Confusão no japonês

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Sexta-feira à noite, fui com três amigos a um restaurante japonês no bairro da Liberdade, em São Paulo. Eu, José e Maria estávamos nos despedindo de Beto, que estaria voltando para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, no último vôo da ponte área naquele dia.

Levei-os num local que me foi apresentado por um colega de trabalho, um chinês de Hong Kong de nome Raul dos Remédios. Uma pessoa mais velha, conhecedora da comida oriental, que me introduziu nos mistérios e sabores da culinária japonesa. Raul dizia que era muito bom comer comida chinesa em restaurante japonês. O estabelecimento ainda fica numa pequena travessa da Avenida Liberdade, ao lado de uma das primeiras unidades do Colégio Objetivo.

O jantar transcorria num ambiente de cordialidade e alegria, como sempre acontece em reuniões de bons amigos. Dividíamos um sukyaki, após ter comigo peixe cru e outras iguarias da comida japonesa. Chamava atenção um vasinho e algumas tacinhas de porcelana típicas, destinadas ao saquê. Maria ficou encantada com o souvenir e achou que não havia problema nenhum em guardar o pequeno enfeite na bolsa. “Afinal, Beto, vai que sua esposa esteja lhe esperando no aeroporto, pelo menos você pode levar como lembrança para ela”, disse Maria.

Ao fecharmos a conta, a gerente (ou dona, não sei) do restaurante solicitou o vaso de saquê. Maria negou. Afirmou que não tínhamos pegado o vaso, pois não éramos ladrões de restaurante. Beto tentou ser mais ameno e pediu à senhora que incluísse o vaso no valor devido. A velha senhora japonesa não aceitou e se formou uma verdadeira “saia justa”. “Esperem até amanhã e comprem uma louça do estilo; amanhã é sábado mesmo! Lamento informar, mas as louças usadas pelo restaurante não estão a venda!”

A situação era extremamente incômoda e lamentável. Sabíamos que Maria tinha colocado o precioso vaso na bolsa. A japonesa disse: “ou devolvam ou chamarei a polícia para resolver este assunto! Por favor, abram as bolsas para que eu possa ver o conteúdo”. Maria retrucou: “as bolsas não serão abertas; a senhora pode chamar a polícia”. Ela acreditava que tudo acabaria em pizza, mesmo dentro de um restaurante japonês.

Doce engano de Maria! A confusão deu tanto pano pra manga que acabamos indo para a delegacia de policia mais próxima. Quando o delegado em decisão salomônica, convenceu a dona do restaurante a cobrar o vaso, e liberou todos os envolvidos.

A partir daí passei a tomar muito cuidado com todos cleptomaníacos de plantão, evitando dissabores como este que acabei de relatar. Infelizmente, não pude mais, e nem tive coragem, voltar ao restaurante que freqüentei durante anos.

Douglas Lara

19/06/2003 - 16:53

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 03/10/2009
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