CIVILIDADE

A revista Veja da edição passada nos presenteou com um texto lúcido, atual, sensível em que abordou a CIVILIDADE, algo simples, porém cada vez mais esquecido em nosso mundo caótico.


Ultimamente, vários grupos e organizações têm demonstrado uma crescente preocupação com o Planeta. São cuidados com a natureza, com os animais etc. No entanto, não vislumbramos um movimento marcante na direção do Ser Humano. Podemos ter zelo com a natureza e com os protegidos de S. Francisco, os animais, sem ignorar nossos semelhantes. 


Cada vez que azedamos o dia do outro, prejudicamos o Planeta. Quando gritamos com alguém, promovemos poluição sonora, impregnamos o ar com negatividade e afetamos a saúde da nossa vítima e dos que foram obrigados a nos ouvir.


Promovemos poluição sonora no Planeta quando, no trânsito, buzinamos desnecessariamente, sem contar os xingamentos de praxe de alguns motoristas.


Quantas vezes fomos responsáveis pela elevação da pressão arterial do nosso semelhante? Em quantos momentos causamos mal-estar desnecessário em nosso irmão apenas porque não fomos civilizados?


Chega de fazer uso da Lei de Gerson. A vantagem está não em ludibriar o outro, mas sim em se sentir Gente, em valorizar a própria Dignidade.


Chega da Síndrome de Gabriela: eu sou mesmo assim. Não! Ninguém é obrigado a aceitar a falta de educação do outro, seu descontrole emocional, seu estilo grosseiro camuflado na tal “sinceridade” que permite ofender, agredir.


Mas o que é Civilidade? Não querer furar a fila. Devolver o troco errado. Não pegar o que é do outro. Já reparou que há muitos furtos promovidos por quem não se acha usurpador? É só esquecer algo minimamente interessante em algum lugar que alguém já chama de seu, sem peso na consciência. O que assim agiu tem ojeriza ao personagem do artigo 155 Código Penal. Mas o que ele fez, afinal? O que o diferencia do outro é apenas o fato de que ele não está rotulado porque se esconde no anonimato.


Civilidade é a elegância nos gestos, nas atitudes, no modo de agir com o outro. De que adianta alguém está com a roupa impecável e, no entanto, guardar a cadeira vizinha para algum retardatário, em detrimento de alguém que está em pé? Não há figurino que resista a esse ato deselegante.


Por que gritamos com o outro que está tão próximo de nós? Isso ocorre quando nossos corações se distanciam um do outro e, aí, já não somos capazes de ouvi-lo, diz um poeta acertadamente.


O Planeta agradece os atos de civilidade tão simples e cada vez mais esquecidos. Eis alguns desses atos que fazem a diferença: saudação, cumprimento, pedido de desculpas, agradecimento, um sorriso apenas, um doce olhar, um ouvido atento.


Não há autoridade por mais preeminente que seja que possa estar isenta da Civilidade. Há um manual apócrifo que ensina ser desnecessário cumprimentar as pessoas desconhecidas (no elevador, por exemplo), ignorar os menos favorecidos socialmente. Há, inclusive, tese acerca das pessoas que se tornaram invisíveis para nós, simplesmente porque não as enxergamos.


De onde nos vem a perversa superioridade que nos impulsiona a ignorar alguém? Civilidade é dar um bom-dia não só ao chefe, ao colega de sala, mas também aos que nos servem o cafezinho no trabalho, aos que varrem a nossa sala.


Civilidade é responder, ao menos vez ou outra, a um e-mail enviado por um amigo. Afinal, naquele momento ele se lembrou de você. Faço aqui ressalva apenas para as correntes que tumultuam nossas caixas de correspondência.


Elegância é devolver a ligação de um amigo. Elegância é ouvir o outro cometer um erro (seja de português, seja de conhecimento geral etc.) e não esboçar aquele riso que humilha.


Há uma elegância sublime: não ter vergonha de ser feliz, de fazer o outro feliz. O saudoso Gonzaguinha cantava: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz.”


Não temos vergonha de ser grosseiros, desatentos, arrogantes, orgulhosos. Não temos vergonha de fazer mal ao outro. Não nos intimidados em estragar o dia de alguém. Contudo, a incontinência verbal sempre tão pródiga em nosso descontrole emocional, desaparece quando precisamos pedir desculpas.


Temos vergonha de pedir perdão. Não conseguimos dizer ao outro que ele é especial, que nos faz bem. Nossa mão está pronta para o ataque. No entanto, o braço se torna curto para alcançar o outro com um gesto de carinho.
Somos apressados para agredir, porém lentos para dizer algo consolador.

O abraço não precisa de data especial: natal, passagem de ano, aniversário. Abrace mesmo sem razão aparente. Faz bem ao coração. Demonstre para o outro seus elevados sentimentos.

Sinta vergonha de ter raiva, não amor. Sinta vergonha de não ter contido a língua na hora de ferir, não de declarar sua afeição.


Atitudes simples, que não custam nada, podem tornar o ar do nosso Planeta menos poluído. Chega de viver a cartilha errada, em que podemos gritar com o outro a qualquer momento, mas só nos permitimos abraçar nas datas comemorativas.


Nunca esquecerei as lições expostas por  Mith Albom em seu livro A Última Grande Lição. Portanto, que ninguém venha com discurso bobo para mim depois que eu estiver fria e surda. Que fale enquanto eu posso ouvir e sentir. Depois, será tarde demais.


Aos que leram esse texto, recomendo a leitura de outra peça de minha autoria, nessa mesma linha de pensamento, DATAS ETERNIZADAS, no blog www.iara22maria.blogspot.com e no site www.iaramesquita.recantodasletras.com.br em 16 de maio de 2009.


Texto escrito às 7h05min do dia 08 de novembro de 2009.


Iara Mesquita.