Combustível imbatível

Todo aquele que se destaca no grupo social, de imediato passa a experimentar críticas e dissabores. Chamando a atenção, provoca inveja e desperta os instintos competitivos vigentes na massa graças aos quais, enfrenta aguerrido combate.

Se é portador de ideais superiores, logo vai taxado de louco, por colocar as suas ambições acima das vacuidades, renunciando às quinquilharias transitórias em favor das metas almejadas. Raramente se faz aceito de imediato, tornando-se-lhe necessário o testemunho quando não se lhe impõe a imolação.

São, no entanto, esses homens e mulheres audaciosos – que não temem as críticas ácidas nem a perseguição contumaz – que precipitam o progresso, abrindo espaços iluminados para todos aqueles que vêm depois.

Ridicularizados no início, passam como objeto de chocarrice, para depois impressionar pela sua tenacidade e impor-se, finalmente, pelas realizações e amor.

Vitalizados pelo combustível da afetividade, são imbatíveis, desde que legítimos se apresentem os empreendimentos em tela, alterando o “status” da sua época e conclamando os demais à renovação interior e ao cumprimento de nobres deveres.

O mundo entroniza com alegria os histriões e os vândalos, os corruptos do poder e os ilusionistas, porque a realidade desagrada aos equivocados, por despertá-los para compromissos de alta gravidade.

Porque se encontram conscientes da tarefa a executar, os idealistas não cedem, não se atemorizam, nem recuam. Passo a passo avançam, e quanto mais dificuldades enfrentam, mais resistências adquirem.

O cristão, no atual contexto social, é alguém deslocado, se pretende ser autêntico, e se deseja desincumbir-se bem dos compromissos que lhe dizem respeito.

Diante de uma ética permissiva e de valores equívocos quão secundários, ele vê-se na encruzilhada de difíceis decisões. Enquanto a grande maioria corre, desenfreada, na busca do prazer sensualista, ele opta pela conquista da paz interior; enquanto os avaros acumulam coisas a que emprestam valor e utilidade preciosa, ele reparte; enquanto a disputa pelos aplausos cresce cruel, ele se oculta para servir, trabalha para ajudar, e se as circunstâncias lhe exigem comparecer sob o ofuscar dos refletores da vaidade terrestre, não se jacta, nem se ensoberbece, buscando prosseguir inalterado e confiante, porque sabe relacionar o êxito de uma hora com o insucesso de longo curso.

Tem sido sempre assim. Antes, pensava-se que a morte e o cárcere seriam os meios eficazes para silenciar-lhe a voz. Com o avanço, porém, das legislações – embora ainda permaneçam muitas práticas atentatórias à justiça e aos direitos humanos – as técnicas coercitivas se modificaram, permanecendo a mesma perversidade, agora disfarçada com maneirismos sociais elegantes, mal ocultando o desprezo e a zombaria que preservam no íntimo.

Desde que não espera ser compreendido, mas auxiliar em qualquer circunstância, o cristão percebe que o seu é o caminho da solidão, qual ocorreu com o seu Mestre e, por isso, não permite que depereçam o entusiasmo nem a fé na sua conduta.

O mundo e os seus habitantes avançam para a Grande Luz, dominados pelo divino tropismo. E essa extraordinária saga se concretizará, quando as criaturas, forjadas nos ideais de enobrecimento, deixarem de aceitar os exploradores das massas, os gananciosos e astutos, exigindo transparência e cristalinidade naquelas cujas vidas sejam dedicadas à governança da sociedade.

Nesse cenário, o cristão autêntico se destacará pela fidelidade ao bem, pela abnegação e pela renúncia a si mesmo, a fim de que todos saibam que Jesus está com ele, conforme se encontra no leme da barca terrestre.

Nota do autor: O presente texto, que adaptamos para a coluna, é de autoria de Joanna de Angelis, que transcrevemos na íntegra para os leitores e foi publicado originariamente com o título Idealismo sacrificial, constando do livro Fonte de Luz.

Orson
Enviado por Orson em 11/07/2006
Código do texto: T191814