EM NOME DE DEUS

O primeiro livro que li com esse título tratava do possível assassinato de João Paulo I numa trama que envolveria a Loja Maçônica P2, o Banco do Vaticano e outras coisas mais. Como nem tudo em um ambiente tido como religioso é feito em nome de Deus, também no Vaticano muita coisa é feita em nome da Política, da Administração e também do lucro.

Neste mês de outubro, quando se celebra a festa religiosa católica Nossa Senhora Aparecida padroeira do Brasil. Também o Círio de Nossa Senhora de Nazaré que não se limita à cidade de Belém promove

manifestações em toda comunidade católica. A “concorrência” não fica de braços cruzados. Dezenas de programações “evangélicas” acontecem em todo o Brasil.

Isso tudo enquanto se discute, na esfera do governo, a obrigatoriedade do estudo religioso nas escolas públicas. Esse estudo obrigatório não permitiria proselitismo para nenhum tipo de religião. Meta difícil de ser alcançada, porque o ensino se limitaria à história e à filosofia passando à margem da doutrina. Para um estado laico, a proposta é um tanto arrojada. É provável que esse ensino tenha efeito exatamente contrário ao que pretendem as religiões. Possivelmente as pessoas adultas vejam com mais ceticismo o que os

pregadores apresentam como deslumbramento, uma vez que tiveram seu contato com as religiões nas escolas e nada vejam de novo no que é pregado nas ruas, ônibus e até em igrejas.

Não é do meu interesse tratar aqui das muitas maneiras que são usadas para despertar a fé ou para simplesmente ludibriar pessoas de boa índole ou desesperadas por situações que não conseguem resolver sozinhas. A corrida para as religiões é um fato mundial e cada vez mais pessoas vão a igrejas para ouvir um pregador falar aquilo que todos já sabem. Esse fenômeno não acontece apenas nas igrejas. Nos mais diversos encontros, assistimos palestras e work shops onde a principal preocupação dos palestrantes parece ser a de dizer uma porção de obviedades. A platéia sente-se inteligente porque descobre uma série de “afinidades “ com o que o palestrante diz. Trata-se não do que é dito, mas de como é dito. A gesticulação, o timbre de voz,

tudo metodicamente ensaiado, redunda num espetáculo onde a platéia vibra, embora, no dia seguinte, não se lembre exatamente das palavras que ouviu.

O turismo religioso é o que mais cresce no mundo. O que assusta são tantos eventos acontecendo sem nenhum planejamento científico. Neste final de semana assistimos uma concentração de pessoas no

Memorial dos Povos da Amazônia, a conhecida Bola da Suframa, que vem corroborar o que afirmamos. Milhares de pessoas atraídas por promessas de milagres se acumulando no local. O trânsito ficou tão caótico que foram necessários 40 minutos para que o motorista que circulava por ai circundasse a rotatória. Coisa que em dias normais de muito trânsito é feito em menos de 5 minutos. Foram planejadas rotas de ônibus fretados, mas não houve nenhum controle local para o trânsito fluísse. Nem um único guarda de trânsito era visível.

Todos os eventos, sejam qual for a motivação, deveriam ter a responsabilidade de um turismólogo, assim como toda planta de imóvel, deve ter um engenheiro responsável. A lei regulamenta encontros de grande público. Os que organizam movimentos religiosos pretendem estar acima disso, mas não estão. Até mesmo os encontros “em nome de Deus” devem obedecer a lei dos homens. Se não for por nada, que seja para fazer valer o ensinamento evangélico: “Dai a César o que é de César”.

Luiz Lauschner – Escritor e Empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 11/10/2009
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