar o caroo de forma primorosa,deixando um espaço enorme pra mim.Ganhamos os dois.
amarilia
Enviado por amarilia em 28/09/2009
Reeditado em 02/11/2017
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