JESUS - IMAGINÁRIO

Originado de mutação genética, frágil em todos os sentidos desta palavra, o ser humano é possuidor, a nosso ver, do mais sofisticado sistema orgânico até então desenvolvido pela natureza.

O sistema nervoso central, cujos traços aparecem desde os seres unicelulares, vai se especializando e tomando formas ao mesmo tempo em que adquire artifícios de proteção até chegar à tripla camada, dura mater, aracnóide e pia mater, o líquido cefalorraquidiano, as estruturas ósseas e as bainhas de mielina.

Desse conjunto há que se destacar o neo-córtex responsável por nossa capacidade inventiva, nossa faculdade de produzir artefatos e de imaginar coisas abstratas. E é a partir da imaginação, do medo e da necessidade de proteção para a perpetuação da espécie que nascem as grandes invenções que ainda assim são incapazes de dar a proteção que o ser humano imagina para si desde quando vivia em cavernas.

Uma das invenções quase tão bem sucedidas quanto à roda, é a criação de deuses. Esses “seres” imateriais, originalmente ligados aos astros e aos fenômenos naturais (desnecessário elencá-los) garantem proteção desde que o fiel cumpra alguns pré-requisitos.

A organização das sociedades humanas fez surgir a figura dos sacerdotes, elos entre as divindades e os iniciados, que para se manterem em tal status, esses espertos, foram criando regras as quais em sendo obedecidas garantem vida tranquila ao mesmo tempo em que o não cumprimento dá o contrário. Talvez a maior dessas falácias, seja a vida post mortem com suas consequentes reencarnações, condenação ou glória eternas.

A pluralidade de ideias aliada à liberdade de pensamento nos dá, nos dias atuais, essa babel de religiões ritos, crenças, amuletos e orações.

A evolução da sociedade humana passa obrigatoriamente pelos mesmos modelos de comportamento das diversas fases da vida do homem, desde criança até a idade adulta. (há os que permanecem nas formas mais primitivas de proceder).

Obedecendo ao hábito extrativista, inerente à nossa espécie, o ser humano procede como bárbaro. Toma posse daquilo que quer e destrói tudo aquilo que, de alguma forma possa impedir a sua satisfação.

Nessa fase o ser humano é politeísta. Um deus para cada coisa, para cada manifestação natural.

Surgem os panteões, o olimpo, o nirvana etc.. Nessa fase era fácil conciliar a crença. Se um deus castigava, outro dava proteção enquanto o fiel providenciava um “sacrifício” para por no fogo: um ser humano; a carne do prepúcio dos inimigos; um boi; uma pomba; um incenso ou qualquer coisa capaz de acalmar a fúria do deus ofendido.

Deuses ferozes e mansos povoaram por muitos séculos o imaginário até que algum fiel mais influente resolveu que seu deus era maior que os demais e espalhou a ideia do monoteísmo.

Um só deus para tudo.

Antes o ser humano podia esconder-se do deus enfurecido, podia criar ciladas onde os deuses cairiam ou fugir das consequências nefastas do seu atrevimento.

Agora não mais.

O monoteísmo trouxe consigo a ideia da onipresença, onisciência e onipotência tudo reunido, e de uma só vez, num único deus que tem que ser ao mesmo tempo violento (o deus dos exércitos, o deus da vingança) e manso, bondoso, benevolente.

Surge então a ideia de separação das eras, que se iniciam com as tribulações e as guerras, passando depois para a benevolência. O perdão é simbolizado no “sacrifício” único, capaz de resgatar todo e qualquer fiel (desde que obediente aos cânones), para desembocar na era do prazer, da paz e da comunhão universal.

A era de aquário.

O costume da dominação do ser humano sobre todas as coisas, inclusive seu semelhante, está explícito em todos os escritos, dando margem às castas veladas, ou não, e a consequente escravidão.

Dentre esses escritos, destaque para a bíblia (relato histórico e código de ética do povo judeu) que tem início mais ou menos 4500 anos A P, quando Abrão sai de Ur, na Caldeia, para invadir o que chamou de Canaã, na margem oriental do Mediterrâneo.

Seus primeiros livros (o Pentateuco) atribuídos a Moisés é a síntese da tradição oral de muitas gerações passada para a forma escrita, pois sendo Moisés filho, adotivo(?), da irmã e esposa do faraó Set, aprendeu a escrever e deu uma versão, digamos conveniente, ao seu surgimento no meio da família real.

É sobejamente conhecida a historinha da cesta de vime contendo a criança, presa entre os juncos, encontrada pela irmã do faraó.

[No meu entender, esse “achado” da mocinha, está mais para “cajado” judeu entre as pernas dela do que cesta de vime entre os juncos].

A crença egípcia estava focada no deus "Amon" representado pelo sol e que é o deus maior em quase todas as religiões, (pois é desse astro que provém a energia sem a qual a vida, tal como a conhecemos, é quase impossível), então Moisés une a sua antiga crença em Amon à luz sem forma, causticante e inatingível ao monoteísmo judeu, do deus sem nome, sem forma, que também como o sol, é inatingível pelo ser humano e que se manifesta através de fogo. (vide episódio da sarça ardente).

É bom lembrar que no desenrolar da história da crença egípcia, houve diversas tentativas do culto ao deus único. (Tutancâmon é um bom exemplo).

Passada a primeira fase, a fase da implantação, onde há que se destruir para, qual Phoenix, surgir das cinzas da antiga crença, uma crença nova, melhor, mais branda, mais palatável.

É a partir desse instante que surge a ideia do salvador, aquele que através do sacrifício pessoal, único, seja capaz de fazer a redenção da humanidade e levá-la para a era o reino do verdadeiro amor, fraterno e pleno de paz.

Então se sintetiza em torno do nome Jesus, o arquétipo do comportamento ideal, através da doação total e do desapego aos bens materiais.

É, talvez, a busca inconsciente ao princípio tribal do bem comum, da não propriedade privada.

Obviamente que a luz do sol (a luz branca) que desde as cavernas tem o poder de afastar feras de hábito noturno, as almas penadas, os lobisomens e todas as manifestações bestiais, que povoam a mente humana desde sempre, teria obrigatoriamente de estar com Jesus – a luz branca de cristo.

Em torno de 80% do nosso relacionamento com o ambiente se dá através da visão, daí a importância da luz em nossas vidas:

o farol para os navegantes;

o fogo do conselho;

a candeia para o beduíno;

as velas para iluminar a alma ao abandonar o corpo material.

Agamenon conseguiu vencer a guerra de Tróia, graças a tocha agitada no alto da torre, pelos gregos que estiveram escondidos no cavalo de madeira.

Apesar de todo seu potencial imaginativo, o ser humano, tem a primitiva necessidade de materialização dos seus ídolos.

Aquele bezerro de ouro, fundido no deserto do Sinai, agora tem forma humana e se chama Jesus, e a ele se atribuem os exemplos de aceitação das falhas humanas, da paciência com os ignorantes, do bom exemplo para as crianças, a cura para as doenças, o amor indiscriminado, a não violência, a paz.

Através dele se reforça a crença de que a vida continua apesar da morte do envoltório material, na comunhão com o cristo cósmico, apregoado pelo jesuíta paleontólogo Teilhard Chardin.

A ideia do salvador único tem base na seita judaica dos messiânicos que supunham o messias, restaurador da autodeterminação do povo judeu, naquele tempo, subjugado pelos romanos, nasceria de uma virgem e essa historinha é propagada a partir da visita de um “anjo”.

A esse messias são atribuídos feitos extraordinários como transformar água em vinho, curar cegos, leprosos, aleijados, libertar pessoas das forças demoníacas, multiplicar alimentos, ressuscitar mortos, acalmar tempestades, andar sobre as águas etc. além de muitas lendas sobre sua própria ressurreição, tudo isso tido como verdade absoluta e devidamente manipulado por Constantino quando assume o cristianismo no intuito de salvaguardar o império romano em franca decadência.

A manobra deu tão certa que até hoje o império está de pé, obviamente com outra denominação.

Até hoje não foi encontrada qualquer prova documental da existência de Jesus, de sua vida, suas pregações, seus feitos.

O que há são relatos de iniciados, devidamente monitorados, todos eles carentes de fontes fidedignas que lhes dêem autenticidade.

Apesar de habitarmos em apartamentos, cada vez mais modernos e cercados de artefatos tecnológicos frutos de nossa capacidade criadora, de termos chegados à nanociência e de estarmos a um passo da decodificação do DNA, continuamos presos ao medo ancestral da morte e alimentamos, infantilmente, a falácia da imortalidade, pois é “inaceitável para quem tem tanto potencial” viver só o tão pouco tempo que a natureza reservou para nós, os Homo sapiens sapiens.