O METADISCURSO INTERPESSOAL EM RESENHAS CRÍTICAS DE ESPECIALIZANDOS EM ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA DA FAFIDAM

Resumo: Este artigo procura, a priori, mapear e avaliar os marcadores metadiscursivos interpessoais utilizados pelos Pós-graduandos do Curso de Especialização em Língua Portuguesa da Universidade Estadual do Ceará de Limoeiro do Norte. Baseamo-nos no estudo do Metadiscurso Interpessoal de Hyland (1996; 1998; 2000) e na Teoria Sistêmico-Funcional de Halliday (1994; 2004), apenas para o tratamento dos adjuntos modais e na recente pesquisa de Bernardino (2007) sobre o Metadiscurso Interpessoal em Artigos Acadêmicos. O corpus que analisaremos possui 35 resenhas críticas produzidas na disciplina de Teorias Linguísticas, observaremos, cognita causa, como os autores dessa modalidade de gêneros acadêmicos constroem os significados interpessoais de posicionamento avaliativo ao redigirem seus textos de acordo com a realização de significação que os marcadores discursivos ocasionam na produção desses gêneros de domínio acadêmico.

Palavras-chave: Metadiscurso. Marcadores Discursivos. Resenha Crítica.

CONSTRUINDO OS POSICIONAMENTOS AVALIATIVOS EM RESENHAS CRÍTICAS

Conceituando a resenha crítica: uma questão de modalidade textual.

A resenha compreende um gênero textual que possui um papel essencial na divulgação de trabalhos entre a comunidade discursiva, bem como de obras em diferentes suportes e que, de uma maneira geral, pode ser vista como uma construção textual que oferece credibilidade ao trabalho desenvolvido pelos produtores/leitores de textos e de obras de uma determinada área. Sendo, pois, uma atividade que exige do produtor/leitor conhecimento sobre o assunto para estabelecer comparações e ainda maturidade intelectual para se fazer avaliações e proferir julgamento de valor.

O gênero resenha, em nível de caracterização linguística, é uma composição textual extremamente variável que influencia a formação de opinião de quem a produz, participando da criação de imagens sociais: valores estéticos, artísticos e culturais. Trata-se, pois, de um texto conciso, utilizado vastamente em jornais, revistas e livros. Isto significa que a resenha possui dois traços fundamentais: a) a informação: partindo do princípio de que o leitor não conhece aquilo que se vai comentar. Se for um livro, ela indica o assunto, a editora, o número de páginas, até o preço; se um filme, quem é o diretor, quem são, os atores, qual o tema, uma síntese da história; se um disco, quais as músicas, as condições de gravação, se uma peça, quem é o diretor, quem são os atores, entre outros. b) a opinião: a resenha emite julgamentos diretos sobre o assunto, em outras palavras, o leitor quer saber se o livro (filme, peça, disco, show...), é bom e por quê.

A resenha, por fim, é escrita de um dia para outro sobre um assunto que também existe de um dia para outro, um filme que entrou em cartaz, um livro que acabou de sair. Então, o caráter efêmero deste texto crítico é um traço elementar de sua natureza opinativa.

Segundo Motta-Roth (1998), as resenhas mais objetivas podem ser representadas por descrições mais práticas do conteúdo do livro, relacionando-o à área de modo geral, com uma avaliação menos clara. Os textos mais subjetivos são aqueles em que o resenhador expressa claramente sua visão pessoal, avaliando e destacando o valor da obra para a comunidade acadêmica e/ou para o leitor em potencial.

É preciso observar também que esses textos, além da voz do produtor, podem apresentar outras 'vozes' (polifonia) para descrever ou apresentar o conteúdo resenhado, ou seja, faz referências a outros textos, obras e autores. São as citações que validam e fundamentam os argumentos apresentados. Com esse intuito, lança mão dos verbos de dizer ou de citação, marcas linguísticas que contribuem para "avaliar negativa ou positivamente o trabalho citado". (Ibid, 2001, p. 61).

Oliveira (2007) acrescenta, per summa capita, que a resenha crítica acadêmica tem dois momentos, o resumo da obra e a opinião (julgamento de valor) do resenhista. No que concerne ao segundo momento, ou seja, para expressão da subjetividade na avaliação e julgamento de valor, temos que observar algumas regras básicas de polidez, para evitar agredir o autor do texto resenhado, marcadas por recursos linguísticos apropriados.

Finalmente, a resenha crítica na acepção de Lakatos (1986, p. 90) é uma descrição minuciosa sobre o conteúdo de uma obra. Consiste na leitura, resumo, crítica e formulação de um conceito permeado por juízos de valor feitos pelo autor da resenha. A resenha visa apresentar uma síntese das ideias principais de uma obra.

CARACTERIZANDO E DISCUTINDO O METADISCURSO INTERPESSOAL EM RESENHAS CRÍTICAS

Noção e categorização da análise do metadiscurso interpessoal

A noção de metadiscurso interpessoal utilizado por Hyland (1996; 1998; 2000), mostra-se como componente teorico-categórico para averiguar a construção de posicionamentos na produção de gêneros textuais acadêmicos, pois este autor, em grande parte da sua produção, dedica-se ao estudo do metadiscurso em exemplares de gêneros textuais que circulam na comunidade acadêmica. Isto significa dizer que para Hyland (1998), o metadiscurso interpessoal traz à baila os caracteres do texto que explicitamente sinalizam a atitude do autor em relação ao conteúdo proposicional e em relação à audiência. O metadiscurso é, portanto, essencialmente interacional e avaliativo. (BERNARDINO, 2007, p.16-17).

Hyland (1998) aponta cinco categorias que podem ser verificadas para a análise do metadiscurso interpessoal: hedges (marcadores de atenuação), emphatics (marcadores de ênfase), attitude markers (marcadores de atitude), relational markers (marcadores relacionais) e person markers (marcadores pessoais) . É fundamental para a compreensão do percurso realizado nesta pesquisa que se esclareça que esses marcadores metadiscursivos podem ser realizados por diferentes elementos léxico-gramaticais, mas que Hyland não se preocupou, em seus estudos, em estabelecer critérios para o mapeamento desses elementos do ponto de vista léxico-gramatical. Assim, busquei na teoria sistêmico-funcional de Halliday (1994/2004) o instrumental teórico-metodológico adequado para verificar e mapear quais elementos léxico-gramaticais são responsáveis pela construção dos significados metadiscursivos interpessoais em exemplares de artigos acadêmicos. (idem).

Desta feita, nesta pesquisa interessou, particularmente, o detalhamento da função interpessoal da linguagem apontada por Halliday (1994/2004), uma vez que é, principalmente, por meio dos significados interpessoais que os falantes se posicionam e dispõem seus interlocutores no ato da interação.

Referências

BERNARDINO, Cibele Gadelha. O metadiscurso interpessoal em artigos acadêmicos: espaço de negociações e construção de posicionamentos. 2007. 243f. (Tese de Doutorado em Linguística Aplicada). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2007.

___________. (org.). Redação acadêmica: princípios básicos. Santa Maria - RS: Imprensa Universitária/ UFSM, 2001.

MOTTA-ROTH, Desiree. Escritura, gêneros acadêmicos e construção do conhecimento. Letras, Santa Maria, RS: Mestrado em Letras; UFSM, n. 17, p. 93-110, 1998b.

______. Escritura, gêneros acadêmicos e construção do conhecimento. Letras, Santa Maria, RS: Mestrado em Letras; UFSM, n. 17, p. 93-110, 1998b.

OLIVEIRA, Marta Melo de. Plágio na Constituição da Autoria: análise da produção acadêmica de resenhas e resumos publicados na internet. 150f. (Dissertação de Mestrado em Letras). São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2007.

HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. New York, USA: Edward Arnold, 1994.

HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. An Introduction to Functional Grammar. London: Edward Arnold, 2004.

HYLAND, K. Writing without conviction? Hedging in science research articles. Applied Linguistics. v. 17, n. 04, p. 433-454, 1996.

___________. Persuasion and context: the pragmatics of academic metadiscourse. Jornal of Pragmatics. n. 30, p. 437 – 455, 1998.

___________. Disciplinary discourse: social interactions in academic writing. Singapura: Pearson Edacation Limited, 2000.

Jeimes Paiva
Enviado por Jeimes Paiva em 07/10/2009
Código do texto: T1852522
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