Paulo Betti de Sorocaba - João Dias de Souza Filho

ARTIGO - [ 12/10 ]

Notícia publicada na edição de 12/10/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A.

A praça Cel. Fernando Prestes tinha contorno diferente, com coreto central e em cujo entorno, aos domingos, os jovens passeavam

Na minha infância a população da cidade girava em torno de 50 mil pessoas. Seus habitantes tinham usos e costumes de pacata cidade. As pessoas conheciam-se mais. Muitos mais. A cidade, vocacionalmente, cresceu. E cresceu alcançando o ponto a que estamos hoje: plena de progresso e, com um parque industrial moderno. Diversificado. A Sorocaba que detinha apelido de Manchester Paulista era pacata. As pessoas se conheciam mais e, nesse contexto todo, convivíamos com os tipos populares da cidade. Uns eram nervosos. Outros, nem tanto. Inocentemente divertiam-se e divertiam as pessoas.

Entre esses tipos populares, tivemos a Alzira que sempre viva sonhando com casamento e namorando pessoas conhecidas da cidade. O inocente João Três Pulos (bastava que se pedisse e ele dava três pulos). O bravo Dito Mato Grosso. O Jaboticaba, que vendia essa saborosa fruta, anunciando-a, cantando. Era da cor-da-jaboticaba.

Os limites urbanos eram mais próximos. Assim, por exemplo, o caminho da Capital, era balizado pela Raposo Tavares, começando um pouco além da Árvore Grande. No oposto geográfico da cidade a saída para o Paraná, era pela General Carneiro. O referencial limítrofe, era o Largo dos Oliveiras e, depois, saía-se da cidade pela então chamada, avenida Curitiba, que é a atual avenida Armando Pannunzio. A avenida General Osório tinha o apelido de Caminho Fundo, porque era ladeada por barrancos. Por isso é que o caminho era fundo. A rua Nogueira Padilha, era conhecida pelas gerações de então, como a rua dos Morros. A igreja do Bom Jesus localizava-se onde atualmente está o Ginásio Municipal de Esportes.

O serviço de bonde servia, o Além-Ponte, fazendo percurso que melhor atendia aos munícipes. Dava suas voltas pelas ruas do bairro dos morros. Nos domingos muita gente ia dar volta de bonde. Nesse tempo, Péricles Pilar, ainda não era nome de rua. Era, isto sim, o titular do Primeiro Cartório de Registro de Imóveis de Sorocaba, que funcionava a Rua da Penha, na vizinhança do atual prédio da Biblioteca Infantil.

Péricles, era descendente de Olivério Pilar e, além de ser competente Oficial Maior do Primeiro Cartório de Registro de Imóveis, era um flautista exímio. Cidadão probo.

A praça Cel. Fernando Prestes tinha contorno diferente, com coreto central e em cujo entorno, aos domingos, os jovens passeavam. Era o centro social e religioso da cidade, contando com o serviço de alto-falante do Emígdio Santana. Música, notícia e anúncios comerciais, constituíam a grade desse serviço.

Esse resumo informativo, que ilustra este artigo, veio na esteira de uma das edições do programa do Jô Soares, levada ao ar na semana passada, quando ali compareceu o nosso quase conterrâneo Paulo Betti, consagrado homem de cinema, teatro e empresário. Betti foi ao programa para ser entrevistado e dar notícia de um seu empreendimento, que começa a funcionar no Rio.

Em meio à entrevista Betti falou de Sorocaba. E, falou muito bem, discorrendo sobre aspectos de sua vida. Ele não é sorocabano de nascimento. Nasceu em Rafard e veio para nossa cidade, ainda pequeno. E aqui viveu bom tempo, o que lhe dá boas recordações. Passou sua infância na Vila Leão. Sua antiga casa ainda está por lá, na rua Caramuru sediando uma ONG, denominada Quilombinho, voltada para atividade de promoção sociocultural.

E, no contexto de sua infância e adolescência entre vários fatos que contou, recordou sua passagem pelo então recém implantado Colégio Salesiano São José. Sabe-se, de outro lado, que essa denominação teria sido dada como forma de homenagem a Dom José Carlos de Aguirre, nosso primeiro bispo e que foi aluno dos Padres Salesianos, em São Paulo. Dom Aguirre, conhecia bem os Salesianos e, trazendo-os, para Sorocaba, concretizou um grande sonho de Pastor.

Nesse programa do Jô Soares, o Paulo Betti fez uma bela promoção de Sorocaba. Mostrou-se uma pessoa muito grata à cidade pela sua história de vida e sua ligação sentimental com a comunidade. Aqui ainda moram seus familiares. Pessoas de bem, estimadas por todos que, os conhecem. Conheço-os. Gente humilde, na melhor acepção da poesia de Vinícius de Moraes, Canhoto e Chico Buarque.

Recorde-se o apreço do Paulo Betti para com nossa cidade, através da produção do filme em que enfocou o misticismo histórico de João de Camargo, com lançamento feito em Sorocaba. É com prazer que se registro esta sequência de fatos sobre a vida de Paulo Betti. Em não sendo sorocabano de nascimento, por sua vida, por seus sonhos e ideais de homem bom, é um dos nossos.

Ainda a propósito desta entrevista, foi recordada, também, a figura de Anselmo Duarte, um dos maiores atores do Cinema Nacional. Saltense de raça e de fibra, que vive em sua cidade natal, cercado do respeito e estima de seus concidadãos.

João Dias de Souza Filho escreve quinzenalmente neste espaço.

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 12/10/2009
Código do texto: T1861696