Dias de fúria e de dor

Aconteceu novamente.Um bebê de seis meses foi esquecido dentro do carro pela própria mãe.Quando ela lembrou do fatídico esquecimento, nada mais pôde ser feito.A filhinha não resistiu à exposição por tanto tempo ao calor e à falta de ar e veio a falecer.Parece surreal.É trágico demais.Dá pra tentar se colocar no lugar da mãe?
Quando o episódio apareceu na televisão, várias pessoas se manifestaram sobre o caráter dessa mãe.Ela era extremamente zelosa e preocupada com as filhas.Já tinha até feito uma reserva de passagens aéreas para uma viagem de fim de ano para não sacrificar as meninas( eram duas) numa jornada longa de estrada, principalmente o bebê.Essa comprovação torna ainda mais absurda a situação.Se tal fato acontece com uma genitora amorosa e cuidadosa o que se pode esperar de uma boa parcela que não consegue oferecer ou não tem condições de dar os cuidados necessários a sua prole?
Tempos atrás , um bebê foi salvo na Lagoa da Pampulha em Belo Horizonte.O fato chocou o país inteiro.Depois disso houve uma proliferação de recém-nascidos jogados em lata de lixo, pela janela, abandonados à própria sorte.É possível fechar os olhos a uma barbárie como essa?
Tento me colocar no lugar dessa mãe.O que leva alguém a se escravizar pelo trabalho a tal ponto que chega a esquecer o seu bem mais valioso? Que exigências perversas do capitalismo tiram o direito da mulher de cuidar dos seus rebentos sem culpa, sem se consumir no mercado de trabalho em detrimento da tarefa maior de CRIAR?
Que preço alto temos que pagar para subirmos na pirâmide social e poder viver condignamente?
Poderia estender minhas dúvidas, fazer um amontoado de indagações que é bem do meu feitio quando me vejo perplexa com alguma situação.Mas creio que de nada adiantaria.So sei que o peso sobre os ombros da mulher continua pesado demais.A sua independência foi conquistada a ferro e fogo.A multimulher está aí, fazendo de tudo e mais um pouco e não raramente, sozinha.Sem o homem ao lado.Conquista real? Pode até existir.Mas acho que temos que repensar algumas coisas.Em que lugar, em que ponto da caminhada ficou a esperança? Onde os sexos se tornaram opositores ao invés de complementares ou parceiros amorosos?
Está faltando AMOR de verdade.Está faltando companheirismo, mãos dadas,divisão de responsabilidades.
Por mais que as pessoas insistam em decantar os avanços da ciência, tenho receio pelo desaparecimento da humanidade.Insiminação artificial, produção independente,liberdade sexual cada vez mais cedo, ausência total de limites...
E a vida vai se tornando cada vez mais barata.Os bebês vão sendo esquecidos, abandonados, descartados.Onde estão as mães, e os pais? Eles existem na história?
Que Deus proteja essa mãe .Que ela consiga seguir sua vida , cuidar da outra menina e aliviar a cada dia o peso que deve durar por muito tempo em seu coração.
E a gente tem de seguir acreditando que alguma coisa vai mudar para melhor ,para que a fúria que compõe a vida moderna possa se arrefecer aos poucos, à medida que as pessoas não se deixem alienar pelas imposições de uma carga de trabalho exorbitante, que deixa todos imersos num estresse que só gera violência , tragédia e dor.