* * * Uma aula de TV * * *
Parece não ter perdido a atualidade um memorando de Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ainda como Vice-Presidente de Operações da Rede Globo, expedido em 2 de abril de 1987 a Daniel Filho, na ocasião diretor da Central Globo de Produções, com copias para outros diretores.
"Ref.: Qualidade Visual
A tela da televisão é pequena (hoje, para a grande maioria dos brasileiros continua sendo). A transmissão e recepção estão sujeitas a variações constantes de qualidade, dependendo de local, antena e até do televisor. Em casa, o espectador está cercado por telefone, crianças etc. Assim, o veículo exige uma linguagem especial que pode ser resumida na simplificação da imagem para que a leitura seja clara, direta e livre de elementos perturbadores. Do ponto de vista da composição visual - cenários, móveis e objetos de cenas e roupas - existem padrões internacionais estabelecidos e que conseguimos aplicar na Globo por muitos anos. Como eles parecem estar esquecidos, é bom rememorá-los:
1) Cenários
A - contrastes fortes são rigorosamente proibidos em qualquer caso. Cores básicas claras e tons "pastel" são fundamentais.
B - não se admitem listras verticais, paredes florais ou desenhadas.
C - Divisões horizontais de pintura só são aceitas com réguas divisórias. Entre paredes e pisos, usar rodapés ou outros detalhes de acabamento.
2) Mobiliário
A - devem ser evitados móveis de madeiras escuras
B - devem ser evitados estofados estampados, especialmente os "florais" ou listrados. Quando forem absolutamente necessários não poderão ser berrantes ou contrastados, preferindo-se os "ton-sur-ton".
C - evitar o excesso de móveis em cena
3) Objetos de cena
A - evitar o uso exagerado de objetos de cena, preferindo-se somente o essencial.
B - Ao caracterizar ambientes e classe sociais, evitar elementos óbvios como "pinguins", "São Jorge", cortinas de contas e outros penduricalhos.
4) Roupas
A - devem ser evitados o uso de xadrez e listrados, dando-se preferência a cores lisas mesmo nos vestuários de classes sociais "C" e "D".
B- evitar o uso de estampados de forma geral e, quando necessário em alguma produção, evitar que vários personagens usem este tipo de vestuário na mesma cena.
5) Geral
A - mesmo em produções de época ou regionais, as roupas devem ser simplificadas, evitando-se a caricatura de classes sociais ou rurais. Em televisão a linha "opereta" não funciona para produções de "época" e nem o "neo-realismo" é adequado às produções de atualidade.
B - planos gerais devem ser usados somente para localização. Primeiros planos, closes e extreme-close-ups são recomendados."
Voltando aqui ao nosso cotidiano: passados mais de 22 anos e em tempos de TV Digital, por acaso existe alguma coisa mais lógica ou atual para a televisão de hoje em dia?
Este memorando, antes de ser um documento histórico, pode ser de enorme utilidade para os que hoje estão à frente das nossas emissoras.
*Da coluna de Flávio Ricco, na Internet.