D.S.A.D

Companheiros na mesma repartição de trabalho, “Resignado” e “Hediondo”, já trabalhavam juntos há muitos anos. Cada um com sua função e afazer bem definidos, ou seja, não desempenhavam o mesmo papel. Contudo os dois trabalhavam para conseguir o pão do fim do dia.

Hediondo era muito mais velho de firma e de idade, trazia na fronte muitos cabelos brancos e filhos já com mais de dezoito anos. Por sua vez, Resignado também já era pai e seus dois rebentos o faziam imensamente feliz. Mesmo ganhando salário três vezes menor que Hediondo, Resignado virava-se como podia e seguia sua vida em paz entre os muitos amigos que tinha.

Seus hábitos, crenças e costumes eram completamente diferentes. Resignado voltará a estudar pondo-se a fazer faculdade, enquanto que Hediondo usava seu tempo livre para assistir o domingo legal e decorar musicas do baú da felicidade.

Sem ninguém saber o verdadeiro motivo, Hediondo vivia a perseguir Resignado. Hora com um comentário maldoso, hora uma comparação desleal. Seu maior trunfo era falar em voz alta os erros cometidos por Resignado durante o trabalho, como se o próprio Hediondo não cometesse erros, como se o próprio Hediondo fosse perfeito. Contudo suas duras criticas, sempre foram com a ausência absoluta do amigo citado, Resignado nunca estava presente quanto havia os manifestos de Hediondo.

Comentários do tipo, “o cara não faz nada e quando faz, faz errado”, era constante. Mas Hediondo não se fazia por satisfeito e sua maior glória era o ato deselegante de dirigir-se ao superior hierárquico e delatar o companheiro de sala, por algum erro cometido, mesmo que isso não fosse de sua conta, mesmo que isso não fosse mudar em nada sua vitoriosa rotina nos jogos de paciência.

Talvez ser fofoqueiro e juiz da vida alheia fosse um dom primordial de Hediondo. Que fazia da sua maior qualidade o falar mal dos outros, que se promovia através do erro do “concorrente”.

Resignado, ao contrario do falso amigo, apenas ria e orava, para que tal infelicidade, um dia, não habitasse seu coração.

Esta historia é um fato verídico, onde apenas os nomes são fictícios.

Algumas pessoas, não compreendem as necessidades dos laços do companheirismo e do relacionamento amigável nas repartições de trabalho ou em qualquer outro lugar. Corações amargos e mentes revoltadas com situações alheias transformam atitudes simples, como as conversas banais de um local de trabalho, em atos de extrema falta de tato e cordialidade.

Ao ver os possíveis erros do companheiro, se é que realmente existiam, Hediondo poderia simplesmente alertá-lo para que a falha não voltasse a acontecer.

Neste caso fica claro, que Hediondo sofre de um novíssimo distúrbio crônico emocional, descoberto pelos pesquisadores de plantão, chamado de D.S.A.D. Distúrbio dos Sem Amigos e Desconfiometro. A pessoa que sofre desta moléstia tem como sintoma predominante à falta de sensibilidade nas ações, um profundo interesse pela vida alheia. A pessoa infectada pelo D.S.A.D, não consegue em hipótese alguma segurar a “língua” e passa a falar da vida dos outros sem antes enxergar a sua. Com esta impávida cegueira o individuo sofredor, pode acreditar ainda, que pessoas comuns, que sorriem com freqüência ou são bondosas por natureza podem ter sempre uma segunda intenção escondida ou ainda que pretendem tomar o seu lugar na sociedade ou mesmo no local de trabalho.

Felizmente esta síndrome não é contagiosa. Mas ela vive dentro de cada um de nós, adormecida, podendo explodir de uma hora para outra. Por isso, depende apenas de nos mesmo o nosso policiamento correto, para que o D.S.A.D não venha à tona.

Ao contrario de outras síndromes, onde o remédio é amargo e dolorido o D.S.A.D, possui um antídoto doce e indolor. Mas depende exclusivamente do contagiado sua manifestação de cura.

Conforme o ditado popular, árvore que nasce torta morre torta.

Talvez para o caso especifico de Hediondo, não haja mais cura.

Por isso é fundamental a nossa autocrítica, nos mínimos detalhes, sem medo de errar, mas com muita vontade de acertar, em qualquer área da nossa vida, no trabalho, na escola, no rol de amigos.

Caro leitor. Sejamos apenas juizes de nós mesmos, que possamos partir da premissa de sermos resignados, mas jamais hediondos.

Reginaldo Cordoa, futuro Administrador de Empresas e Apaixonado pela Vida.

22/06/2006

Reginaldo Cordoa
Enviado por Reginaldo Cordoa em 29/06/2006
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